Conheça a Turquia, o país das 1001 noites

Por Inês de Matos

Dividida entre a Europa e a Ásia, num território em tempos disputado por cristãos e muçulmanos, a Turquia é um destino turístico ímpar, que mistura história, religião e cultura. Venha com o Publituris e o Portal Turismo Total conhecer o país das 1001 noites.

Diz o ditado popular que ‘não há duas sem três’ e é verdade, pelo menos, confirmou-se na minha última viagem à Turquia, país que visitei entre 16 e 23 de fevereiro, a convite da Lusanova e da Turkish Airlines, que promoveram uma famtrip para dar a conhecer a um grupo de oito agentes de viagens o circuito ‘Turquia Eterna’, que começou em Istambul, passou por Ankara, Capadócia e Pamukkale, e só terminou em Izmir.

Foi também a terceira vez que visitei Istambul. A maior cidade da Turquia – que acolhe 16 dos 83 milhões de habitantes do país – é um destino que todos deveríamos visitar uma vez na vida, porque é uma lição de história, já que Istambul foi, por séculos, palco de guerras e invasões, mas também pela exuberante cultura e porque o povo turco sabe receber os turistas.

Apaixonei-me pela cidade na primeira visita, em 2012 e por motivos profissionais, voltei em 2018, de férias, e sabia que regressaria porque Istambul é uma cidade monumental, que faz sombra às mais belas capitais ocidentais, com a vantagem de ser também um livro de história permanentemente aberto, para consultarmos a nosso belo prazer, saltando do tempo dos romanos para a época dos sultões ou das batalhas entre cristãos e muçulmanos.

Fundada em 330 D.C. pelo imperador Constantino – a quem deve o nome de Constantinopla que envergou durante séculos – Istambul oferece um sem fim de monumentos que vão testemunhando as várias fases e períodos históricos que a cidade viveu. Um desses monumentos é o Museu de Santa Sofia, ou Aya Sofya em turco, que significa “Sagrada Sabedoria” e que é uma das mais impressionantes atrações de Istambul, seja pela sua dimensão ou pelas várias funções que desempenhou no passado, quando alternou entre catedral e mesquita, e que lhe deixaram marcas profundas.

Vista de fora, Santa Sofia distingue-se pela dimensão. O grandioso edifício, que foi a maior catedral do mundo por quase um milênio, representou um desafio para os arquitetos que o idealizaram pelo peso da sua cúpula, com mais de 55 metros de altura e 33 de diâmetro. Foi por causa da cúpula que Santa Sofia foi o primeiro edifício no mundo a possuir contrafortes, só assim foi possível que as paredes da catedral aguentassem o peso da cúpula descomunal.
Santa Sofia funcionou como catedral cristã até 1453, ano em que Istambul, então Constantinopla, foi conquistada pelo sultão Mehmet II, o Conquistador, que a transformou numa mesquita. É dessa época que datam os quatro minaretes que rodeiam o edifício e foi também nessa altura que os sinos e o altar da catedral foram retirados, enquanto os mosaicos que decoravam o interior foram cobertos com gesso, assim permanecendo durante os 478 anos seguintes. Em 1931, o edifício foi secularizado e, quatro anos depois, reabriu como museu, já com os mosaicos descobertos.  Estas fases históricas estão bem marcadas no interior do Museu de Santa Sofia e, hoje, os mosaicos com representações da vida de Cristo são exibidos, lado a lado, com versículos do Alcorão, numa prova de que as religiões podem conviver pacificamente, por muito que tenham motivado batalhas e guerras no passado.

Istambul

Chegamos a Istambul já a noite tinha caído e, por isso, apenas no dia seguinte começou verdadeiramente a aventura pela terra das 1001 noites. O antigo Hipódromo de Constantinopla, que era um centro desportivo e social, foi o primeiro ponto de visita, bem no centro histórico da cidade, a única no mundo dividida entre o continente europeu e o asiático.
Na época em que o Hipódromo foi construído, no século V, Constantinopla era a maior cidade do mundo e capital do império Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente. Hoje, restam poucos fragmentos da construção original e, no seu lugar, encontra-se a bem conhecida praça de Sultanahmet. Ainda que o Hipódromo tenha sido destruído, vale a pena passar pelo local e imaginar como seria o espaço na época dos bizantinos, quando tinha capacidade para 100 mil espetadores e era rodeado por palácios imperiais.

Depois do Hipódromo, seguimos para a Mesquita Azul, outra das imagens de marca de Istambul. Construída em 1609, em frente à catedral de Santa Sophia, a Mesquita Azul deve o nome aos mosaicos azuis de Iznik que se encontram no seu interior e é a única em Istambul que possui seis minaretes. Reza a história que o Sultão Ahmed I queria construir uma mesquita maior que Santa Sofia, como não conseguiu, apostou nos minaretes. Inicialmente, a ideia era até construir sete, mas já existia uma mesquita em Meca com esse número e o sultão não quis afrontar a cidade sagrada do Islão. Ficou com os seis minaretes que se impõem na paisagem da cidade, mesmo em frente ao Museu de Santa Sofia.

É nos arredores de Santa Sofia e da Mesquita Azul que se encontra ainda o Palácio de Topkapi, um majestoso complexo que, durante séculos, serviu de residência aos sultões otomanos e que chegou a albergar mais de quatro mil pessoas nos seus 700 mil metros quadrados de área. Por todo o complexo é possível visitar exposições sobre os sultões que habitaram o palácio, assim como algumas dedicadas à religião muçulmana, e é também possível visitar o Harem, a zona onde viviam as esposas e as futuras esposas dos sultões.

Em Istambul, imperativo é também passar pelo Grande Bazar, um espaço coberto onde quase tudo se comercializa e que conta com perto de 4.500 lojas, assim como pelo Bazar Egípcio, dedicado às especiarias, chás e aos famosos Turkish Delight, uma iguaria turca que pode ser vista como os primórdios das gomas atuais. Ambos os espaços são agradáveis, com de Mustafa Kemal Atatürk, o local onde se encontram os restos mortais do homem que terminou com o regime de sultanato e tornou a Turquia numa república, e que, ainda hoje, é amado pelo povo turco, “principalmente pelas mulheres”, como nos disse Sezen, a guia do receptivo Age Travel que nos acompanhou durante toda a viagem e que nos explicou que foi Atatürk quem emancipou as mulheres turcas, ao conferir-lhes diversos direitos, como o direito de voto, instituído em 1934, e proibiu o uso da burka, obrigatório durante o regime Otomano, que vigorou até final da I Guerra Mundial.

Visitar o Mausoléu de Atatürk é uma forma de se ficar a conhecer melhor a história do país, com a vantagem do espaço ser também um bonito monumento, que conta com uma praça central onde se costumam realizar eventos diversos e que conta também com várias exposições sobre a história da Turquia e de Mustafa Kemal Atatürk, cujo corpo foi sepultado junto com 81 vazos com terra de cidades turcas, assim como do Chipre e Azerbaijão, a ilha do Mediterrâneo onde a Turquia está presente e o país com o qual tem relações privilegiadas.
Apesar de ser uma cidade relativamente recente, já que foi fundada em 1923, Ankara localiza-se na Anatólia Central, região que já era habitada há mais de 10 mil anos a.C. e cujos vestígios históricos dessa época se encontram reunidos no Museu das Civilizações da Anatólia. É neste museu que se encontra, por exemplo, a maior coleção de achados arqueológicos do tempo dos Hititas, um povo indo-europeu que se estabeleceu nesta região e que adorava o sol e venerava o boi. É por isso que o símbolo de Ankara foi, durante largas décadas, uma réplica de uma peça encontrada nas ruínas de uma antiga cidade Hitita e que representa o ciclo do sol, no qual o boi surge em lugar de destaque. A peça original pode ser vista no Museu das Civilizações da Anatólia, na zona dedicada à idade do bronze, já que o museu está organizado por épocas, desde o paleolítico, o que ajuda a que percebamos a evolução destas civilizações históricas, que moldaram muito do que somos hoje enquanto sociedade.

Capadócia

Da capital partimos rumo à Capadócia, na Anatólia Central, e uma das regiões da Turquia mais procuradas pelos turistas, devido às formações rochosas que parecem saídas de contos de fadas. Não é à toa que os locais as apelidam de ‘chaminés de fadas’. Segundo a guia Sezen, estas formações de tufo calcário resultaram de uma erupção vulcânica e foram esculpidas naturalmente pela erosão, ao longo de milhões de anos. Hoje, são uma das principais atrações devido ao seu aspeto peculiar, que confere um carácter tão invulgar à paisagem da Capadócia.

Pelo caminho, passamos ainda pelo Lago Tuz, o maior lago salgado da Turquia, de onde é extraído muito do sal consumido no país, mas não nos demoramos, apenas o suficiente para registar o momento em fotografia. É que o lago é mais interessante no verão, quando a água evapora e deixa à superfície uma camada de sal que chega a 30 centímetros de espessura.
Ao contrário do Lago Tuz, o inverno torna a Capadócia ainda mais exuberante, já que as formações rochosas se pintam de branco com a neve, que transforma a paisagem quase lunar desta região. Tal como Istambul, esta viagem foi também um regresso à Capadócia, região que tinha visitado em 2012, sem neve, e que voltei agora a encontrar tão bela como então, mas com o branco da neve como um acessório especial, que lhe confere ainda maior beleza. É por isso que a procura por passeios de balão de ar quente, uma das imagens de marca da região, não arrefece no inverno, é que apesar do frio a paisagem fica ainda mais atrativa.

Começamos a visita à Capadócia pelas cidades subterrâneas. Por toda a região, existem mais de 60 cidades subterrâneas, algumas das quais com capacidade para 20 mil pessoas e que incluem vários níveis. Os relatos históricos são imprecisos e, por isso, não se sabe ao certo quando é que os habitantes desta região começaram a escavar a rocha e a construir cidades subterrâneas, ainda que vestígios encontrados apontem para vários milhares de anos antes de Cristo. Estas cidades terão, no entanto, ganho novo fôlego após o surgimento do cristianismo, quando os cristãos perseguidos precisaram de encontrar abrigo, daí que muitas cidades tenham igrejas no interior. Além de igrejas, incluíam também lagares, estábulos, poços e até um avançado sistema de ventilação, que permitia que o ar chegasse aos níveis mais inferiores.

Visitamos a cidade de São Mercurius, aberta ao turismo desde 2016 e que no século II D.C. acolhia quatro mil pessoas. A visita é interessante e divertida, mas pode ser assustadora para quem é claustrofóbico, pois é necessário atravessar passagens estreitas e túneis apertados.

Mas o esplendor da região só se revelaria por completo no dia seguinte, quando visitamos Göreme e o seu magnífico museu ao ar livre, que combina as características formações rochosas da Capadócia, com cavernas escavadas na rocha, naquilo que, no passado, foi uma espécie de mosteiro cristão, com várias igrejas e alojamentos para os monges. A zona de Göreme está classificada pela UNESCO como Patrimônio Mundial desde 1985 e, no interior, muitas cavernas ainda contam com frescos sobre a vida de Cristo, como a Igreja da Maçã, assim denominada porque um dos frescos retrata o Arcanjo Gabriel com um globo na mão, o que foi confundido pelos locais com uma maçã, daí que tenha ficado conhecida por esse nome.

Houve ainda tempo para passar no Vale Vermelho e Vale de Uçhisar, onde a paisagem também é marcada pelas ‘chaminés de fadas’; assim como para assistir a um espetáculo de danças tradicionais, que nos brindou com coreografias típicas, incluindo a famosa dança do ventre.

Pamukkale

Depois da Capadócia, seguimos pela antiga Rota da Seda até Pamukkale, uma das cidades termais mais conhecidas da Turquia, cujo nome significa ‘Castelo de Algodão’, o que se deve às formações calcárias brancas que, com o passar dos anos, deram origem a uma espécie de piscinas em cascata e que parecem feitas de algodão.

Era uma das visitas em relação à qual mais expetativa alimentei e, apesar de não ter sido uma desilusão, também não posso dizer que correspondeu ao imaginado. Apesar da beleza do local, que é Património Mundial da UNESCO desde 1988, a visita a Pamukkale tem mais impacto durante o verão, quando todas as piscinas estão cheias de água termal e pintam a paisagem de branco e azul, já que, no inverno, muitas piscinas ficam vazias, o que retira cor e exuberância ao cenário e transforma completamente a paisagem.

Mas, em Pamukkale, não são apenas as piscinas termais que interessam, uma vez que as propriedades termais desta região são conhecidas há séculos, o que levou os gregos a fundar nesta zona a cidade de Hierápolis, no século II a.C. Os gregos permaneceram na cidade até às primeiras décadas d.C., mas um violento terramoto viria a destruir Hierápolis, que foi reconstruída, apesar de ter perdido quase todo o seu carácter helenístico, tornando-se numa cidade tipicamente romana, onde os banhos termais eram o ex-libris. Desses tempos, restam ainda diversos vestígios, como os 1.200 túmulos gregos, romanos e cristãos, a ágora e o coliseu, que tinham capacidade para 15 mil pessoas, o que quer dizer que a cidade teria cerca de 150 mil habitantes, já que os teatros desses tempos costumavam ter capacidade para 10% da população da cidade.

As propriedades termais eram, no entanto, o principal atrativo da cidade, tanto que até Cleópatra se banhou numa das suas piscinas, quando visitou a cidade depois de se casar com Marco António. A piscina ficou conhecida para a posteridade como a ‘piscina da Cleópatra’ e ainda hoje pode ser visitada, permitindo-nos imaginar como era a cidade nos tempos em que a bela rainha egípcia a visitou.

Éfeso

Depois de conhecermos a região termal de Pamukkale, voltámos à estrada, com destino a Éfeso, outra antiga cidade grega, cujo período áureo foi, no entanto, vivido já durante a ocupação romana, quando chegou a ser a segunda maior cidade do império, depois de Roma.
A cidade terá nascido por causa do Templo de Artémis, uma das sete maravilhas do mundo antigo, que levou muitos a fixarem-se nos arredores deste local sagrado. O templo seria destruído numa revolta popular, mas a cidade manteve-se e, apesar dos violentos terramotos, só o assoreamento do rio Caístro, onde ficava o importante porto da cidade, ditaria o seu definhamento.

Na época dos romanos, Éfeso era uma autêntica metrópole, tinha uma população de cerca de 350 mil habitantes, que chegava a 500 mil quando os soldados romanos estavam na cidade, duas ágoras, um teatro com capacidade para 35 mil pessoas e a terceira maior biblioteca do mundo antigo, a Biblioteca de Celso, que apenas ficava atrás das bibliotecas de Alexandria e Pérgamo. E com tantos soldados a visitar a cidade, era natural que em Éfeso não faltasse sequer um bordel, já que, além do corpo e do espírito, era preciso cuidar também do coração.

Percebemos a importância que tinha Éfeso e a grandiosidade da cidade assim que começamos a caminhar pelas suas ruínas. A rua que vai desde o início da cidade até ao rio é quase uma avenida e encontrava-se totalmente ladeada por majestosas colunas e estátuas de pedra. Ainda hoje é impressionante caminhar por esta rua e imaginar como seria nos tempos áureos de Éfeso. Mas há uma parte da cidade a que ninguém resiste e onde se soltam as gargalhadas mais genuínas: as latrinas. As casas-de-banho públicas de Éfeso estão bem conservadas e basta olhar para elas para percebermos do que se tratava. Reza a história que eram usadas pelas mulheres durante a manhã e pelos homens à tarde, e que, à falta de papel higiénico, se usavam umas esponjas reutilizáveis, o que não abona muito em favor dos hábitos de higiene de então. A urina era, depois, usada nos têxteis e as fezes para fertilizar a terra, ou seja, seguindo à risca o lema de Lavoisier, “nada se perde, tudo se transforma”.
Em Éfeso, demos ainda um saltinho à Casa da Virgem Maria, localizada no monte Koressos, a poucos minutos da cidade histórica. A forma como este local foi descoberto pode ser comparada a um milagre: segundo consta, foi encontrado depois da freira alemã Ana Catarina Emmerich ter tido uma série de visões sobre a vida de Cristo e da Virgem Maria. Foi com base nas suas visões, que os historiadores se deslocaram à região e encontraram uma pequena casa de pedra, que veio confirmar os relatos de Ana Catarina Emmerich. Desde então, é visto como um local sagrado e é destino de milhares de peregrinos anualmente.

E foi a pensar em todas estas histórias do mundo antigo que seguimos para Izmir, a terceira maior cidade da Turquia e uma das mais antigas da bacia do Mediterrâneo, que se localiza junto ao mar Egeu. O tempo em Izmir não foi muito, mas permitiu dar um passeio pela cidade, junto ao mar, e fazer as últimas compras em terras turcas, já que os preços são muito mais apelativos que em Istambul. Foi o suficiente para perceber que, na próxima vez que visitar a Turquia, a quarta, portanto, terei de voltar a Izmir. Neste caso, espero superar o ditado e que, depois da terceira visita à Turquia, haja uma quarta. Insha’Allah, como dizem os muçulmanos.

*A jornalista do Publituris viajou a convite da Lusanova e da Turkish Airlines.

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