Por Paulo Hansted*
Atualmente, 54% da população vive em espaços urbanos e, até 2050, a estimativa é que o número salte para 66%. Segundo dados da International Organization for Migration (IOM), todas as semanas três milhões de pessoas se mudam para cidades.
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população está concentrada em nove grandes centros urbanos. Das cerca de 208 milhões de pessoas, 30% delas vivem nestes locais. São Paulo, com 19, 6 milhões de pessoas é o maior deles, seguido do Rio de Janeiro (11,9 milhões) e Belo Horizonte (4,7 milhões). A capital paranaense, Curitiba, ocupa a nona posição, com mais de três milhões de habitantes.
Ainda sobre a população brasileira, cada vez mais as pessoas estão ligadas à tecnologia mobile e conectadas. Exemplo disso é que o mercado de smartphones já ultrapassa os 220 milhões de usuários, conforme estudo da FGV.
Os dados mostram que os grandes centros urbanos precisarão ampliar sua capacidade e oferta de serviços de empregos, educação, entretenimento, saúde e lazer, entre outros, como forma de tornar estes ambientes lugares melhores para se viver. E a tecnologia é uma das alternativas para fazer girar a economia e transformar a relação das pessoas com as cidades, com vistas à melhoria de qualidade de vida.
É neste cenário que surge o conceito das Cidades Interativas, aliado potencial para a equalização dos desafios sociais, econômicos e comunitários da sociedade digital. Com tanta tecnologia disponível, nada justifica viver mais em cidades “burras e analógicas”.
Para estimular o valor econômico gerado por moradores e turistas é necessário que governos em parceria com a iniciativa privada comecem a investir em plataformas tecnológicas de conectividade que transformem as cidades em ambientes de experiências de alto valor agregado e não apenas em ambientes de concentração humana.
Recursos das plataformas moveis, web, redes sociais, QRCodes, MBeacons, realidade aumentada, são alguns dos exemplos tecnológicos que podem ser utilizados em espaços urbanos para criar interação com pessoas.
Eleita a cidade mais inteligente do Brasil, Curitiba é o primeiro centro urbano a contar com um sistema que organiza as atividades para as pessoas ganharem as ruas e viverem intensamente tudo o que ela oferece. O projeto inédito, é resultado de mais de 5 anos de desenvolvimento, que envolveram estudos em 17 países e dezenas de cidades.
A ideia desse sistema de inteligência, que começou a ser implantado na cidade no início de 2018, é fazer com que as pessoas saiam mais de casa, interajam com os espaços urbanos e passem a conhecer e compreender melhor os seus ativos. Com isso, estimula-se cada vez mais o sentido de pertencimento, reforça o espírito comunitário e o desenvolvimento econômico da região, aquecendo os negócios e o mercado de trabalho.
Podem ser destacados oito impactos positivos para as cidades ao investirem em projetos de interatividade e conectividade:
Sociais:
- Aumento da Satisfação de Viver nas Cidades: representam a expansão do relacionamento das pessoas com as cidades e a maior satisfação de viver nelas.
- Maior Conexão entre Pessoas e Cidades: humanização da tecnologia com a disposição de estimular o reencontro das pessoas nos ambientes urbanos.
Econômicos
- Maior Movimentação Econômica: dinamizam o valor econômico gerado por moradores e turistas.
- Geração de Empregos e Oportunidades: aumento da circulação do capital estimula a geração de empregos e oportunidades para empreendedores.
Comunitários
- Ativação da Cultura Comunitária: ao estimular uma maior conexão entre pessoas e ativos culturais do município, as cidades interativas despertam o sentido de pertencimento e o espírito comunitário.
- Civilidade: maior compreensão e valorização dos ativos públicos e redução dos índices de vandalismo.
Valor
- Referência Inovação: cidade como referência de desenvolvimento tecnológico, social e urbano.
- Diálogo com a Comunidade: estimulam uma maior compreensão das atividades públicas, a partir de um diálogo permanente e positivo com a comunidade.
Diante de todas as tecnologias existentes, muitas que requerem baixos investimentos, é imprescindível que outras prefeituras de grandes centros urbanos e a iniciativa privada comecem a dialogar para criar projetos que tornem suas cidades lugares mais inteligentes e que de fato promovam a interação entre as pessoas e, sobretudo, a qualidade de vida.
*Paulo Hansted é formado em marketing com extensão na Universidade da Califórnia Berkeley. Fundador de uma das primeiras empresas a desenvolver aplicativos e mobisites na América Latina, é o empreendedor responsável pelo desenvolvimento do conceito de Cidades Interativas e do projeto MCities implantado em Curitiba.