Por Nelson Rocha
Um convite para um passeio de saveiro no mar da Baía de Todos-os-Santos é algo quase que impossível de não ser aceito. A Secretaria de Turismo da Bahia promoveu um no final da tarde primaveril desta quinta-feira, primeiro dia de Outubro, com poucos convidados, repórteres e fotógrafos. Aliás, esses últimos foram os que melhor aproveitaram o bailado da embarcação nas águas mansas que banham a primeira capital do Brasil, Salvador da Bahia, para fazer belos registros do pôr do sol. O órgão governamental se debruça num projeto que pretende fazer desses passeios uma opção turística para pequenos grupos de visitantes que desembarcarem na primeira capital do Brasil.
“O saveiro é algo muito próprio da nossa terra, do nosso Recôncavo baiano, da Baía de Todos-os-Santos. Como nós estamos desenvolvendo as obras do Prodetur, um investimento vultoso do governo do estado junto com o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento-, a gente está fazendo quatro grandes marinas, diversos atracadouros e a revitalização do Museu Wanderley Pinho, em Caboto, Candeias, é algo que todo mundo sempre se queixava dessa pouca infraestrutura náutica que a Baía de Todos-os-Santos tem, é muito sinérgico que a gente se preocupe com a questão dos saveiros, já que é algo muito próprio nosso e tem deixado de existir. Então a nossa ideia é que a gente resgate os saveiros, transforme eles num atrativo turístico, o que até então não era, era transporte de carga, e que a gente possa ter isto como uma grande marca”, disse na oportunidade o secretário de Turismo da Bahia Fausto Franco, que busca resgatar a tradicional cultura da embarcação adaptada à atividade turística.
“Do mar você tem uma perspectiva de mostrar a cidade de um ângulo que a gente pouco ver. Justamente a perspectiva da cidade baixa com a cidade alta, das igrejas, fortalezas, de toda a história da primeira capital do Brasil. Aí você resgata a profissão do saverista, envolve a questão histórica, artística, cultural e você pode fazer várias situações e ainda desfrutando do som da natureza, da atmosfera, dessas coisas que não têm preço”, enfatizou.
Fausto Franco adiantou para o Portal Turismo Total que trabalha para no verão ver ao menos dois saveiros já à serviço do turismo. “A gente passa também por questões burocráticas e não sei se a gente vai conseguir. A pandemia está fazendo com que as coisas andem mais devagar. Mas se não for nesse verão, no próximo a gente vai ter a perspectiva de ter saveiros na nossa costa”, afirma o secretário.
Na Baía de Todos-os-Santos hoje navegam 20 saveiros, mas já houve época de serem centenas que abasteciam Salvador com mercadorias produzidas no Recôncavo. Roberto Bezerra, vice-presidente da Associação Viva Saveiro, é um entusiasta da possibilidade do turismo poder ajudar no resgate da embarcação a vela.
“Nós buscamos alternativas e uma é o turismo para evitar a extinção e conscientizar a sociedade em se mobilizar na preservação do patrimônio que ela tem, que conta a história da Bahia e todas as suas lutas. Tem que ser feita uma coisa com cuidado, com a Capitania dos Portos participando, monitores, roteiros curtos, saindo do Porto de Salvador para a Ribeira e retornando ou seguindo até o Farol da Barra e voltando, e também roteiros para o Recôncavo, com destino Maragogipe, Cachoeira, Barra do Paraguaçu, Jaguaribe, um lugar lindo e pouco explorado. São viagens de oito, nove horas e chegando lá pega um transporte e volta”, pontuou Bezerra, que revelou já praticar o turismo informal já há algum tempo, mas torce para que a este passe a ser institucional.
” Se você for fazer o institucional a sua responsabilidade cresce. Com essa pandemia se ficou cinco meses parado, as coisas que estavam engrenadas esfriaram, tem que recomeçar tudo de novo. Como o saveiro tem 400 anos, tem tempo para esperar”, comenta rindo Bezerra, para logo depois, em tom sério, defender a sobrevivência das famílias dos tripulantes que tiram o sustento diário navegando quanto é preciso.
Gilberto Menezes, diretor da Socicam Náutica e Turismo, empresa que administra o Terminal Marítimo de Salvador, que também participou do passeio, lamentou o desaparecimento dos saveiros e elogiou ” a atitude do secretário, que é importante no sentido de dar sobrevivência a essas embarcações. Eu acho que a gente tem que tentar desenvolver uma atividade econômica para esses saveiros, principalmente voltada para a área turística. Daí esse convite, a minha participação nesse passeio, pra pensar junto com o governo do estado, esta atividade utilizando o Terminal Náutico como ponto de apoio. Hoje eu acho que é o ponta pé inicial dessa avaliação nossa”, comentou.
“Existe a possibilidade da gente colocar, inicialmente, dois saveiros adaptados, num projeto piloto para avaliar, ainda nesse verão. O custo de uma passeio como este é mais barato e traz uma outra visão. Você vai ver Salvador de um outro ponto de vista, voltado pro mar e em completo silêncio e harmonia com a natureza, acompanhando por uma guia na embarcação, contando a história de Salvador vista de uma outra perspectiva. Isso é muito interessante”, ressaltou o executivo, aprovando a iniciativa da secretaria de Turismo. A conclusão do repórter, ao final do passeio, foi de que o encanto que os saveiros despertam hoje é carregado de história. Se eles não forem preservados poderão realmente desaparecer no fundo do mar. O projeto com foco no turismo tenta evitar que isto aconteça e mais turista apareça para navegar como no tempo de Cristo, no ritmo do vento calmo que sopra sobre as águas calmas da Baía de Todos-os-Santos.