Hotéis de Salvador amargam prejuízos por baixa ocupação, três meses depois da retomada

Por Wendel Novais e Luana Lisboa 

Três meses após liberação do funcionamento de hotéis em Salvador, o Wish Hotel da Bahia reabriu para a hospedagem na segunda-feira (16). Uma volta que foi estrategicamente pensada pelos gestores do local, que estudaram o funcionamento do setor hoteleiro e avaliaram o fluxo turístico da capital baiana durante os últimos meses para decidir qual seria o melhor momento para reabrir. O meio de novembro foi escolhido por se tratar do mês que antecede o verão, época em que os hotéis soteropolitanos são tradicionalmente mais procurados.

Apesar da hora mais oportuna, o retorno do Wish acontece em um momento que ainda é de recuperação para o ramo. Os hotéis da capital baiana, que voltaram a abrir as portas assim que foram autorizados pela prefeitura, amargaram prejuízos causados pelo desequilíbrio entre os custos para funcionamento e a baixa taxa de ocupação dos quartos. Segundo documento divulgado pela Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade da Bahia (Fetur-Ba), a taxa média atual de ocupação dos hotéis abertos de Salvador está em 40,12%. Contando com os estabelecimentos fechados, esse número cai para 27,28%. Estatísticas bem abaixo do ponto de equilíbrio de funcionamento dos hotéis, onde a ocupação fica entre 50 e 60%.

A expectativa da taxa de ocupação do Wish é bem diferente da realidade dos outros hotéis da capital. No primeiro dia de funcionamento, dos 288 quartos do hotel, 144 estarão ocupados. Ocupação que deve aumentar com na alta temporada  segundo Natália Dalla, gerente geral do hotel. “A gente já abre as portas com 50%, o que nos deixa com a expectativa de um retorno promissor. Em dezembro, esperamos que a taxa de ocupação chegue em 80%, o que é um fluxo de hospedagem interessante considerando que ainda estamos em pandemia e não há uma vacina”, diz.

O hotel precisou fazer alterações na logística para voltar a funcionar. Por conta da redução de custos que já visa uma taxa de ocupação inferior ao período pré-pandemia, houve uma redução no corpo de funcionários do hotel, que não informou quantos eram os empregados antes, mas declarou que 100 pessoas trabalharão no local nesse retorno. Além do distanciamento mínimo em áreas comuns e a exigência do uso de máscaras, o hotel criou um app de acesso a informação para que os hóspedes não precisem se dirigir várias vezes à recepção e possam até reservar o horário das refeições, evitando aglomerações.

As adaptações tiveram um custo maior para manutenção do espaço, o que fez com que as suítes júnior, executiva e presidencial do local tivessem o aumento de cerca de 10% a 15%. Natália explicou o acréscimo nestas diárias. “Os apartamentos foram reformados e readaptados às condições que estamos enfrentando na pandemia. Há um gasto necessário para a segurança sanitária dos hóspedes que ficarão por aqui como a compra de álcool em gel e todas as preparações estruturais”, informou a gerente, que disse que o aumento não afastou os interessados no local e que, apesar de começar com ocupação de 50% para testagem do funcionamento que respeita o protocolo, o hotel tem capacidade de receber ocupação máxima já em dezembro sem oferecer riscos aos hóspedes.

Baixa ocupação

           Setor hoteleiro luta para sobreviver na pandemia (Foto: Nara Gentil/CORREIO)

 

 

A taxa de ocupação do Wish está longe de ser a realidade de outros tantos hotéis soteropolitanos. Para muitos, a média de 50% de ocupação nos dias de funcionamento ainda não apareceu desde o retorno. É o caso do Grande Hotel da Barra que, de acordo com Manolo Barra, diretor do hotel, até tem uma procura que causa esperança no final de semana, mas vê a média de clientes despencar durante a semana. Para Barra, a pandemia ainda tem grande impacto na procura por quartos e isso não deve acabar até a existência de uma vacina. “A movimentação está mais evidente nos finais de semana. Na semana, sentimos uma queda acentuada na ocupação. A pandemia  atrapalha.  Até a imunização através da vacina, teremos fluxos irregulares como o atual”, conta.

Ao falar sobre a situação, o diretor disse que a irregularidade na procura e as contas pagas pelo estabelecimento para manutenção e pagamento de funcionários fazem com que o estabelecimento seja obrigado a se adaptar para sobreviver ao momento. “Adaptação aos novos tempos é fundamental em um período de baixa procura. Readaptar o funcionamento significa sobreviver já que estamos tendo prejuízos desde a reabertura do hotel após a autorização da prefeitura no protocolo de retorno da economia. A nossa taxa média de ocupação é de 45%”, afirma.

A situação do Grande Hotel da Barra é bem parecida com a do Gran Hotel Stella Maris. Isso é o que garante Viviane Pessoa, a diretora de marketing e vendas do local, que, com a pandemia, perdeu dois perfis de clientes fundamentais para a ocupação: os que vinham para eventos realizados no hotel e os que chegavam à cidade para tratar de negócios, no ramo corporativo. “Além do lazer, temos esses dois perfis que representam boa parte da ocupação. No caso desses dois, se não zerou a procura, ela diminuiu cerca de 95%, o que foi um baque muito grande para o hotel, que ainda se recupera. Hoje, sofremos com uma taxa de ocupação média de 45%, bem abaixo do necessário para obter faturamento”, conta Viviane, que também revelou um perfil mais regional  e estadual dos interessados em se hospedar no local para lazer.

De portas fechadas para o prejuízo

É por conta das situações de hotéis como os citados acima que outros decidiram esperar ao invés de abrir para funcionamento já no momento em que estavam autorizados. Foi o caso do Wish e de outros hotéis como o Fera Palace (foto), localizado na Rua Chile, que, por sua vez, manteve-se fechado durante toda a pandemia e que só pretende reabrir em dezembro, já na alta temporada, quando o fluxo de visitantes em Salvador deve ser maior e a possibilidade de uma ocupação que evite prejuízos é menor.

Além da reabertura, a gestão do local pensa em estratégias para não sofrer com os mesmos problemas que já prejudicam os hotéis abertos na cidade. Como a maior parte de seus hóspedes vem de fora do país, eles se preocupam e contam com iniciativas do governo do estado para incentivar o turismo de estrangeiros, como conta o CEO do Hotel, Antonio Mazzafera. “Principalmente durante a baixa temporada, a partir de março do ano que vem”, fala.

Diferente do Fera Palace, alguns dos hotéis que se mantiveram de portas fechadas até agora jamais abrirão novamente. É o que informa o presidente da Fetur-Ba, Sílvio Pessoa. “A perspectiva não é boa. A gente calcula que 5% a 10% dos hóteis do estado vão fechar em definitivo por conta dos prejuízos na pandemia. Entre os que voltarão a abrir, 95% dos hotéis estarão em funcionamento até o fim do ano, mas a maior parte deles está com prejuízos. Só voltaremos a crescer em faturamento no final de 2021”, conta Silvio.

Turismo nacional e regional

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Luciano Lopes, informou que a ocupação nessa época do ano chegava a 76%, número bem acima da taxa média 40% registrada agora. O presidente também afirmou que isso só deve melhorar com a chegada da vacina. “A melhora no setor está associada à redução da contaminação e à vacina. Enquanto não tiver uma vacina, essa insegurança perdura”, explica. Mesmo assim, Luciano afirma que, apesar da ausência da vacina dizimar o turismo internacional, os clientes regionais e nacionais podem ser um alvo importante para o crescimento do setor ainda na pandemia, já que as viagens regionais e nacionais têm sido mais frequentes. “Uma vez que o turismo internacional praticamente desapareceu, a ideia, então, é trabalhar o mercado local para que a ocupação dos hotéis aumente”, aconselha.

O secretário de Turismo da Bahia, Fausto Franco, segue o mesmo discurso de Luciano ao falar do que precisa ser foco para diminuição dos danos no setor hoteleiro. Para ele, os turistas nacionais e regionais são a esperança para um verão com mais faturamento. “Com essa situação em que pandemia nos levou, tanto o turismo nacional, como o regional serão importantes para a ocupação dos hotéis”, diz Franco, que  declara que isso não é uma surpresa. Segundo ele, 40% do fluxo turístico do estado já era composto por baianos.

A presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Ângela Carvalho, é ainda mais positiva ao confirmar a possibilidade de melhora. Ela lembra que o período de maior dificuldade, quando a malha aérea estava restrita, já é passado e que a perspectiva, daqui pra frente, é de melhora. “A conectividade com as outras cidades estava ruim, isso que impedia a vinda de turistas. Mas agora nós já estamos com voos para toda a região Nordeste e para as principais capitais do país. Com essa melhoria da malha aérea, também melhorou bastante a vinda do turista para Salvador e para a Bahia como um todo. A tendência da ocupação de hotéis é aumentar. Estamos caminhando, passo a passo, mas está melhorando com certeza”, garante.

*Fonte: Correio da Bahia, com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro; Fotos do Wish e Fera Palace; divulgação/Arquivo PTT

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