Por Berna Farias
Não bastasse ser a capital mundial do Forró, com 30 dias de festas juninas da mais pura animação, Campina Grande, a Rainha da Borborema, distando apenas 120 km de João Pessoa, capital da Paraíba, celebra o Carnaval da Paz, um retiro espiritual onde todas as religiões se encontram e se abraçam. Há três décadas, para lá convergem, todos os anos, milhares de pessoas em busca de um espaço para a cultura, a ciência, as artes e tradições religiosas. A proposta de uma cultura de paz começou com o Encontro da Nova Consciência, que hoje integra a programação do Carnaval da Paz.
Este ano, por conta da pandemia da Covid-19, que ainda perdura, o evento foi redesenhado em seu formato. São cinco eventos, alguns totalmente online e outros híbridos, estes com público restrito a convidados, empresas apoiadoras e parceiros, como explica o Gerente de Turismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município, Miguel Ângelo Gomes da Silva. “Estamos seguindo os protocolos de biossegurança criados pela Secretaria em parceria com os órgãos fiscalizadores, necessários hoje em eventos como esse, e não podemos abrir ao público em geral, estimamos em até 100 pessoas por evento. O importante é que a chama do Carnaval da Paz, um evento multi-religioso, permaneça.”
Ainda assim, Miguel Ângelo considera que o Carnaval da Paz poderá ter, este ano, o maior público de sua história, por conta das transmissões online. “A Consciência Cristã já tem o seu canal com milhares de seguidores e o evento também será feito em canal aberto para todo o estado da Paraíba”. Em 2020, apenas no domingo de Carnaval, 32 mil pessoas participaram dos eventos. “Só na Consciência Cristã eram dez mil e, no Crescer, 15 mil pessoas. A Consciência Cristã tem um apelo turístico maior porque tem uma abrangência nacional, já o Crescer é mais regional”, detalha.
O planejamento do Carnaval da Paz de 2021 seguiu o do São João, segundo o Gerente de Turismo. “Quando entendemos que não haveria condições de realizar o São João, fizemos uma espécie de `film comission´ (organização estatal ou paraestatal para atrair e incentivar a realização de produções audiovisuais). Procuramos uma forma de estar no imaginário do consumidor de turismo, estar na prateleira; então apoiamos e incentivamos lives, procuramos divulgar o destino do Maior São João do Mundo através das mídias sociais, da forma que a gente podia. Com o Carnaval da Paz não foi muito diferente. Ano que vem, se Deus quiser, superados todos esses desafios, a gente vai poder trabalhar com nossa capacidade instalada na sua plenitude máxima”.
Turismo iluminado: Natal é a nova aposta
Além dos já tradicionais Maior São João do Mundo e Carnaval da Paz, Campina Grande aposta em mais uma atração turística: o Natal Iluminado (foto), que vai se consolidando e, em dezembro de 2020, mesmo com as restrições impostas pela pandemia, agregou duas novidades, o Ônibus Iluminado e o Natal da Vila Sítio São João, que teve como tema “O Natal mais nordestino”. O espaço, que tradicionalmente abriga festejos juninos e figura como um “museu de nordestinidades” a céu aberto, adotou o clima natalino, com decoração cheia de luzes e a encenação do nascimento do Menino Jesus, dentre outras atrações.
O Ônibus Iluminado, idealizado pela Nova Turismo e Eventos, que já oferece o Ônibus do Forró durante o Maior São João do Mundo, percorre os principais pontos do Natal Iluminado da cidade, que em 2020 contou com uma decoração gigantesca distribuída em praças e locais de apelo turístico, realçada por 20 quilômetros de mangueiras de LED, 200 mil micro-lâmpadas, 400 refletores e uma imensa árvore de Natal tecnológica localizada no “coração” de Campina Grande: o Açude Velho. A iniciativa teve apoio da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP) e do SEBRAE-PB.
Partindo da Vila Nova do Noel, um espaço às margens do Açude Velho especialmente decorado para receber os turistas e locais que vão fazer o passeio e demais visitantes, o Ônibus Iluminado (foto), do tipo double deck aberto, oferece vista panorâmica e, seguindo protocolos de biossegurança, priorizou núcleos familiares e grupos de comum convívio. A bordo, poeta repentista, ator–palhaço e guia de turismo, para orientar, divertir e transmitir arte e cultura aos passageiros, contando parte da rica história de Campina Grande. No trajeto, surpresas como show musical com clássicos natalinos, um encantamento a mais.
Os passeios foram realizados de 4 de dezembro de 2020 a 3 de janeiro de 2021. Albaniza Miranda, diretora da Nova Turismo, o balanço foi mais que positivo. “Tivemos um público de aproximadamente 1,5 mil pessoas nesta primeira edição, além de um número ainda maior na Vila Nova do Noel. Um público majoritariamente campinense e de cidades circunvizinhas, o que mostra a forma do turismo regional nesse contexto de retomada das atividades. Para 2021, confiamos no avanço da vacinação e no controle da pandemia, com o intuito de expandir nosso público, atraindo mais pessoas de outros estados, e consolidar o Natal Iluminado de Campina Grande como um destino dos mais atrativos nessa época do ano”.
Cultura nordestina na Vila
A outra inovação na programação do Natal Iluminado de Campina Grande é a Vila Sítio São João. O espaço, com ambientes típicos da cultura paraibana e nordestina, se reinventou com luzes e cores para os festejos natalinos. De quinta a domingo, entre 4 de dezembro e 4 de janeiro, os visitantes tiveram muitas opções, como oficinas infantis, parque de diversão, restaurantes, Vila do Artesão (foto), Presépio Vivo, Museu de Répteis da Caatinga (com animais vivos), Casa do Papai Noel e, a cada noite, apresentação de cantata natalina e encenação do nascimento do Menino Jesus, inclusive com dois dromedários que despertavam a curiosidade dos visitantes.
O Gerente de Turismo, Miguel Ângelo Gomes da Silva, avalia como “muito positivo” o saldo do Natal Iluminado edição 2020, apesar da pandemia. “Essa frase parece um mote, um lugar-comum, mas ela faz todo o sentido em se tratando do Natal Iluminado enquanto produto turístico, alternativa inovadora e criativa diante da dificuldade que a cadeia produtiva do turismo enfrenta. Tivemos gratas surpresas com relação à taxa de ocupação nos hotéis nos finais de semana, mostrando aquilo que a gente já prospectava, já previa quanto ao aumento do turismo regional”.
O reflexo disso, acrescenta Miguel, pode ser sentido nos meses de janeiro e fevereiro, com a grande procura nos finais de semana sobretudo por hotéis com opções de lazer, de balneabilidade. “O empresário local entendeu que vale a pena investir, e tivemos grandes novidades em parceria com a iniciativa privada, como o Ônibus Iluminado, a Vila Sitio São João, a projeção mapeada do Partage Shopping no roteiro do Ônibus. O Natal Iluminado foi uma chama de esperança para o turismo de Campina Grande e temos certeza que o caminho é esse: um evento atrativo, regional, que pretendemos ser referência no Nordeste em termos de eventos natalinos, assim como as cidades de Curitiba e Gramado são referência nacional”.
Garden, quase um Jardim do Éden
A aposta na retomada do turismo na região de Campina Grande conta com o reforço de dois fatores essenciais nessa atividade: hotelaria e gastronomia. O parque hoteleiro é bem diversificado, com pousadas e hotéis de três e quatro estrelas. O destaque vai para um equipamento diferenciado, o Garden Hotel, de cinco estrelas, que une perfeitamente beleza, conforto e sofisticação. Localizado no bairro Mirante, oferece ainda uma vista panorâmica da cidade, que pode ser apreciada de vários pontos do hotel, inclusive dos apartamentos.
As instalações são muito amplas, decoradas com muito bom gosto, predominando a temática nordestina, como peças em barro e as simpáticas “bruxinhas” de pano. São 192 apartamentos, em um total de 576 leitos, muito amplos e bem equipados, distribuídos em duas alas, a Sul e a Norte, cada uma contando com três andares. Os apartamentos são marcados por moderna arquitetura e pela beleza do artesanato paraibano, representado em peças únicas, que dão ao hotel um ar de sofisticação rústica e acolhedora.
Lazer é outro ponto forte do hotel. O parque aquático (foto) conta com cinco piscinas (ao ar livre e interna, com aquecimento), quadras de tênis, squash e futebol, academia, banheira de hidromassagem e salão de jogos. O restaurante Tropeiros da Borborema, com capacidade para 150 pessoas, tem seu nome inspirado na história dos desbravadores pioneiros que fundaram a cidade de Campina Grande. Tem decoração com fortes traços regionais e vista panorâmica para o vale da Serra da Borborema. Serve pratos gourmet e um excelente e farto café da manhã.
Aliás, em se tratando de gastronomia, o Garden Hotel tem outro diferencial: o Espaço Sustentabilidade, uma imensa horta onde são cultivadas verduras e hortaliças diversas, além de frutas, tudo de forma orgânica. A estrutura para eventos é completa: auditório com área de 780 m2 e 776 lugares equipado com salas para tradução simultânea, cabine de projeção, sonorização e comando de iluminação, sala VIP, salas de reunião modulares, de apoio técnico e de imprensa.
Pode chegar, “cumpade”, a casa é sua
A cereja do bolo da gastronomia campinense não fica exatamente dentro da cidade, mas no distrito de Galante, a cerca de 20 km de distância, destino final do Trem do Forró em épocas juninas. É a Casa de Cumpade, uma área de 200 hectares de mata, horta, pomar, onde se planta de tudo e se cria vacas, cabras, bodes, galinhas, cavalos e outros animais. Há 13 anos, ali reina João Wamberto Barreto de Araújo (foto), ator, cantor, empreendedor, gastrônomo e “embaixador da gastronomia brasileira, levando a bandeira da Paraíba”.
A Casa de Cumpade é restaurante, mas não só. É a casa nordestina de antigamente, com cerca de pau, trempe, fogão a carvão, caneca de ágata, peneira de palha trançada, pano de chita, pote de barro, cadeira de balanço de palhinha, rede pra tirar uma madorna, vassoura de palha, planta pra todo lado. Mas não é só. A Casa de Cumpade é um reduto de nordestinidade, marcante nos muitos espaços do Sítio Massapê. Tem o Bar do Reboco, a mercearia, o espaço Arte de Viver, com mesas de sinuca e pebolim, e o lugar do cafezinho: este é quase um museu, com ferro de passar alimentado com brasa, moedor, louças antigas, biscuits.
E tem a Vila Armorial, a capela de N. Sra. do Perpétuo Socorro, a Praça do Enche-Bucho, os banheiros da Cumade e do Cumpade e outra “tualete” sinalizada pelos penicos de ágata pendurados. O defeito é só um: funciona apenas aos sábados, domingos e feriados, para café da manhã e almoço, e também recebe eventos. Cumpade João inverte o calendário porque não gosta de trabalhar nos dias em que todo mundo trabalha, “até porque as pessoas não teriam tempo de vir apreciar a comida e o lugar. A Casa de Cumpade é uma casa de amigos”.
Os pratos, sucos e sobremesas são de saborear rezando. João dá a dica dos ingredientes: amor e carinho. O chef improvisa, usa a imaginação para criar detalhes que marcam o sabor e a apresentação, como flor silvestre no prato rústico de feijão de corda e blend de cachaça para flambar as frutas da sobremesa. Os planos de João Wamberto para incrementar o fluxo de visitantes incluem a abertura de uma quadra de vôlei, um hotel para cavalos e uma trilha de 5 km para cavalgadas “com guias, seguro de vida e todos os aparatos para fazer um centro de equinocultura. O plantel já conta com 36 cavalos e pôneis.
*Fotos: divulgação