“Novo Normal”: Crônica de uma viagem inadiável aos EUA, em tempo de pandemia

 

Por Carlos Prado

O título deste artigo expressa o desejo de compartilhar sentimentos vivenciados na viagem que fiz aos EUA. Sim, embarquei sexta-feira – dia 24 de abril – e retornei após quatro dias. Ou seja: precisei sair de casa e romper com o isolamento social e em pleno período de quarentena. Não tinha como adiar a assinatura de um contrato.

Diante de inúmeras recomendações familiares, parti de Atibaia dirigindo o meu próprio carro rumo ao aeroporto de Viracopos. Na bagagem, além de máscaras para reposição sempre que necessário e frascos com 200 ml de álcool gel, levei comigo papel toalha, lenço umedecido e uma fronha para recobrir o encosto da poltrona a bordo do avião.

Carlos Prado, de mascara quadriculada, na viagem que lhe inspirou este artigo. Foto: Divulgação

 

Medo. Esta é a palavra que melhor sintetiza o que sentia durante o trajeto. Logo que cheguei no estacionamento do aeroporto, levei um choque: apenas algumas das 1200 vagas cobertas estavam ocupadas. A sensação de vazio me preencheu.

Tristeza. Foi o que senti ao constatar o distanciamento entre as poucas pessoas circulando no saguão principal. Maioria absoluta com máscaras, em respeito às orientações, espalhava-se na sala de embarque. Até chegar lá, não tenho ideia de quantas vezes fui ao banheiro lavar as mãos e me higienizar com álcool gel.

A bordo, com poucas pessoas no voo noturno da Azul, coloquei venda nos olhos e antes de dormir, de máscara, mesmo ainda chocado e incomodado com aquela situação, meus pensamentos trilhavam um turbilhão de emoções.

Ao mesmo tempo em que me sentia grato pela companhia aérea manter o serviço, mesmo amargando pesados prejuízos, sofria de imaginar milhões de pessoas desprotegidas e obrigadas a utilizar transporte público. “Os governantes precisam assegurar o uso de máscara em todas as metrópoles”, disse a mim mesmo.

Reconfortado pelo fato de estar viajando e poder reviver a experiência prazerosa de logo mais entrar em contato com outras culturas, adormeci. Aquela chama do turismo, apesar dos pesares, se mantinha acessa.

No aeroporto de Orlando, a migração viu e fez que não viu meu arsenal de álcool gel. Aliás, providencial; pois a imundice dos carrinhos disponíveis no desembarque, que se equiparava aos carrinhos de Viracopos, já justificava o uso constante. A cada interação, desde o resgate da mala, passando pela apresentação do passaporte, até chegar na Hertz, para locar o carro e seguir rumo à Miami, lá ia eu lavar as mãos.

Assumi para mim mesmo que o novo normal impunha novos hábitos. Apesar do atendimento 100% digitalizado para quem, como eu, já estava cadastrado na locadora, higienizei o câmbio, a maçaneta da porta do motorista e o volante.

No trajeto pela estrada Florida Turnpike, postos de gasolina abertos em sistema de “take way”. No percurso de 380 km e no destino, alimentação apenas à base do self service de produtos embalados. Observei hotéis, shoppings e outlets fechados. Nada de aglomerações nos supermercados abertos, que impõem restrições à quantidade de pessoas com acesso às compras.

Cheguei pontualmente à reunião previamente agendada. Satisfeito por ter conseguido concretizar o negócio, que havia sido iniciado antes da Pandemia, fui direto para o meu apartamento. Na TV, boa notícia: exceto Nova Iorque, várias cidades em outros estados previam poder abrir alguns serviços no dia 4 de maio.

Em área comum do condomínio, sem perceber a presença de outras pessoas por perto, tirei a máscara para atender o celular. Não demorou para o segurança do prédio fazer o alerta. Atendi prontamente. Tranquilo, mas sempre atento e cuidadoso, fui às compras no Walmart.

Na volta ao Brasil, o voo da Azul estava lotado. Todos com máscara o tempo todo na executiva, exceto durante as refeições. Sereno, desfrutei da viagem.

Incrível a capacidade do ser humano de se adaptar!

Aproveitei a experiência para fazer apontamentos de medidas de prevenção que precisam ser adotadas, tendo em vista a retomada da demanda, com garantia de proteção. Além da mencionada e urgente limpeza dos carrinhos em aeroportos, sugiro: instalação de equipamentos pulverizadores, para borrifar produtos que aumentam a higienização; equipes treinadas para aferir a temperatura; pontos de distribuição de máscaras, álcool gel e lenços umedecidos com campanhas de recomendação de uso constante e distanciamento social sempre que possível.

Assim como os diferentes meios de transporte, hospedagem e serviços receptivos, incluindo eventos corporativos, sociais e entretenimento, que são o alicerce da Economia do Turismo, a sociedade como um todo terá que se adaptar.

Agora, aguardo em São Paulo o período recomendado pelas autoridades sanitárias para retornar ao convívio familiar, mais seguro e confiante.

Novo normal, bem-vindo!

Carlos Prado – Contabilista, administrador de empresas, pós-graduado em Marketing e com formação de conselheiro pelo IBGC. É presidente do Grupo Tour House, criado em 1990; presidente do Conselho de Administração da Abracorp; membro do CEO Insights – IBE/FGV e do LIDE – Líderes Empresariais.

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