Por Carlos Madeiro
Em 2015, o Nordeste se viu no epicentro de uma epidemia causada pelo vírus da Zika que impactou o turismo. No ano passado, foi a vez do óleo no mar resultar em cancelamentos de pacotes para a região. Entretanto, perto do momento atual da covid-19, as crises passadas quase parecem irrelevantes.
“Parou tudo completamente. Isso jamais tinha acontecido, os hotéis fecharam. A crise é avassaladora para o setor”, afirma José Odécio, presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) no Rio Grande do Norte.
Nenhuma região tem tanta dependência econômica do turismo como o Nordeste. Segundo o Ministério do Turismo, a região responde pelo recebimento de 41% do turismo doméstico em voos, seguido por Sul (26%) e Sudeste (20%). “No caso da Zika foi algo pontual. Já a crise do óleo não trouxe uma paralisação do setor, só uma redução temporária no número de reservas, com pouquíssimos cancelamentos”, explica o líder do trade no Rio Grande do Norte. O prejuízo que os empresários e estados terão ainda é incerto, mas sabe-se que será na casa dos bilhões.
Somente em Porto de Galinhas, principal destino turístico de Pernambuco, os empresários calcularam que, se os hotéis ficarem 90 dias fechados, a perda de receita será de R$ 976 milhões. “Nunca na história da hotelaria em Porto de Galinhas vivemos uma situação como esta. Já passamos por diversas retenções econômicas, mas nunca tivemos o fechamento dos hotéis”, afirma presidente do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau, Eduardo Tiburtius.
Tudo parado
Parques com grande visitação turística como Fernando de Noronha (PE), Jericoacoara (CE) e Lençóis Maranhenses estão fechados para visitação, sem previsão de retorno. Praticamente não há mais voos entre estados vindos do Sul e Sudeste e do exterior para o Nordeste, e também não há previsão de restabelecimento das rotas. Eventos corporativos e de classe, que movimentam as redes hoteleiras nesse período entre as férias, foram todos desmarcados. Grandes festas, como o São João de Campina Grande (PB), foram adiadas. A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em Pernambuco, ocorrerá pela primeira vez em sua história fora da Semana Santa, em setembro.
Com esse cenário, há uma enxurrada de cancelamentos, que atingem 85% das reservas do mês. “Esses três meses estão perdidos, e pior: as férias escolares de julho não vão ocorrer mais. Então, além da queda, o coice”, comenta José Odécio. Por conta da crise, a ABAV (Associação Brasileira de Agência de Viagens) informou que seus filiados praticamente pararam as vendas para atuarem em uma força-tarefa exclusiva para atender os clientes que tiveram voos cancelados e pacotes desmarcados.
Estados tentam ajudar
Os estados estão tentando se movimentar para ajudar o setor. No Maranhão, uma das demandas do trade ao governo do estado foi a ajuda com uma campanha publicitária incentivando a remarcação das viagens e a promoção dos destinos para comercialização posterior. No Ceará, entidades do setor de turismo e eventos se uniram e criaram um comitê para avaliar os impactos negativos da covid-19 e cobrar ações governamentais.
Na Bahia, a ABIH-BA disse que está “empenhada na busca do apoio dos governos federal, estadual e municipal, bem como de bancos de desenvolvimento e privados, além de instituições das mais diversas esferas, visando minimizar esses impactos nas operações de nossos associados.
*Fonte: UOL