Área preservada em Goiás abriga centenas de cavernas. O complexo de atrações subterrâneas é um paraíso do turismo de aventura e ecoturismo no Centro-Oeste
Por Geraldo Gurgel
O “ronco” das águas no interior das cavernas deu nome ao Parque Estadual Terra Ronca, localizado nos municípios de São Domingos e Guarani de Goiás, na divisa de Goiás com a Bahia. A paisagem do Cerrado e a Serra Geral de Goiás, com trilhas, veredas, rios e cachoeiras completam o cenário de um destino encantador de ecoturismo localizado a 600 quilômetros de Goiânia e 400 quilômetros de Brasília.
Para quem busca as belezas escondidas nas entranhas da terra, a região ainda é pouco explorada pelo turismo, mas muito pesquisada por geólogos, biólogos e espeleólogos que já localizaram centenas de cavernas. São cavernas “secas” e “molhadas”, muitas delas atravessadas pelos rios que cortam o parque. Um misterioso e sombrio mundo subterrâneo revelado aos visitantes pela luz das lanternas, tendo o auxílio de condutores experientes.
Os pontos de apoio das expedições que visitam o parque são as cidades de São Domingos e Guarani de Goiás, onde é possível chegar pelas estradas asfaltadas que partem da BR-020, principal ligação entre Brasília (DF) e Barreiras (BA). Uma estrada de terra com 70 quilômetros interliga as duas cidades nas extremidades do parque. A maioria dos atrativos fica na metade desse caminho, na altura do povoado de São João Evangelista, que também oferece hospedagem, alimentação e condutores locais autorizados a entrar nas cavernas.
A Agência de Notícias do Turismo acompanhou, durante três dias, a aventura de turistas de Brasília, Goiânia, São Paulo e João Pessoa pelos encantos da região. Coincidentemente, o cenário que lembra as narrativas do clássico de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, foi o mesmo da viagem de Rúbia Guimarães Rosa. A paulista, que trabalha numa editora de livros ficou encantada com o esplendor subterrâneo de Terra Ronca.
A exuberância escondida no interior das cavernas de Terra Ronca foi esculpida por rios subterrâneos durante mais de 600 milhões de anos. Além da água corrente sob a terra, os cenários, decorados caprichosamente pela ação da natureza, são deslumbrantes. Os tesouros subterrâneos de valor inestimável, foram formados a partir do gotejamento no teto, gerando esculturas tanto de cima para baixo (estalactites), como de baixo para cima (estalagmites). Essas frágeis estruturas, conhecidas como espeleotemas, levam milhares de anos para serem esculpidas e na maioria das cavernas sua visualização requer o uso de lanternas. A luz artificial revela formas que lembram flores, fungos, colunas, castelos, bolos, anjos, cortinas e imagens sacras, entre outras.
As cavernas mais visitadas são: Terra Ronca, Angélica, São Mateus, São Bernardo, São Vicente e Lapa do Bezerra. A que deu nome ao parque está dividida em duas partes por causa de um desmoronamento. Terra Ronca I é a mais visitada e exuberante com entrada de 96 metros de altura por 120 de largura. Salões esplendorosos chegam a mais de 700 metros de comprimento por 100 de largura.
A travessia do rio da Lapa, com água na cintura, leva os turistas a outra extremidade da caverna, Terra Ronca II, com 120 metros de boca e caminhada de 1 quilômetro pelo seu interior. O Oco das Araras é margeado por uma dolina (espécie de cânion) de 80 metros de altura. Os visitantes ainda se deparam também com o Salão dos Namorados, adornado por colunas de estalactites, estalagmites, ninhos de pérolas calcárias, flores de aragonita e calcita que lembram porcelana.
A caverna Angélica está entre as mais belas e maiores do Brasil. A travessia completa, de 14 quilômetros, com pernoite em seu interior, leva 24 horas seguindo o curso do rio Angélica. Na visitação turística regular, os salões inferior, superior, dos espelhos e das cortinas são as maiores atrações. Já a caverna São Bernardo se destaca pelo Salão das Pérolas esculpidas pela água.
A caverna mais radical é a de São Vicente e é possível acessá-la por uma descida de rapel. O rio São Vicente corre no interior da caverna formando 12 cachoeiras. O fenômeno é muito raro. A paisagem interna conta com muitos salões adornados pelos espeleotemas. Já a caverna São Mateus é acessada por uma fenda estreita, quase invisível, após uma descida íngreme. Vencidos os obstáculos, o visitante se depara com a fragilidade das suaves formações internas em meio a escuridão de imensas salas e galerias que lembram catedrais.
PEIXE RAMIRO
Entre os seres que vivem na escuridão estão os bagres cegos e albinos que se adaptam ao ambiente sem luz. O peixe é um exemplo da diversidade e do patrimônio genético de Terra Ronca que, juntamente com a beleza espeleotemática e os rios subterrâneos que fazem do parque um espetáculo da natureza, justificam a necessidade de preservação permanente do ecossistema.
Seu Ramiro Hilário dos Santos, de 58 anos, é uma espécie de guardião do parque. Batizado e casado em um pequeno altar na entrada da lapa de Terra Ronca, onde ocorre todos os anos a festa do Bom Jesus da lapa, no dia 6 de agosto, ele também emprestou seu nome de batismo para o nome cientifico da variação do peixe cego de Terra Ronca. Uma homenagem, tanto pela indicação do peixe aos cientistas que catalogaram a nova espécie de bagre, como pela descoberta de boa parte das cavernas já mapeadas pelos espeleologistas. Fonte: Agência de Notícias do Turismo