Filarmônicas da Bahia celebram o 2 de Julho em Salvador

Por Doris Pinheiro

Seis filarmônicas e um coral realizam o 28º  Encontro de Filarmônicas no 2 de Julho, das 18h às 21h do dia da Independência do Brasil na Bahia, em frente ao Monumento ao Dois de Julho, no Campo Grande e com a participação especial de Juliana Ribeiro. No dia seguinte, 3 de julho, a partir das 19h, também no Campo Grande, o Baile da Independência celebra com o povo a data máxima da Bahia, com as vozes de Irma Ferreira e Mario Bezerra e ao som da Orquestra Fred Dantas. Os dois eventos são promovidos pela Fundação Gregório de Mattos, da Prefeitura Municipal de Salvador, com direção do maestro Fred Dantas.

No 28º Encontro de Filarmônicas no 2 de Julho a abertura será realizada pelo Coral e pela Filarmônica da Escola Técnica São Joaquim. O Coral será regido por Irma Ferreira e a Filarmônica São Joaquim regida pelo prof. Antônio Dacleo. Eles se juntarão à Filarmônica Ambiental de Camaçari para em conjunto realizarem os hinos da Bahia e do Brasil, sob regência de Fred Dantas. Em seguida, se apresentam as Filarmônicas Lyra Ceciliana de Cachoeira, 9 de Maio de João Dourado, Lyra Popular de Belmonte e acontece o show com Juliana Ribeiro com a Oficina de Frevos e Dobrados.

Sob a regência do Maestro Fred Dantas, a Oficina de Frevos e Dobrados se apresenta no Campo Grande para baianos e turistas. Foto: Divulgação

 

PROGRAMAÇÃO

18:00 – Abertura com execução do Hino ao 2 de Julho (Santos Títara-Santos Barreto) com o Coral e Filarmônica da Escola Técnica São Joaquim – regência do maestro Fred Dantas – e Filarmônica Ambiental de Camaçari, com regência de Cayo Brito.

18:30 – Filarmônica Lyra Ceciliana de Cachoeira, sob regência de Jairo dos Santos.

19:00 – Filarmônica 9 de Maio e João Dourado sob regência de Robston Alencar.

19:30 – Filarmônica Lyra Popular de Belmonte sob regência de Allan Gabriel.

20:00 – Oficina de Frevos e Dobrados, com regência do maestro Fred Dantas, com  participação especial de Juliana Ribeiro.

Baile da Independência – 3 de julho de 2018, no Campo Grande, a partir das 19h, com os cantores Irma Ferreira e Mario Bezerra e Orquestra Fred Dantas.

Juliana Ribeiro faz participação especial durante a apresentação da Oficina de Frevos e Dobrados. Foto: Divulgação

 

FILARMÔNICAS QUE REALIZAM O ENCONTRO

Abertura: Coral e Filarmônica da Escola Técnica São Joaquim

 

Execução do Hino Nacional Brasileiro e do Hino ao 2 de Julho – Hino do Estado da Bahia, com o Coral e Filarmônica da Escola Técnica São Joaquim – com  participação de integrantes das diversas filarmônicas presentes ao encontro e regência do maestro Fred Dantas.

 No dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho de 1996, em uma área de Mata Atlântica, restinga e nascentes preservadas, o maestro Fred Dantas deu início ao seu projeto Escola Ambiental, na zona rural de Barra do Pojuca, município de Camaçari, oferecendo educação formal, artes e artesanato aos filhos dos moradores da região. No ano seguinte, com instrumentos doados pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) é iniciada a Filarmônica Ambiental, como um dos braços mais significativos do projeto.

Sendo uma atividade de formação associada ao trabalho da Escola, a filarmônica já disponibilizou dezenas de músicos para o mercado de trabalho, enquanto está sempre se renovando com novos iniciantes. Na criação de seu próprio material pedagógico, foram elaborados vários arranjos que associam a rica tradição popular do litoral norte da Bahia à linguagem técnica das bandas filarmônicas, resultando numa série original e criativa de partituras musicais. Neste 28º Encontro de Filarmônicas a Filarmônica Ambiental, co m regência do mestre Cayo Brito, lança mais uma atitude de vanguarda: a improvisação musical dentro dos arranjos de filarmônica.

Sociedade  Orpheica Lyra Ceciliana 1870- 2019: 149 anos

Considerada como uma das mais antigas filarmônicas do Brasil em atividade ininterrupta, a Sociedade Cultural Orpheica Lyra Ceciliana foi fundada em 22 de Novembro de 1870, pelo maestro Manoel Tranquilino Bastos. Contudo seu fundador e os demais integrantes da Lyra, abolicionistas convictos, a partir de 13 de Maio de 1888, decidiram celebrar o aniversário da Sociedade, na mesma data da assinatura da Abolição da Escravatura no Brasil.

Ativista, grande defensor da abolição da escravatura, compositor do emblemático dobrado O Navio Negreiro, o maestro Bastos liderou uma passeata histórica no dia 13 de Maio de 1888 para comemorar o fim da escravidão no Brasil, onde estreou pelas ruas de Cachoeira a recém-composta Airosa Passeiata. Manoel Tranquilino Bastos à frente da Lyra Ceciliana arrastou uma multidão pelas ruas da cidade. O ato coincidiu com os festejos em homenagem aos 18 anos de fundação da filarmônica.

O amor à Lyra e o desejo de não deixar esquecidos os ideais do maestro e dos seus contemporâneos, fazem com o que, a secular filarmônica nos dias atuais, permaneça vibrante, descobrindo novos talentos, despertando o gosto pela boa música, por meio da Escola de Formação Musical Maestro Irineu Sacramento. A instituição atende gratuitamente aproximadamente 100 crianças e adolescentes, enquanto mantém uma biblioteca com mais de 1000 volumes aberta ao público, estando sempre participativas nos eventos da sua cidade e de todo o Recôncavo da Bahia   & nbsp;

Filarmônica 9 de Maio de João Dourado

 Diante de um antigo apelo dos habitantes da cidade de João Dourado em ter uma banda filarmônica, coube à prefeitura local, no ano de 2010, comprar o instrumental e contratar um conhecido mestre de bandas para iniciar um corpo musical de 60 alunos, que veio logo frutificar em um conjunto musical muito estimado e participativo.

Uma das mais jovens filarmônicas da Bahia, que vai atuar no encontro de Filarmônicas no 2 de Julho no mesmo evento onde há outra filarmônica com nada menos que 149 anos, a filarmônica 9 de Maio vem se apresentando em festivais em toda a região de Irecê e já organizou um encontro de Filarmônicas em sua cidade. Sob a regência do mestre Robston Alencar Jr. a sua escola de música vem oferecendo oportunidade de formação artística para dezenas de jovens e crianças da sua cidade, enquanto seus músicos se aprimoram – ao tempo em que participam de toda a vida social da sua comunidade – para se tornarem profissionais em um mercado de trabalho.

 Filarmônica Lyra Popular de Belmonte

Prestes a completar 105 anos de atividades ininterruptas, a Lyra Popular de Belmonte se mantêm como uma das mais ativas filarmônicas da Bahia, com dezenas de jovens e crianças em sua escola de formação musical, e um corpo de 40 músicos sob a regência do mestre João Reis. O Festival de filarmônicas que organiza em sua cidade hoje atrai bandas de música até mesmo de outros estados, além de congregar músicos de várias regiões da Bahia. Um dos momentos marcantes da Lyra de Belmonte foi quando venceu, em 1961, o concurso Retretas, em Salvador, recebendo o troféu das mãos do governador Juracy Magalhães, em solenidade no Palácio Rio Branco.

A Lyra surgiu como uma dissidência da antiga Filarmônica Bonfim; desde que iniciou suas atividades encontrou forte rivalidade em outra filarmônica também já existente em sua cidade. Entre muitos episódios memoráveis está uma batalha de “harmonias” – execução de músicas clássicas, entre as duas agremiações, que durou das 21 horas de um dia de novena até as 5 horas da manhã do dia seguinte, pois nenhuma das filarmônicas queria descer dos respectivos coretos, e ser considerada perdedora, necessitando a intervenção do bispo para encerrar.

Oficina de Frevos e Dobrados e Juliana Ribeiro

A Oficina de Frevos e Dobrados vem há 36 anos desenvolvendo um trabalho notável de pesquisa, divulgação e expansão do repertório das filarmônicas, dos seus mestres-compositores e das relações sociais entre elas e suas comunidades. Nesse sentido publicou livros, gravou registros fonográficos, organizou festivais, como o presente encontro de filarmônicas e criou uma escola de iniciação e aperfeiçoamento de crianças e jovens que tem colocado no mercado de trabalho  dezenas de músicos.

Uma das vanguardas da Oficina é sua atuação junto a cantores e músicos de renome. Basta dizer que já acompanhou o próprio Dorival Caymmi na entrega do Troféu Caymmi de 1988, no Hotel da Bahia. Com o compositor Moraes Moreira realizou turnês e gravações. Com o maestro Paulo Moura fez memoráveis dois dias de shows no Teatro Castro Alves. Como uma forma de criar um encerramento lúdico para os Encontros de Filarmônicas no 2 de Julho, foi sugerido pela Fundação Gregório de Mattos que se convidasse atrações significativas e relacionadas à baianidade, com arranjos especiais sem instrumentos elétricos.

Assim surgiu a série de convidados com Armandinho, Margareth Menezes, a soprano lírica Irma Ferreira e Gerônimo. Dando seqüência a essa série de convidados com pertencimento cultural, chega a vez de realizar um trabalho com Juliana Ribeiro, que, além se excelente cantora, tem se mostrado uma ativista cultural relacionada ao samba popular da Bahia, revelando e incentivando vozes e compositores dessa tradição, criando novos canais de comunicação e contatos com orquestras e, agora, com o mundo das bandas filarmônicas da Bahia.

SOBRE O BAILE DA INDEPENDÊNCIA

Como parte dos eventos relacionados às comemorações da Independência da Bahia, será realizado o Baile da Independência (foto) ao ar livre no Campo Grande, junto ao Monumento aos Heróis do 2 de Julho, próximo aos carros alegóricos do Caboclo e da Cabocla, no mesmo palco onde no dia anterior as bandas filarmônicas se apresentam.

O Baile da Independência é o maior evento ligado à dança popular realizado em Salvador há muitos anos.  Nessa ocasião os casais ligados à Dança de Salão se dirigem ao Campo Grande, certos que vão encontrar o acompanhamento musical adequado à sua arte. O público em geral sabe que poderá desfrutar de momentos de muito bom gosto musical e os descolados também sabem que ao final sempre haverá, por parte da orquestra, belos arranjos da música Axé e da dança individual ou em grupos.

O atual Baile da Independência foi idealizado pela Fundação Gregório de Mattos, da Prefeitura Municipal de Salvador, como uma forma de recuperar o ambiente de comemoração posterior ao Dois de Julho, quando a sociedade local organizava uma quermesse com barracas de variedades e músicas dançantes. Esse evento foi recuperado – nos anos 1930-40 – pelo Baile da Mocidade, que era realizado no Campo da Pólvora, tendo como animador o popular Zé Coió. Maestros como João Wanderley, Waldemar da Paixão e Vivaldo da Conceição eram os encarre gados do baile.

O maestro Fred Dantas, por seu profundo respeito aos que vieram antes dele na tarefa de prover música de qualidade à sociedade da Bahia, foi convocado para recuperar o Baile da Independência, com sua Orquestra popular, e assim tem sido há duas décadas, equilibrando uma parte memorial com outra parte vivencial.

O Baile da Independência tem sua abertura com uma seleção musical de músicas referentes à Cidade da Bahia. Em seguida é executado o Hino da Cidade do Salvador (Oswaldo Leal). Então há uma abertura com Ragtime (evocando os anos 1920-30) e Blues (era o que se se tocava no Baile da Mocidade,  música de influência norte-americana). Prossegue o evento com choro brasileiro onde Pixinguinha e Severino Araújo serão os homenageados e a dança de salão com boleros, sambas e xotes.

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