Por Carina Monteiro
Para muitas pessoas que viajam, sobretudo para cidades, a primeira coisa que fazem antes de se aventurarem, é olhar para o mapa. Eu não sou exceção. A primeira coisa que fiz foi pedir um mapa na recepção do hotel, poucos minutos antes de começar o tour pedonal com a guia. Estávamos no terceiro dia de viagem da fam trip da Teldar e da Finnair, chegados de Helsínquia, uma cidade pequena, cuja geografia foi fácil de entender. À primeira vista, o mapa de Estocolmo pode parecer complexo, há pequenas ilhotas ligadas por pontes, muitos canais e penínsulas, o que lhe confere o título, para alguns, de Veneza do Norte.
Um segundo olhar sobre o mapa e a geografia de Estocolmo parece menos complexa, depois de identificado o centro histórico (Gamla Stan ou a cidade velha), uma pequena ilha onde todos os caminhos vão dar, inclusive o nosso passeio. Começamos em Hotorget (mercado do feno), uma praça central situada entre as ruas de comércio Kungsgatan, Drottninggatan e Sveavägen. Durante o século XVIII era aqui que se fazia o mercado de cavalos, no primeiro dia de cada mês, mas em 1856 tornou-se apenas uma praça com um mercado como outra qualquer, mas duas vezes maior que o seu tamanho original.
O primeiro edifício de mercado foi construído em 1882 e alguns comerciantes de comida, essencialmente, puderam ter aqui o seu negócio com melhores condições de higiene. Hoje a praça permanece como um mercado de rua com frutas e artesanato. Numa das esquinas desta praça encontra-se a Casa de Concertos de Estocolmo, desenhada pelo arquiteto Ivar Tengbom e aberta em 1926, é o melhor exemplo da arquitetura neo-clássica de Estocolmo e é conhecida por ser o local onde se realiza todos os anos as cerimonias de entrega dos prêmios Nobel de Medicina, Física, Química e Literatura.
Da Praça Hotorget até Gamla Stan são pouco mais de 15 a 20 minutos a pé e o caminho fez-se pelo Kunstradgarden (Jardim do Rei). Atravessamo-lo com uma pequena explicação sobre o parque. É o local de várias manifestações sociais e lúdicas dos suecos. É habitual fazerem-se concertos aqui ou festivais gastronômicos. No inverno, acaba por ser um local de grande afluência dos habitantes de Estocolmo, devido à pista de gelo. É no jardim que também se encontra a igreja Jacobs, uma das mais antigas da cidade e também uma das mais bonitas com a sua cor vermelha que a destaca na paisagem urbana.
No final do jardim, encontra-se um importante edifício da cidade, a Ópera. Estamos quase às portas da cidade velha. Paragem para a primeira lição de história sobre a capital sueca. Foi no edifício da Ópera que morreu assassinado o rei Gustavo III, em 1792. Fica para a história como o monarca que trouxe a cultura para a Suécia. Próximo de Luís XVI – o rei absoluto de França -, Gustavo III inspirou-se no “amigo” francês para dar alguma grandiosidade a Estocolmo, que era até à época uma cidade simples. Mandou construir vários edifícios, a maioria ligados a atividades culturais, entre eles este edifício da ópera. Mas Gustavo III terá sido traído pela sua ambição de tornar Estocolmo numa nova ‘Paris’. Gastou o dinheiro da coroa, queria voltar à monarquia absoluta e ganhou inimigos. Acabou por ser baleado durante um baile de máscaras, no edifício da ópera. Este episódio, que inspirou enredos de filmes e livros posteriormente, deixou o reino da Suécia sem herdeiro, mergulhando o país numa instabilidade política.
Gamla Stan e a história de Estocolmo
A construção de Estocolmo começou a partir do século XIII, estando a sua fundação apontada para o ano de 1252. Devido à sua localização, era um local de passagem de vários navios que circulavam entre o mar Báltico e o Lago Malaren. Mas devido ao desnível de águas que ali ocorria, foram colocadas estacas sobre um canal que atualmente possui o nome de Norrstrom e é uma das portas de entrada de Gamla Stan. É sobre este canal que se encontra o parlamento sueco e é a partir daqui que se desenvolve a cidade velha. A Suécia é uma monarquia constitucional com um sistema parlamentar de governo e um monarca com funções unicamente representativas.
O Palácio Real encontra-se ao lado e é possível visitá-lo, já que não é residência habitual dos reis da Suécia. A independência da Suécia ocorreu em 1523 depois de uma batalha de sangue travada entre Gustavo Eriksson Vasa e o exército do rei Cristiano II, que governava os reinos da Dinamarca, Suécia e da Noruega. O rei chamou 92 suecos à praça Stortoget localizada em Gamla Stan e mandou degolá-los, entre os mortos encontrava-se o pai de Gustavo Eriksson Vasa.
A chacina do rei tirano despoletou a revolta de Gustavo Eriksson Vasa que liderou o movimento de independência e libertação do domínio da Dinamarca. Tornou-se rei, com o título de Gustavo I e uma das medidas foi acabar com o catolicismo na Suécia e a implementação da religião luterana no país. A praça Stortoget onde decorreu a Batalha de Sangue é uma das mais icônicas de Estocolmo e imagem da maior parte dos cartões postais da cidade, muito graças aos prédios de cores fortes que rodeiam a praça. Um deles, pintado de vermelho, simboliza o sangue ali derramado durante a batalha (ver foto). A praça é também o ponto de partida para conhecer Gamla Stan, um dos centros históricos medievais melhor preservados da Europa. Aconselha-se simplesmente um passeio pelas ruas para apreciar a arquitetura dos edifícios, que fazem recordar o período medieval. A cidade velha tem um encanto especial devido às cores quentes dos edifícios. Há muito comércio, sobretudo restauração e artesanato.
Além de passear pelas ruas de Gamla Stan, as grandes atrações da cidade velha são o Palácio Real e a Catedral de Estocolmo. O palácio é um dos maiores do mundo, com mais de 600 quartos, além de museus e salas que exibem a história e o modo de ser da aristocracia sueca.
Museu Vasa
Finalizada a visita à cidade velha é tempo de conhecer uma outra ilha de Estocolmo. Djurgarden (ou a ilha dos animais) fica a cerca de 20/30 minutos de barco de Gamla Stan. Os ferries partem de um porto junto ao Palácio Real. A ilha dos animais é essencialmente um local lúdico uma vez que alberga vários museus, um parque de diversões e um zoo. O propósito da nossa ia a Djurgarden foi a visita ao Museu Vasa.
O navio Vasa dá o nome ao museu mais visitado da Suécia e consiste na exibição do navio construído no século XVII. Até chegar a este museu, passamos por vários outros, entre eles o Museu Nórdico que, como o nome indica, retrata a cultura nórdica desde os finais da Idade Média até à época contemporânea (entrada 120 SEK, gratuito até aos 18 anos); e o ABBA The Museum, dedicada ao mítico grupo musical originário da suécia que alcançou fama planetária e cuja uma das músicas dá título a este artigo (entrada 250 SEK). Os museus estão a poucos minutos de distância uns dos outros, pelo que há muito para fazer e aproveitar durante um dia inteiro nesta ilha.
Chegados ao Museu Vasa, a fila para entrar (única fila de toda a viagem) aguçou o interesse pelo museu. Como a nossa guia já tinha comprado os bilhetes entrámos diretamente para o Vasa. No interior, o navio Vasa rouba de imediato toda a atenção e arranca um “wow” até aos mais contidos. Trata-se de um verdadeiro navio do século XVII, daqueles que apenas lemos sobre eles nos livros ou visualizamos réplicas nos filmes. Mede 52 metros da cabeça do mastro à quilha e 69 metros da proa à popa e pesava à data da sua construção 1200 toneladas. A guia aproveita para nos dar a primeira lição: Embora pareça, o Vasa não é um navio de vikings, porque a era dos vikings, recorde-se, durou até ao século XII. O Vasa foi mandado construir pelo rei Gustavo Adolfo II em 1626. Era um navio de guerra que deveria integrar a frota naval sueca. Ignorando todas as recomendações quanto ao limite de peso que o navio suportaria, o rei ordenou que se instalassem mais canhões.
Na viagem inaugural, a 10 de agosto de 1628, o Vasa navegou apenas 15 minutos tendo naufragado em seguida, devido ao seu peso. O Vasa permaneceu debaixo de água durante 333 anos. Somente em 1961 foi resgatado do mar após uma obra de engenharia complexa e que durou vários anos. Os trabalhos de recuperação foram iniciados no outono de 1957 por mergulhadores que abriram túneis sob o navio para os cabos elevatórios que viriam a ser utilizados. Juntamente com o navio foram recuperados vários objetos que foram alvo de um cuidado trabalho de preservação. Além do navio que está em exposição, o museu exibe também uma réplica do interior da embarcação, assim como os objetos resgatados e a história do resgate do navio. Histórias de navios e do mar sempre despertaram o interesse do público, não é por acaso que este é um dos museus mais concorridos da Suécia. Pode ser, por vezes, difícil não tropeçar noutros visitantes, dada a afluência, mas vale bem a pena a visita (entrada – 150 SEK/grátis até aos 18 anos).
Como ir?
Viajamos até Estocolmo (Arlanda) com a Finnair, via Helsínquia. Recorde-se que a companhia tem voos diários para Helsínquia à partida de Lisboa. Do Porto, a companhia finlandesa terá uma ligação sazonal, de 22 de junho a 7 de agosto de 2020, com dois voos semanais (segundas e sextas). Para o Funchal, a Finnair opera dois voos semanais (segundas e terças) de 28 de outubro a 24 de março de 2020 e um voo semanal de 30 de março a 19 de outubro de 2020. O aeroporto de Helsínquia é relativamente pequeno e tranquilo, o que permite conexões fáceis e rápidas. O controlo de passaportes é eletrônico. Como empresa de receptivo contamos com Nordic Ways, uma DMC que faz a organização de qualquer viagem, seja de negócios, incentivos ou lazer, para toda a região nórdica (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia). Os guias falam diversas línguas, incluindo português.
Onde ficar?
Nesta viagem, visitamos o hotel At Six, uma unidade de cinco estrelas localizada a poucos minutos a pé de Gamla Stan. A ocupar um edifício dos anos 60 que foi outrora um banco, o At Six foi uma agradável surpresa. Combina design, com peças de arte contemporânea que podem ser apreciadas no lobby, com os seus luxuosos, modernos mas também confortáveis 343 quartos. O At Six tem diferentes bares, restaurantes, um rooftop e várias salas de reunião, sendo o alojamento ideal para quem quer sentir a modernidade da Suécia, seja numa viagem de lazer ou de negócios. Como curiosidade o hotel é ‘vizinho” da sede do serviço de streaming de música, Spotify.
Dicas
A moeda oficial de Estocolmo é a coroa sueca (SEK), mas os suecos estão a habituados a que se pague tudo com cartão e até mesmo numa banca de rua esta forma de pagamento é aceito (1 SEK = 0,09 EUR). Fonte: Publituris.