De Amsterdã a Berlim, de Lisboa a Barcelona a Nova Iorque, são muitos os destinos a criarem medidas para conter o sobreturismo, controlar o alojamento local e sistemas Airbnb. Até a própria plataforma já chegou a criar limites voluntariamente.
No caso de Praga, basta abrir o Facebook de Zdenek Hrib, o presidente da câmara, eleito pelo liberal Partido Pirata checo, para perceber logo qual é a posição do autarca em relação ao Airbnb (e similares, mas o alvo tem nome próprio) e qual é a sua declaração de “guerra”:
Sendo certo que é imagem para valer por mil palavras, Hrib ainda lhe acrescenta mais ataques. “O Airbnb em Praga é um problema”, escreve o autarca, abordando a “crise da habitação” na cidade, onde, refere, “são utilizados 11.500 apartamentos para o Airbnb” no centro, sendo que o epicentro histórico e turístico terá cerca de 25 mil residentes. O “Airbnb oferece capacidade de alojamento ilimitado em Praga numa época em que o centro é cada vez mais atormentado pelo turismo excessivo”, diz, defendendo que “a cidade não ganha nada com estes arrendamentos de curto prazo a não ser taxas de alojamento (se forem pagas)”.
“Devolver Praga às pessoas de Praga” soa o slogan e é mesmo o mote usado pelo autarca na conversa registada pelo jornal, onde Hrib resume o cenário e avança com algumas possíveis soluções, já tentadas e impostas em vários países (por exemplo em Portugal, com zonas de contenção ao alojamento local, em Lisboa ou no Porto).
Para o autarca, é preciso proibir o arrendamento de curto prazo de apartamentos completos (excepção: só se for habitação própria e o residente estiver temporariamente ausente), ou pelo menos limitar ao máximo o número total de dias por ano que é possível arrendar (uma medida também já tomada noutras cidades). Para os turistas Airbnb apenas quartos em casas onde o proprietário resida.
A ofensiva de Hrib pretende também forçar o Governo (liderado por uma coligação a que não pertence o autarca) a facilitar a criação de instrumentos para que as autarquias possam intervir localmente na regulação destas plataformas.
Praga tornou-se um dos grandes casos de sucesso mundial a nível turístico, pelo menos em termos de números e dinheiros, sendo tão famosa pelo seu patrimônio e cultura como por ser um destino low cost para o turismo de festas, despedidas de solteiro e álcool.
Hrib foca-se nos problemas que tudo isso trouxe para os residentes, uma situação que também tem originado queixas em Portugal, particularmente em Lisboa e Porto: barulho, incômodos, aluguel e preços das casas a disparar , dificuldade de acesso dos moradores ao mercado imobiliário.
“Isto já se afastou muito da ideia original de economia partilhada em que é suposto deixares um turista ficar em tua casa, fazeres-lhe o pequeno-almoço e dizeres-lhe algo sobre a tua bonita cidade”. “Isto assim é apenas um hotel distribuído, onde se abusa do conforto dos outros cidadãos da cidade, os residentes, e se procura o lucro às suas custas”.
“Queremos também juntar-nos ao desafio das cidades europeias para negociar na área dos serviços de alojamento de curta duração para turistas”, escreve no seu Facebook o autarca. “Praga não é diferente de outras metrópoles europeias em que o Airbnb causa dificuldades. O tema poderia ser tratado a nível europeu”, defende.
Por isso mesmo, a capital checa juntou-se às cidades europeias que criaram uma espécie de união para se defenderem dos efeitos considerados nefastos do Airbnb. Em Junho, os seus representantes co-assinaram uma carta aberta à União Euiropeia a pedirem um esforço europeu conjunto para impedir o “crescimento explosivo” da plataforma e similares. Esta união “anti-Airbnb” inclui também Amesterdão, Barcelona, Berlim, Bordéus, Bruxelas, Cracóvia, Munique, Paris, Valência e Viena.