Turismo de compras: Argentina cara faz ‘hermanos’ invadirem o Brasil

Por Luciana Taddeo

 

“Estão indo comprar?”, pergunta a agente da aduana argentina na fronteira com o Brasil. O motorista diz que sim, e ela o deixa passar para a ponte que conecta os dois países. Sem nenhum controle migratório do lado brasileiro, o residente de Paso de los Libres, que faz divisa com Uruguaiana, entra na cidade gaúcha.

É o horário do almoço de um sábado de fevereiro, e as filas, engrossadas principalmente por argentinos que rumam para as praias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, são imensas e chegam a quase quatro horas de espera. A fila preferencial dos residentes da fronteira é um alívio para os “librenses”, que cada vez mais recorrem ao Brasil para comprar alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza. “Os produtos aqui saem pela metade do preço em relação à Argentina. Compro tudo, sabão em pó, arroz, bolacha”, diz a contadora argentina Florencia Del Bove, que atravessa semanalmente a ponte que liga os dois países para se abastecer em um hipermercado de Uruguaiana.

No carrinho, a contadora colocou macarrão, temperos, produtos de higiene pessoal e de limpeza, óleo de cozinha, e até um esfregão e uma air fryer. Também tem leite longa-vida, que neste hipermercado de Uruguaiana está R$ 3,8, quando em um supermercado de Paso de los Libres ronda R$ 9.

Consumidor conta dinheiro antes de comprar frutas em Buenos Aires. Crise econômica na Argentina gera turismo de supermercado de países vizinhos.  Crédito: Reuters/Agustin Marcarian.

 

 

Mesmo com o custo da viagem, os bate-e-voltas quinzenais, cada vez mais comum dos moradores de Paso de los Libres para fazer supermercado no Brasil, representa uma economia de cerca de 50%. A diferença se explica por uma conjunção de fatores. Por um lado, a brusca diminuição da inflação – de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em dezembro de 2024 – ocorreu sobre preços extremamente elevados.

Os ‘dias de rico’ dos brasileiros O show de tango costuma ser um programa “obrigatório” na primeira visita turística a Buenos Aires. Mas quase ficou de fora da viagem do pedagogo Bruno Pontes e da enfermeira Sabrina Rosário, casal de Resende, no Rio de Janeiro, por causa do preço da entrada, na casa dos R$ 700 por pessoa.

Para não deixar de ver o show, o casal teve de pesquisar opções e achou um por R$ 500 para cada, valor que se adequava mais ao orçamento da viagem. Se estivessem viajando em 2023, porém, eles provavelmente gastariam metade, ou menos, desse valor. E a entrada para o show não foi o único susto dos dois na Argentina: eles já gastaram R$ 15 em um refrigerante de 600 ml e R$ 35 com transporte por aplicativo do bairro de Palermo ao da Recoleta, num trajeto diurno que, garantem, sairia metade do preço no Brasil.

Fonte: Agência Estado

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *