Presidente da Embratur afirma que o turismo é a grande solução para o Rio

Por Cláudio Magnavita

O presidente da Embratur, Vinucius Lumertz, tem sido o grande gestor do processo de mobilização do Governo Federal para ativar a imagem do Rio de Janeiro no período pós Olímpico.

 

O Rio de Janeiro continua lindo mas, conforme Vinícius Lummertz, precisa da sustentabilidade econômica para sair da crise. Foto: Divulgação

 

Cláudio Magnavita: Vinícius, como você vê o quadro do Rio de Janeiro e principalmente nesta questão da recuperação da imagem do turismo internacional?

Vinícius Lummertz: O turismo é a saída que o Rio de Janeiro tem de sustentabilidade econômica para sair da crise. Os investimentos em ativos que fizeram no Rio precisam retornar. Não precisam ser feitos, precisam dar retorno. E nós estamos trabalhando nesta direção para devolver isso ao Rio nacionalmente e internacionalmente, em parceria com o Ministério do Turismo. Existem projetos concretos, como o da Prefeitura, que precisa ser aprovado pelo Governo e incorporado no projeto de segurança federal, que darão segurança para permitir que o fluxo de turismo no Rio de Janeiro. Nós estamos trabalhando também, junto com sociedade civil do Rio de Janeiro, a criação deste supercalendário de eventos, principalmente na Barra, que tem o Riocentro e uma hotelaria que precisa ser ativada. A questão da segurança é um marco de referência, só que de longo prazo. O Rio de Janeiro, durante muitos anos, vem se adaptando lentamente as condições que outras cidades consideravam anômalas; e outras cidades do Brasil poderão seguir o mesmo ritmo, porque nossos índices de assassinato e de crime no mundo são absolutamente irracionais. Eles são de 80% de crimes do planeta. Então, isso é absolutamente fora de qualquer propósito e o que demostra que nós adaptamos a coisa errada por esse politicamente correto.

 

 

O presidente da Embratur prega uma mudança de postura do Governo Federal, em relação ao Rio de Janeiro. Foto: O Progresso

CM: É até a metáfora da rã que você cita?

VL: A metáfora da rã é que se uma rã for jogada numa água quente, ela pula fora. Mas, se a água for esquentando pouco a pouco, ela vai ficar cozida e vai morrer. Nós temos que pular fora da água e mudarmos a percepção. Essa questão da votação e da transformação, que já passou na Câmara, do crime hediondo para quem tem fuzil, metralhadora e armas desse porte, com tratamento de crime hediondo, é uma coisa necessária a ser feita hoje. E tem outras na mesma direção, que se perguntam por que não foram feitas antes? Porque era a rã se adaptando a temperatura da água. Então, a situação hoje vai requerer muito mais esforço, mais inteligência e muito mais harmonização de estratégias com outros níveis de governo e de outros poderes. Porque ele ficou muito difícil, ficou muito complexa. Mas, ela é possível. O Estado brasileiro tem condições nos seus vários níveis, desde que haja uma decisão política e unanime de fazê-lo. Nós estamos defendendo isso, que se defenda o Rio de Janeiro, porque isso é ruim para esta cidade que nós amamos, é ruim para a sociedade carioca, é ruim para os negócios, péssimo para a imagem do Brasil e nos impedirá de acessarmos bilhões de dólares nesta batalha de emprego no planeta inteiro, que o turismo hoje lidera. O turismo hoje, até vejo o caso do Japão, uma nação industrial, tem 20 milhões de turistas trabalhando, tinha 8 recentemente e está trabalhando para 40 milhões de turistas, porque os empregos não vão aparecer na área industrial, vão aparecer nos muitos setores da dimensão chamada turismo. E se nós não tivermos segurança para oferecer, e não é só no Rio, é um modelo.

Nas grandes capitais do Nordeste, do Sul, nós não teremos condições de entrar nesta disputa. Existem passos muito concretos nessa direção, na área judicial, em várias áreas, mas existe também, uma estética do crime, já sendo produzida no Rio de Janeiro, como um valor. Ficou e existe um sentido e sentimento de arte na violência, que, evidentemente, não se pode negar que tenha elementos artísticos nisso, mas isso é destrutivo. Existem elementos artísticos até em inferno de Dante, por óbvio, mas nós queremos o Inferno de Dante ou o Rio de Janeiro não estaria se transformando numa celebração estática ao Inferno do Rio. Nós celebramos esses valores, nós multiplicamos. Um general disse outro dia, num evento no Marriot, que um grande meio de comunicação colocou uma notícia sobre a morte de um polícia uma vez e de morte de bandido 57 vezes. Há uma desproporção. Ou seja, o apelo da estética da violência, no Inferno de Dante, está fazendo sucesso. E isso é muito importante do ponto de vista da estrutura psicológica que precisa mudar, par anos entendermos que o azul é mais bonito que o preto. Enquanto preto for mais bonito que azul, nós teremos problemas. Tomar essa decisão pelo azul.

CM: O pontapé inicial nesse processo de mudança, da postura do Governo Federal em relação ao Rio, foi dado, quando reuniu empresários como Roberto Medina, Ricardo Amaral, Alfredo Lopes para uma reunião e houve o desdobramento disso, com calendário de grandes eventos que Governo Federal vai apoiar. Gostaria que você falasse dessa importância dessa mobilização do Governo Federal. Existe turismo no Brasil e internacional se o Rio não estiver bem?

VL: O Rio de Janeiro está para o turismo brasileiro como está Nova Iorque com os Estados Unidos. Ou Paris para França, que sofre com a questão do terrorismo e agora Barcelona. Só que a situação do Rio de Janeiro vem de mais tempo e tem mais volume. Não tem necessariamente mais gravidade, mas o volume do problema é muito maior. E isso precisa ser revertido como foi nessas cidades. Miami passou por uma crise. E hoje Miami tem esse tipo de calendário. Na década de 80, o hotel Doral, que é o segundo mais importante da cidade, faliu e foi vendido à Prefeitura. Eles já beijaram a lona também. O que eu acho é que vai se impossível combater a degradação do Rio de Janeiro, sem uma decisão política da sociedade. O que eu vejo na política do Rio de Janeiro, ainda, é, como um todo, uma falta de consenso sobre necessidade. Eu coisas positivas no Rio de Janeiro serem criticadas. Coisas boas que foram feitas. Eu ouvi um político mencionar numa reunião que a descontinuidade da política no Rio é um grande problema. E eu concordo. E que muitas coisas são feitas pelas razões erradas. Por exemplo, citando, não sou brizolista, a escolha dos terrenos dos CIEPs como um problema intrínseco da política de escola em tempo integral. Ora, se você tem escola integral deve a oposição se preocupar se ela está num lugar visível ou não?

Ou seja, há uma inversão de valores na política no Brasil e no Rio neste caso, no sentido de que, no fundo, há muitos torcendo pelo pior e melhor na alternância de poder. Ora, se eu, na oposição, torço pelo pior, ou desfaço discurso para o pior, porque vou ter dividendos políticos sob esse aspecto. Como tem alternância de poder, quando eu assumir o poder, nós teremos a oposição desconstruindo ao mesmo tempo. É desconstrução sobre desconstrução. Os valores vão afundando, porque não é só a política que faz isso, é um clico vicioso. A mídia também, porque a estética negativa vende mais, vende 57 por 1, segundo esse general que fez essa afirmação no Marriot. Então, é preciso mudar as premissas, as posturas e as atitudes e haver uma tomada de posição radical contra o Inferno de Dante. É preciso construir um novo nível de consciência sobre o problema. Porque eu não posso querer resolver meu problema particular em cima da desgraça coletiva, pois isso vai bater de volta.

CM: Você recebe o título de “Cidadão Carioca”, homenageado pela Câmara dos Vereadores, título outorgado pelo vereador Carlo Caiado, que está trabalhando para que a fiscalização da taxa do turismo deixe de ser voluntária e passe a ser oficial, até dentro de um projeto nacional. Carioca agora, me fale sobre esse título e sobre essa taxa do turismo.

VL: É uma honra receber. Eu tenho me esforçado e permaneci durante o período dos Jogos Olímpicos atendendo o Rio de Janeiro, tenho buscado estar presente pela compreensão de que a Embratur, que já foi do Rio de Janeiro, e fez um trabalho fantástico e deve ao Rio. Brasil no turismo deve ao Rio, em geral. Nós precisamos reconstruir o Rio de Janeiro, então, eu tenho me dedicado como uma forma de trabalhar. Agora, também, como uma forma de prazer trabalhar com o Rio de Janeiro, por tudo que o Rio significa. Então, receber um reconhecimento deste nível, é uma honra. Fico feliz de que algumas pessoas importantes tenham pensado assim. Com relação à taxa de turismo, eu acho que, se for bem aplicada, gostaria de ver diminuição de impostos e todos os tipos de contribuição no Brasil em geral. Precisamos fazer esse tipo de movimento, mas, por outro lado, não vamos ter equilíbrio fiscal se não houver crescimento econômico. Então, se essa taxa for efetivamente bem aplicada, de uso transparente, com bons resultados, nós vamos ter o efeito positivo da questão fiscal, que é a questão mais séria do Brasil hoje, ao lado do crime organizado. Se nós conseguirmos aplicar no crescimento e andar para frente, nós ajudaremos a equacionar o Brasil como todo. Fonte: Jornal de Turismo/Embratur

 

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *