O turismo foi um dos setores mais afetados pela crise causada pela pandemia do coronavírus: cerca de 95% dos pequenos negócios desse setor tiveram perdas no faturamento. Apesar disso, 85% das agências de viagens não encontraram problemas na aplicação das normas sanitárias, já sinalizando planos para a retomada. Os dados são de pesquisa inédita realizada pelo Sebrae em parceria com a ABAV Nacional – Associação Brasileira de Agências de Viagens. O estudo, aplicado entre 14 e 20 de julho, teve a participação de 2.555 empresas de todas as unidades da federação.
Quando se fala em comportamento durante a pandemia, a maioria das empresas entrevistadas (41%) deu continuidade aos serviços de forma online, enquanto 38% suspenderam temporariamente as atividades, 15% já retomaram atendendo aos protocolos e 7% fecharam as empresas. As redes sociais mostraram um excelente desempenho no suporte tecnológico para vendas, sendo os canais mais utilizados para este fim o Whatsapp (86%), Instagram (61%), Facebook (57%) e site próprio (45%). Além disso, 83% das empresas do segmento já vendiam por meios digitais antes da pandemia.
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, ressaltou o movimento de retomada do setor de turismo, destacando o papel da tecnologia na recuperação das empresas que atuam no ramo. “O turismo é uma atividade com amplo potencial no Brasil e os negócios inovadores, que souberem se adaptar à demanda e ao comportamento do perfil de consumidor pós-pandemia, vai sair na frente. Mais uma vez, será necessária toda a visão e criatividade desses empreendedores para fomentarmos um turismo mais criativo e fortalecido daqui para frente”, comentou.
Magda Nassar, presidente da ABAV Nacional (foto-divulgação), ressalta que diferentemente de segmentos que puderam minimizar os efeitos da crise diminuindo ou até mesmo paralisando suas operações, as agências de viagens associadas se mantiveram ativas no atendimento aos milhares de consumidores que tiveram suas viagens impactadas ao longo do período. “Trabalhamos meses em remarcações, reitinerações e ações de repatriamento dos que se encontravam no exterior, praticamente sem receita. Os resultados da pesquisa mostram bem a realidade na fase mais crítica da pandemia, e nos darão subsídio para a construção de um novo plano de ação, agora com o foco na retomada”, afirma a presidente da entidade que representa 2,4 mil agências de viagens em todo o Brasil, responsáveis por 80% da movimentação de vendas de produtos e serviços turísticos no País.
As perspectivas dos empresários ouvidos na pesquisa são positivas em relação à gestão de colaboradores, 78% dos empresários de agências de turismo afirmam que não têm intenção de demitir funcionários em 2020, sendo que uma pequena parcela (8%) já sinaliza a intenção de contratação. Além das questões trabalhistas, as empresas tiveram que passar por modificações em suas estruturas financeiras: 44% cortaram custos com renegociação de contratos, 43% cortaram gastos com matérias-primas, 38% negociaram contas de água, energia e telefone, outras 22% cancelaram contratos de aluguel.
A pesquisa revela que atualmente a principal preocupação dos empresários é a insegurança com o mercado de turismo, em relação às companhias aéreas, parceiros locais e fornecedores de outros países. 36% dos entrevistados registraram que essa incerteza é motivo de aflição. 24% apontam o acesso ao crédito como um dos principais receios. Na visão da maioria dos entrevistados (60%), serão necessários de quatro meses a um ano para retomarem os negócios em definitivo, após o fim da pandemia.
Medidas do governo
Os empresários também se mostraram bem informados em relação às políticas públicas desenvolvidas pelo governo em razão da pandemia: 75% declararam conhecer a MP 937/2020 que trata sobre o benefício emergencial oferecido para os MEIs, autônomos e informais; 69% conhecem a legislação sobre a suspensão de contratos trabalhistas; 61% tiveram acesso a MP 948/2020, que dispõe sobre o cancelamento de serviços no setor de turismo e cultura; 55% afirmaram que têm ciência das linhas de crédito com condições diferenciadas para empresas que não demitirem. Somente 5% desconhecem algumas dessas iniciativas.
Durante a pesquisa, os empreendedores apontaram quais principais medidas governamentais poderiam ser implantadas para compensar os efeitos da pandemia nos negócios. Redução de impostos e taxas (57%), empréstimos sem juros (55%), aumento das linhas de crédito (52%) e renegociação de prazos para pagamentos de empréstimos (30%) foram as mais votadas. Em relação ao faturamento, 64% acredita que os ganhos serão menores no terceiro trimestre, se comparado ao ano anterior. Outro ponto relevante é que 95% dos pequenos negócios registraram queda no faturamento nos meses de abril, maio e junho, em relação a 2019.