Bahia perde o sambista Riachão, ícone da alegria e cultura do estado

Por Thaís Seixas,  Raphael Santana e Bruno Luiz

Morre aos 98 anos o cantor e compositor Riachão, nome artístico de Clementino Rodrigues, considerado um dos maiores nomes do samba da Bahia. Segundo informações da família, Riachão faleceu por volta das 5h, na casa onde morava, no bairro do Garcia, em Salvador, em decorrência de um câncer de próstata.

A informação sobre a morte foi confirmada pela Secretaria da Cultura do Estado da Bahia (Secult), e também pela vereadora Aladilce, que manteve contato com a neta do artista.

Autor de grandes sucessos que marcaram gerações, como ‘Cada macaco no seu galho’, ‘Retrato da Bahia’ e ‘Vá morar com o Diabo’, o sambista Riachão (foto) se preparava para lançar um álbum com músicas inéditas e clássicos ainda em 2020.

O objetivo do disco era garimpar, entre as mais de 500 composições do sambista, canções que ainda não tenham sido gravadas para compor o repertório.

Em quase um século de contribuições para o samba e a cultura da Bahia, o artista deixa um legado que perpassa gerações, desde os antigos ‘bambas’ até os foliões mais novos, que mantinham o ritual de acenar para ele durante a passagem da Mudança do Garcia, pelo circuito que leva seu nome e onde está o famoso sobrado da família.

E se a comoção se espalha entre as pessoas que conheciam a obra do sambista, é forte principalmente entre aqueles que conviviam diariamente com ele. Segundo a neta de Riachão, Carla Domênica, de 43 anos, ficam os ensinamentos e a trajetória do avô.

“Todos nós sentimos muito, porque ele era o alicerce da família, o nosso rei do samba, a nossa alegria.  A certeza é que ele vai em paz e levar muita alegria onde estiver. Os ensinamentos, as palavras .. tudo isso vai ficar com a gente. O mito não morre. Continua vivo dentro de nós”, ressalta ela.

Homenagens

Diferentes personalidades baianas também lamentaram a morte de Riachão. O diretor teatral e presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, exaltou a alegria do artista.

“Sem dúvida, vamos lamentar a perda desse ser iluminado, artista único, autor de mais de 500 composições, dentre as quais clássicos como Cada Macaco no seu Galho e Vá Morar com o Diabo. Vamos lembrar, também, de uma trajetória longa, que sempre celebrou a alegria e o bom humor. Essa figura genuinamente baiana, trazia em seu DNA a percepção rítmica e autoral do nosso modo de ser e conviver e transformou-se num dos maiores cronistas de nosso tempo. Viva a esse ser especial, ser humano incrível, que alegrou e continuará a alegrar, com seu legado, a todos nós!”, afirma Guerreiro.

O prefeito ACM Neto também destacou a influência do sambista para a música brasileira. ““Riachão sempre foi uma grande referência da cultura popular e, com sua alegria e irreverência presentes nas letras e no ritmo do samba, influenciou importantes nomes da MPB, como Gilberto Gil, Cássia Eller e Jackson do Pandeiro. Que Deus conforte os familiares e amigos de Riachão neste momento de profunda dor”, enfatizou.

O Secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Cláudio Tinoco, também lembou a trajetória do artista.

O samba brasileiro hoje chora. Riachão era história viva. Era a essência do nosso samba, da nossa identidade brasileira e tão importante para a música. Lamentamos imensamente sua morte”, afirmou Tinoco.

Já a Secretaria Estadual da Cultura manifestou solidadriedade ao samba brasileiro e aos familiares de Riachão, lembrando a história musical dele, que começou a cantar aos 9 anos.

Também gravado por Caetano Veloso, Dona Ivone Lara, entre outros, Clementino Rodrigues, popularmente conhecido por Riachão, começou a compor aos 15 anos de idade. O sambista foi alfaiate, office boy, vendedor de cachorro-quente e trabalhou na Rádio Sociedade da Bahia.

*Fonte: A Tarde e Redação; Foto: Raul Spinassé /Ag. A Tarde

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