Por Nelson Rocha
No momento em que o Brasil dá sinais claros de aquecimento do turismo, contabilizando números expressivos na cadeia produtiva do setor, surge o coronavírus que, a partir da China, se instalou na Europa, onde atinge em cheio países como a Itália e França, atravessou o Atlântico, chegou ao Brasil e agora é considerado pela Organização Mundial da Saúde como provocador de uma pandemia, por registrar casos nos seis continentes.
Apesar do ainda considerado pequeno número de possíveis infectados e alguns casos confirmados de contaminados no território nacional, o trade turístico baiano demonstra muita atenção, e até certa preocupação, com relação a esta situação inesperada de saúde pública, que já gerou alguns cancelamentos de reservas em hotéis de Salvador. O Portal Turismo Total ouviu alguns representantes do setor. Confira o que eles dizem:
“Ainda não é uma coisa que está afetando diretamente a hotelaria, mas alguns hotéis que já têm uma quantidade de turistas internacionais relevante, sobretudo da Itália, sem dúvida já começam a diminuir as reservas. Mas está muito longe ainda de ser um problema que está afetando diretamente a hotelaria”, declarou ao Portal Turismo Total Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/BA).
O dirigente adianta que a entidade já enviou um comunicado para os seus associados, recomendado cuidados básicos e procedimentos necessários, caso haja algum hóspede com alguma suspeita, ou algum funcionário que viajou e apresente sintomas da doença.
“Levar a um posto de saúde, colocar uma máscara, isolar o cliente, são orientações que estamos passando para os nossos associados. Já conversamos bastante com o secretário de saúde do estado e devemos fazer uma nova cartilha com mais detalhes, como se chegar um cliente com sintomas para onde ele deve ir, quem ele procurar, para a gente poder estar preparado pra isto. Lógico que vindo este problema para o Brasil, como está acontecendo em outros países, lógico que vai afetar o turismo de uma forma geral. Vamos rezar para que isto não se espalhe no país. Se isto acontecer será mais um obstáculo a passar. Vamos estar atentos, monitorando, acompanhando os casos para poder a gente se precaver”, acrescentou Luciano Lopes.
Turismo internacional
“Pela rapidez em que se espalhou pelo mundo, talvez nos atinja sim, principalmente com relação ao turismo internacional. Este sim, nos vamos ressentir”, acredita o hoteleiro Manoel Garrido.
“Os hotéis, resorts, que recebem turistas estrangeiros, com certeza vão sentir mais do que aqueles que recebem o turista nacional”, admite Garrido. A possível ausência de turistas oriundos da Europa, na capital baiana, preocupa o empresário. “Vai afetar, sim, as agências operadoras que trabalham com o receptivo. É um momento de atenção e de apreensão. As empresas locais, os hotéis principalmente, têm que ter cuidados para que o vírus não se prolifere, utilizando álcool gel, máscaras, luvas para os camareiros”, sugere.
Já o empresário Roberto Duran, presidente da Salvador Destination, que promove e organiza eventos em Salvador, não ver motivo para maiores preocupações com o surto do coronavírus.
“Lamentavelmente este é um vírus criado lá do lado da Ásia e que, infelizmente, me parece muito mais um fake news. Um vírus que obviamente tem a sua cautela, sua precaução, mas que é muito mais criado em cima de uma mídia, de interesses econômicos que estão por trás disto, e que vem prejudicando o turismo do mundo inteiro. É bom ficarmos em alerta e que a população, como um todo, comesse a abrir os seus olhos e realmente encare como ele é, um simples resfriado que não mata absolutamente ninguém. Obviamente teremos que ter as noções de higiene para combatê-lo. Não temos nada a temer porque qualquer vírus de gripe, ele roda o mundo de sete a quinze dias e todo o ano a gripe, seja ela um resfriadinho, mata mais de dois milhões de pessoas. Quem mata não é o coronavírus, o que mata é a pessoa estar debilitada, com sua imunidade baixa”, comentou o executivo.
Jorge Pinto, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV/BA), também considera que a atividade turística não precisa ter receios com a chegada do coronavírus no país.
“No momento o que nós estamos trabalhando é para gente ter tranquilidade, até porque nosso país não está totalmente contaminado como a gente ver no restante do mundo. Nós temos, sim, que ter cuidados. Nós temos um clima acima de 27 graus, que oferece uma certa resistência ao coronavírus. A gente está fazendo um tipo de tratativa, com cancelamento, uma série de fatores, para os nossos clientes, nossos turistas, fazendo com que a gente não possa ter pânico e colapso”, relatou. Pinto também elogiou a postura do Ministério da Saúde e secretárias municipal e estadual diante da situação e aposta no turismo interno para alavancar o setor.
“Nós vamos ter muitos feriados durante este ano, os fins de semana serão aproveitados. Vamos focar no turismo interno, enquanto se acomoda essa situação. Eu acredito que em dois meses a gente já tenha uma acomodação mundial da situação do coronavírus”.
Claudio Tinoco, secretário de Cultura e Turismo de Salvador, considera ser “prematuro fazermos uma avaliação, projetando consequências de médio e longo prazo. Essa epidemia já é, por se só, suficiente para poder impactar mundialmente, sobretudo o turismo. Assistimos países como a Itália, que é um dos mercados emissores significativos pra Salvador e a Bahia, entrar numa quarentena radical, residencial, eliminando os eventos e a concentração de pessoas. Isto impacta sim, bastante. Mas a gente acredita muito que esses ciclos são passageiros, não chega pra poder ser permanente no mundo e a gente credita muito que ele seja mais curto do que possa se estender. Nós não temos que temer nada. O que a gente precisa ter é responsabilidade, exigir de quem tem a responsabilidade toda atenção, todo o cuidado, pra que a gente proteja de fato todas essas ocorrências aqui no Brasil. Temos que estar atentos e alerta pra poder, em cima da responsabilidade que tem todos os poderes e todas instituições, não deixar isto contaminar o Brasil de uma forma tão significativa, como tem ocorrido em outros países”.
Na opinião de Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba), o turismo nacional “não tem nada a temer, visto que é um país tropical. Não estamos no período do inverno, então a disseminação para nós brasileiros vai ser um pouco mais difícil”, acredita. Já com relação ao turismo internacional, Pessoa observa que este será afetado globalmente. “Entre 5 e 10 por cento dos turistas que nos visitam são internacionais, vai ter uma baque com certeza. Estamos num momento de recuperação mas, infelizmente, os próximos 30 dias serão cruciais para a atividade turística”, observa.
A Bahia registra 187 casos notificados com suspeita clínica de infecção pelo Covid-19 e um terceiro caso está confirmado, todos no município de Feira de Santana. No país são 68 casos confirmados, segundo a última atualização do Ministério da Saúde. No mundo já são mais de 118 mil pessoas infectadas, em 114 países. Pelo menos 4.291 perderam a vida, segundo a OMS. Ao acabar de ler esta matéria, caro leitor, certamente e infelizmente, mais gente já estará infectada e tantas outras foram a óbito pelo mundo afora.
*Dados atualizados na manhã de hoje, 12.