Abadiânia, cidade de João de Deus, teme colapso sem turismo espiritual

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Sentado em frente da sua loja de roupas “Nirvana”, em Abadiânia (GO), Antonio de Carmo não escondia a preocupação com as denúncias contra João de Deus.

“Não ganho muito com as vendas, mas vivo bem. Se a Casa (Dom Inácio de Loyola, onde o médium atende) acabar, metade do comércio vai junto.” Na loja de cristais em frente, vê-se outro relato na mesma linha. O temor é de “quebradeira”.

Pelas contas do prefeito José Aparecido Diniz (PSD), os atendimentos feitos pelo médium atraem mensalmente cerca de 10 mil pessoas – 40% estrangeiros.

Número expressivo, sobretudo considerando os 17 mil habitantes da cidade – a 90 quilômetros de Goiânia e a 120 quilômetros de Brasília. “Olha o salto no consumo”, afirma Diniz.

Secretário de Turismo e Meio Ambiente, José Augusto Paralov concorda. “A cidade é pequena e o comércio vive em função disso. Temos 40 pousadas e hotéis, além de uma dezena de restaurantes, que dependem exclusivamente das excursões e romarias. Pode acontecer uma quebradeira.”

O turismo religioso divide a cidade. De um lado da BR-060 onde está o centro religioso, o comércio de lojas esotéricas, de roupas brancas (pede-se que os visitantes usem essa cor) e do movimento de estrangeiros dá um ar movimentado e pitoresco ao lugar.

No outro lado da BR, onde ficam as casas dos moradores da cidade e a maior parte dos prédios públicos, Abadiânia é uma típica cidade do interior. “Até a violência onde ficam os moradores é maior”, conta um lojista, que não quis se identificar.

“Era tudo mato”. Dona da pousada que leva seu nome, Izaíra Alves da Silva, de 84 anos, diz que “todo mundo vive em torno do médium”. Ela conta que, quando se mudou para Abadiânia, há 33 anos, “era tudo mato”.

O guia internacional Anselmo Lima, de Brasília, que organiza excursões da França, disse que não há cancelamentos. “Mas é importante que toda essa situação seja esclarecida.”

Polêmico. A expectativa é para ver o que ocorrerá na quarta, quando os trabalhos semanais teriam início. “Estou certa que muitos vão chegar. Como eu”, disse a diarista Maria Aparecida Barros. A cada quatro meses, ela viaja de Curitiba para Abadiânia, em busca de tratamento para seu filho, Luan, de 27 anos.

Com Síndrome Wolfran (doença genética rara), Luan apresenta visão comprometida. “Há cinco anos venho aqui na casa (onde o médium atende). Depois disso, a progressão da doença diminuiu.” Maria Aparecida é uma das que acreditam que em pouco tempo as denúncias serão desmentidas. “Isso vai passar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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