Centro de Convenções da Bahia poderá ser construído por empresas espanholas

Por Lício Ferreira

“Os estudos realizados pelas empresas espanholas OHL Desarrollos (OHLD) e Fira de Barcelona Internacional já foram liberados. Agora, estamos aguardando, no prazo máximo de seis meses, a entrega do projeto como um todo. Uma das empresas é construtora (OHLD). A outra é uma operadora de eventos. Ambas têm expertise e juntas podem sim, construir o novo Centro de Convenções do Estado, no prédio-sede do ex-Instituto do Cacau da Bahia”.

As declarações, por telefone, são do secretário estadual de Turismo, Fausto Franco, confirmando a notícia de que as duas empresas europeias “apresentaram interesse para elaborar estudos para viabilidade técnica, econômica e ambiental do Instituto do Cacau, a fim de implantar, no local, o novo Centro de Convenções da Bahia”. A implantação deve ser viabilizada por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) e o resultado da Manifestação de Interesse Privado (MIP) foi publicada, na última quinta-feira 13, no Diário Oficial do Estado (DOE).

 

Prédio-sede do ex-Instituto do Cacau da Bahia”. Foto: Romildo de Jesus / Tribuna da Bahia

 

A primeira informação sobre a realização desse estudo foi anunciada pelo próprio secretário estadual de Turismo, Fausto Franco, em janeiro passado, durante a Lavagem do Bonfim. Nesta sexta-feira 14, ele nos disse que a intenção do governador Rui Costa é de valorizar – cada vez mais – o Centro Antigo de Salvador. E, para a Cidade Baixa, em especial, serão realizados diversos investimentos. “O prédio histórico é, apenas um dos projetos em andamento. Pretendemos desapropriar imóveis ao redor do Instituto do Cacau da Bahia (ICB) e implantar centros comerciais, restaurantes, lojas e inaugurar o novo Centro de Convenções do Estado”, reforçou.

NEGATIVO

Sobre uma proposta que está sendo lançada, na mídia, pelo atual presidente do Instituto Metropolitano de Desenvolvimento Social e empresário, Mauro Cardim – candidato à prefeitura municipal de Lauro de Freitas – Fausto Franco foi bastante enfático: “Não há nenhum interesse de nossa parte nesta idéia. Estamos, sim, com foco total no Centro Antigo da cidade de Salvador”.

O propositor da idéia considera a melhor opção para implantação do novo equipamento, a cidade vizinha, “pois é o portão de entrada da Estrada do Coco e na medida em que Salvador já tem um Centro de Convenções, na Boca do Rio, é melhor para a economia da Região Metropolitana, a instalação do equipamento aqui”.

Mauro Cardim explica; “Trata-se de uma cidade, ao lado do Aeroporto; um paradisíaco balneário ao lado da capital; lugar acessível; e que oferece todos os serviços para receber turistas e congressistas. Além disso, temos área ideal para a sua instalação, no entorno da Via Metropolitana”.

Ocorre que o Governo do Estado não cogita em nenhuma hipótese qualquer mudança de planos. E ‘bate pé firme’ para construir seu equipamento novo no Antigo Centro de Salvador. “O nosso governador Rui Costa tem o olhar dirigido para a integração do novo equipamento de turismo com a Baía de Todos-os-Santos e o Veículo Leve Sobre Trilho (VLT), que será construído ainda nessa gestão”, antecipou Fausto Franco. Ele disse, ainda, que “todos os aspectos econômicos e financeiros do novo projeto serão avaliados pelas empresas, com lastro em um diagnóstico mais detalhado”.

PERTENCIMENTO

O prédio do Instituto do Cacau da Bahia, denominado ICB, pertence, de fato e de direito, à Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e, por duas vezes, foi atingido por incêndios. O primeiro no mês de novembro de 2011, quando uma sala foi atingida e ninguém ficou ferido na ocasião. Oito meses depois, em julho de 2012, ocorreu outro incêndio no terceiro andar do imóvel e também não houve registro de feridos. Mas um homem teve que ser resgatado, da cobertura do prédio, por um helicóptero da Polícia Militar. Um dia após o fogo, uma parte da parede desabou, por conta da estrutura comprometida por rachaduras.

Pela sua importância cultural o prédio localizado na Avenida da França, S/N , no bairro do Comércio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC-BA). O processo de Tombamento é de Nº 012/2002, e a resolução de Tombamento Nº 8.357/02, de 05/11/2002. No Livro do Tombo dos Bens Imóveis, o registro está com Inscrição nº 62. A história registra, ainda, que coube ao Dr. Ignácio Tosta Filho, secretário de Agricultura, da época, também defensor de medidas de amparo à produção e comercialização do cacau baiano, a concepção e criação do ICB, em 08 de junho de 1931.

Com sua arquitetura moderna e linhas avançadas, o prédio foi inaugurado em 1936. O projeto é do arquiteto alemão Alexander Buddeus, assinado em 1932 e, dentro dele, há um valioso patrimônio que resiste às ações do tempo. São quadros, móveis coloniais, documentos, louças, urnas indígenas e outros objetos, que contam a história da cultura cacaueira baiana. Há algum tempo esse espaço – na parte térrea do prédio – está fechado para visitação publica.

No local, onde o ICB foi construído, a área era apenas um aterro. Só tinha praticamente areia. Em entrevista á imprensa, o arquiteto Paulo Ormindo disse: “Ele foi um dos primeiros edifícios, na expansão que o Porto de Salvador sofreu, no começo do século passado. Dos anos 30, ele é o único imóvel público de Salvador, de arquitetura Bauhaus, e um dos primeiros estilos de arquitetura moderna no século XX”.

ANTIGO

Já o Centro de Convenções da Bahia (CCB) que funcionava no bairro do Stiep, teve o inicio do seu fim, na noite de 23 de setembro de 2016, quando partes localizadas fora de onde estavam sendo concluídas as obras de reforma, desabou, e feriu levemente três pessoas que trabalhavam no local, incluindo dois policiais militares. Nesta reforma, o Governo da Bahia tinha investido cerca de R$15 milhões para recuperação de estruturas de concretos que apresentavam problemas; revisão hidráulica e elétrica; pintura; revisão de forro e substituição de carpete. Também haviam sido recuperadas as torres das saídas de emergência; as portas ‘corta-fogo’; além de intervenções no Teatro Iemanjá.

Dias depois do desabamento, em 27 de setembro, o Governo da Bahia decidiu pela demolição do empreendimento. Para o desmonte parcial, foi feita uma chamada pública. E no dia 21 de outubro de 2016, o serviço foi orçado em R$1,89 milhão com prazo de 120 dias de duração, contado a partir da ordem de serviço. A desmontagem começou no dia 12 de dezembro de 2017. O desabamento foi causado por excesso de oxidação da estrutura e por falta de manutenção. O pior de tudo, é que para garantir a manutenção do equipamento, entre os anos de 2002 e 2016, o Governo da Bahia já tinha investido um total de R$ 29,2 milhões, em intervenções físicas.

Também, na época do desabamento, o governo da Bahia cogitou a construção de um equipamento similar em diversos locais. Agora, a última menção oficial do Governo da Bahia é de aproveitar o prédio do Instituto do Cacau da Bahia (ICB), Todos esperam que seja um final feliz para essa longa e triste história. O velho Centro de Convenções da Bahia (CCB) – que deverá ser leiloado – ocupa uma área de 153 mil metros quadrados, dos quais são 57 mil metros quadrados de área construída. Com estruturação projetada pelo engenheiro Carlos Emílio Meneses Strauch, a edificação se destaca pelas esculturas e pinturas à frente do prédio, que remetem à baianidade e são de autoria do artista plástico Bel Borba.

*Fonte: Tribuna da Bahia

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