Por Nelson Rocha
A banda Olodum foi um dos principais destaques do Carnaval 2020 de Salvador (BA), com mais de sete horas de exposição na mídia televisiva entre os dias 20 e 25 de fevereiro. É o que apontou uma pesquisa realizada, que mediu os resultados dos esforços de marketing e mídia espontânea de todas as atrações da folia baiana. Entre os blocos afros e afoxé, a atração foi a mais falada e comentada, segundo o levantamento. No próximo dia 30, os internautas vão requebrar com a deusa de marrom. Será uma alegria geral, com a live do Olodum, programada para às 20 horas.
No Carnaval o Olodum desfilou no Pelourinho na sexta-feira, domingo e terça-feira, falando das histórias de lutas por direito a igualdade por parte das mulheres em diversos países do mundo.
Com o som envolvente de sua percussão levou para as ruas a música “Mãe Já”- veja o vídeo – gravada com Carlinhos Brown, e sucessos que celebram o samba reggae, a exemplo de Faraó, Avisa lá, Rosa, Deusa do Amor e Protesto Olodum e novas como O Nome da Rosa e A Ver Navios. Milhares de turistas acompanharam os ensaios de verão do Olodum e os desfiles do período carnavalesco.
Se toda essa exposição da banda Olodum ao longo da alta estação fosse transformada em investimento publicitário, as marcas associadas a ela certamente teriam que desembolsar milhões de reais em propaganda.
História
O grupo surgiu de uma brincadeira carnavalesca em 25 de abril de 1979 entre os amigos Carlos Alberto Conceição, Geraldo Miranda, José Luiz Souza Máximo, José Carlos Conceição, Antônio Jorge Souza Almeida, Edson Santos da Cruz e Francisco Carlos Souza Almeida. O que era para ser uma opção de lazer momentânea para os moradores do Maciel-Pelourinho ganhou todo o mundo.
A palavra Olodum é de origem Yorubana, idioma falado pelos Yorubás vindos da Nigéria e do Benin para a Bahia em séculos passados. A palavra completa é Olodumaré – o Deus criador, o Senhor do universo e representa no Candomblé um princípio vital, a Suprema Ordem Fundamental – SOF.
O grupo mostrou sonoridades diferentes, transformou a musicalidade africana calcada na percussão e originou novos ritmos, como o Ijexá, Samba, Alujá, Reggae, Forró e se transformou numa expressão viva do samba-reggae, ritmo idealizado por Neguinho do Samba. Daí em diante, o que era apenas um sonho, virou realidade. O Olodum conquistou o mercado musical e se transformou numa das bandas percussivas de maior sucesso no Brasil e até internacionalmente.
Cultura
“A força do Olodum tem a ver com a nossa cultura, com o nosso povo, nossa gente, com a capacidade de criar, de inventar, e de relacionar Salvador e a Bahia com o mundo. É o que o Olodum fez e faz. A gente relacionou o Olodum com os Estados Unidos, com a Europa, com a África, Ásia, América Latina, com artistas, com personalidades, cinco prêmios Nobel da Paz”, pontuou João Jorge, presidente do Olodum.
Ele observou que o jeito baiano de ser é extremamente amoroso e agradável, com uma cultura similar com várias cidades do mundo. “Com o Olodum isto é mais similar ainda, uma forma de ajudar a desenvolver nossa cidade, nosso estado, as pessoas. Diferentes gerações estão por aqui”, enfatizou ao receber o Portal Turismo Total na sede da entidade, localizada no coração do Centro Histórico de Salvador, o Pelourinho.
“É o principal ativo do turismo da Bahia”, diz referindo-se à força do Olodum. “O estado da Bahia, se soubesse, trabalharia muito mais com as ideias do Olodum, do que apenas tentar vender acarajé, fitinhas do Senhor do Bonfim. É um mundo moderno, e que também mudou muito a expectativa das pessoas viajantes e tudo”.
João Jorge demonstra orgulho pela contribuição cultural do bloco e banda para a capital e o destino Bahia. “Nós somos ativistas da área da cultura, fazemos eventos o ano inteiro, todas as semanas, e isto gera, na realidade, dividendos pra Salvador, pra Bahia, no ponto de vista de gerar negócios pra economia criativa, que é a nossa paixão, nosso tesão”.
Aos 40 anos o Olodum está rico, o Olodum está pobre, o Olodum pirou de vez? pergunta o repórter: “O Olodum está rico, o Olodum está pobre, está rock, o Olodum pirou de vez e vai continuar pirando de vez. Nos dias de hoje é necessário”, responde o executivo de uma alegria autenticamente afro-baiana, movida pelo samba-reggae.
Quanto à reação dos turistas diante do Olodum, esta é de “pura magia”, conforme Lazinho, cantor da banda, para quem no passado, antes do início do rufar dos tambores do grupo no Pelourinho, não havia como manter o turista no centro histórico da cidade, patrimônio da humanidade.
“Até então o centro histórico era considerado pela sociedade como um antro de marginal e delinquência e o Olodum mudou essa estória. Fez com que o turista visitasse o Pelourinho e ficasse mais tempo na cidade”.
“Cada ano é mais empolgante, envolvente, essa força do Olodum. Tem turista que desce na cidade e já procura saber onde é o Olodum”, diz feliz Elpídio Bastos, diretor musical integrante da Família Olodum.
“Todas as vezes que venho à Salvador, não perco o ensaio do Olodum. É bom demais! Uma terapia alegre, dançante, contagiante. O turista que visitar Salvador e não curtir ao menos um ensaio do Olodum, não sabe o quanto perde do bom que a Bahia tem”, declarou a paulistana Alice Bittencourt, sob os acordes do primeiro ensaio do Olodum no novo ano 2020, na Praça Tereza Batista. Para muitos, aquele ensaio que jamais se esquece.
“É impossível esquecer. A percussão é ótima, os cantores , a banda e as atrações são perfeitas, e a gente tem só que aproveitar e dançar, cantar, se carregar de boas vibrações da Bahia”, mandou Ana Cristina Figueiredo, do Paraná, outra turista que aplaudiu o Olodum e a cantora Sarajane, convidada da noite em que o Portal Turismo Total marcou presença no reduto dos tambores, que rufaram e atraíram centenas de baianos e turistas para o centro histórico da primeira capital do Brasil.
“Cantar com o Olodum é maravilhoso! São 40 anos de Sarajane, 40 anos do Olodum, 70 anos de trio elétrico, 35 anos de Axé music, é muito a festejar.”, comemorou Sarajane, pouco antes de subir ao palco e mostrar toda a sua admiração e intimidade com o balanço da banda afro-pop-latina-americana- baiana.
Foram quatro ensaios em janeiro, dois em fevereiro, Carnaval e na sequência agenda suspensa, inclusive uma viagem à Costa do Marfim em março, devido à pandemia provocada pelo coronavírus.
Quanto aos ensaios de verão, Marcelo Gentil, vice-presidente da instituição, comentou: “Oitenta por cento do público dos ensaios da Terça-feira é seguramente formado por turistas, estrangeiros e nacionais. Aos domingos nós também fizemos ensaios, no mesmo espaço – que pode receber 1.200 pessoas -, só da percussão e cantores. Termina que o público presente de domingo aí já é ao contrário, 80 por cento é formado pelo público local e 20 por cento apenas de turistas”.
São 120 percussionistas no Olodum. Todos se apresentaram na sexta-feira de Carnaval, quando a formação é parecida com a de uma escola de samba. Mas nos shows da banda sobem ao palco 17 integrantes, entre percussão, instrumentos de harmonia e produção. A mesma equipe que viaja pela Bahia, Brasil e o exterior.
“Pelo fato de o Olodum viajar muito pelo mundo e de associar a sua imagem à imagem da cidade do Salvador e do estado da Bahia, nós terminamos em nos transformando numa espécie de grande embaixador cultural do Brasil e da Bahia. Por conta dessas nossas andanças pelo mundo, as pessoas conhecem o Olodum, a força musical e social do Olodum e, depois, muitas dessas pessoas vêm à Salvador para ver o Olodum, quer seja no período de alta estação ou brincar o Carnaval no Olodum. Não tenho dúvida que o Olodum deu uma contribuição bastante significativa para o Pelourinho se transformasse naquilo que ele é hoje”, finalizou Gentil.
Quando a pandemia passar, certamente toda essa alegria e energia do Olodum vai voltar. Enquanto isto não acontece, aproveite para neste dia 30, curtir os principais sucessos da banda no youtube da Macaco Gordo: Acesse o link: youtube.com/macacogordo e viva um momento de diversão como se estivesse no Pelourinho, de Salvador da Bahia.