Por Rachel Verano
Praia, restaurante, padaria… Como está sendo o “novo normal” em Lisboa e arredores com o fim da quarentena absoluta.
Portugal começou o mês de maio aliviando a quarentena, depois de um mês e meio de lockdown, quando só era permitido sair de casa para atividades consideradas essenciais, como ir ao supermercado, à farmácia, ao médico e fazer exercícios físicos. Na primeira fase do desconfinamento, que durou do dia 4 ao dia 17, reabriram as pequenas lojas, salões e barbearias. Mas esta foi a semana mais aguardada – desde a última segunda-feira, dia 18, os restaurantes e cafés têm permissão para abrir as portas (com 50% da capacidade e observando todas as regras de higiene e segurança), os museus e atrações voltaram a funcionar, as aulas para os alunos dos 11º e 12º anos retornaram (para os demais a escola segue virtual até o final do período letivo) e já é permitido ir à praia. Finalmente a vida começa a dar indícios de ir voltando ao normal, enquanto as pessoas vão redescobrindo como se adaptar à nova realidade. A seguir, depoimentos de alguns brasileiros que vivem em Lisboa contam como têm encarado a semana cheia de novidades e o que já se permitiram fazer do lado de fora de casa.
Marcia Bueno Netto, 60 anos, de São Paulo
“Escolhi o primeiro dia do desconfinamento para ser especial”, diz a designer de interiores, moradora de Lisboa há um ano e meio, que acordou cedo na segunda-feira e foi, acompanhada do marido e da sobrinha, passar o dia em Sintra. Depois de quase dois meses saindo para ir apenas ao supermercado esporadicamente, ela confessa que estranhou a liberdade. “No começo fiquei me sentindo culpada”, diz ela.
“Mas o dia estava tão bonito que, chegando lá, foi maravilhoso, me senti livre e tão feliz que até me esqueci do vírus! Desde março que não me sentia assim!” O passeio, sempre de máscara nos lugares fechados, começou com uma visita ao icônico Palácio da Pena e seguiu pelo Castelo dos Mouros, o Palácio Nacional e o Chalet da Condessa d’Edla, as principais atrações da cidade no alto da serra. O melhor? Com a ausência dos estrangeiros, estava tudo vazio. “Até o Palácio da Pena, que sempre tem filas enormes, tinha pouquíssima gente. Isso acabou permitindo um outro olhar, vi tudo de outra forma, com mais calma, prestando mais atenção aos detalhes!”
Hermés Galvão, 45 anos, do Rio de Janeiro
O jornalista carioca aproveitou a quarentena para mudar de casa em Lisboa e adotar um cachorro, o Feijão. Desde que passou a ser permitido ir à praia, é para a beira-mar que eles fogem, sempre rumo a areias vazias, mesmo que isso signifique mais de uma hora de viagem.
“É o lugar mais seguro e mais saudável para estar”, diz ele, já bronzeado como só um carioca consegue depois de um longo inverno e uma primavera entre quatro paredes. Hermés também adotou como prática no dia a dia o consumo em quitandas portuguesas do seu bairro e a preferência por produtos nacionais e de pequenos produtores.
“As pessoas têm que procurar entender o desconfinamento como uma nova resolução de vida”, diz ele. “Quem vai para a fila da Zara não aprendeu nada!” Da única experiência de jantar fora esta semana, ele constatou: “está triste, não tinha mais ninguém nas tasquinha.”
Mariana Gentile, 35 anos, de São Paulo
Moradora de Lisboa há 4 anos, a profissional de RH foi convencida pelo marido (português, piloto da TAP) a sair logo no primeiro dia. “Ele já estava ansioso e achava fundamental voltar logo à normalidade tanto pela nossa sanidade mental quanto pela economia”, diz ela, que acabou aceitando o convite para ir jogar padel e, depois, passear pela cidade. Eis que no meio do caminho passaram em frente à sua hamburgueria favorita e resolveram entrar.
“Nos pediram para limpar as mãos com álcool gel na entrada e ficar de máscara até a nossa comida chegar; na hora de fazer o pedido, o cardápio foi substituído por um QR code que lemos com os nossos próprios celulares”, conta Mariana. “Foi estranho, não tinha aquela agitação característica; estava vazio e frio, foi triste. Ao mesmo tempo, foi bom ter a sensação de que vamos voltar ao normal – mas não foi normal!”.
Marco Hennies, 54 anos, de São Paulo
Se tinha uma coisa que o relações públicas fazia religiosamente todos os dias havia tempos era começar o dia com um café da manhã na padaria perto de sua casa no bairro do Príncipe Real, em Lisboa. Cheio de saudades de seu croissant tipo brioche recheado com queijo e presunto, seu suco de laranja e seu café expresso, foi para lá que ele correu logo cedo na segunda-feira. “Encontrei um salão completamente vazio e um ambiente extremamente limpo – nem as migalhinhas de pão no chão, tão comuns numa padaria, estavam lá”, diz ele, que teve que usar uma máscara e higienizar as mãos com álcool gel antes de entrar. “Adorei poder voltar ao meu ritual para começar o dia!” Cauteloso, Marco conta que é a única “aventura” que se permite no dia a dia desde então, além de ter ampliado um pouco mais suas caminhadas diárias – agora, já não se limita aos arredores de casa e anda um pouco mais até dar de cara com o Tejo, para depois voltar com calma pelas praças do centro de Lisboa.
Maria Tereza de Iuliis, 50 anos, de São Paulo
Depois de 60 dias em casa, a consultora de turismo não imaginava que ia sair tão cedo, mas a terça-feira amanheceu um dia lindo de sol e calor e a família resolveu ir à praia. Antes de se acomodar na areia, ela decidiu comer alguma coisa no bar em frente. “Coisas pequenas deixam as pessoas tão felizes. Quase chorei ao ver as pessoas nas esplanadas!”, diz ela. “Mas no começo teve todo um estranhamento. Entrei de máscara, tinha um caminho para entrar e outro para sair da varanda. O menu, de plástico, era higienizado o tempo todo pelos funcionários. Foi bizarro ver gente molhada, de sunga, entrando de máscara para buscar alguma coisa.” Da experiência na praia, propriamente dita, ela não gostou. “Me senti insegura e incomodada, tinha gente jogando vôlei, futebol, sem noção! Tava tudo muito normal, eu gosto de regras!”. *Fonte: Viagem