Por Katia Catulo
Biocombustíveis, inteligência artificial e Big Data são as principais soluções para eliminar os impactos nocivos no ambiente. Mas o ritmo tem sido lento. Para alcançar as metas climáticas, o setor não pode esperar pelas tecnologias do hidrogénio ou da energia solar para começar a agir.
A avião está numa encruzilhada. O pior da pandemia pode ter passado, mas o setor tem uma outra crise à porta. Há cada vez mais vozes a subir o tom e o nível de medidas contra os seus efeitos para as alterações climáticas. Muitos países implementaram ou estão agora a executar políticas mais agressivas para combater a
sua pegada, na forma de impostos pagos pelo passageiro ou pelas companhias.
Áustria, por exemplo, aumentou, no ano passado, as taxas sobre os voos de três para 12 euros. França introduziu, também em 2020, um imposto ecológico que pode ir dos três aos 18 euros, consoante a duração, o destino e a classe. O governo alemão implementou aumentos entre 40% e 75% nas taxas de voos de curta, média e longa duração. E a Suécia – a pioneira do movimento flygskam (vergonha de voar) – prepara-se para aumentar, ainda neste verão, as taxas aeroportuárias para aviões altamente poluentes, levando em consideração, no cálculo dos encargos, o impacto ambiental, como o uso de biocombustíveis.
A indústria da aviação está por isso sob pressão, começando agora a reagir numa corrida contra o tempo para alcançar a descarbonização. Empresas como a Airbus planeiam colocar no mercado aviões a hidrogénio, mas não antes de 2030. O setor precisa, entretanto, de atalhar caminho, e são os combustíveis sustentáveis, as
tecnologias de ponta e os ganhos na eficiência dos aparelhos e das rotas que podem fazer a diferença.
Voar na era pós-covid
Tudo isso está agora a ser acelerado para minimizar o impacto no ambiente. Em comparação com outros setores, o contributo da aviação é proporcionalmente pequeno para as emissões globais de efeito estufa, mas também é um dos que cresce mais rápido. De acordo com as estatísticas da World Air Transportation, o total de passageiros aumentou para 4,5 mil milhões em 2019, o que representa mais 3,6% face ao ano anterior. Com a Covid-19, o número caiu para cerca de 70%, mas, o que se espera com a retoma, é o regresso aos níveis pré-pandémicos. A International Air Transport Association (IATA) prevê um aumento para 7,2 mil milhões de viajantes em 2035.
As estimativas mais consensuais colocam a participação do setor nas emissões globais de CO2 em 2,4%. Mas há muitos especialistas a alertar para os impactos colaterais, como os óxidos de nitrogénio (NOx), vapor de água, partículas e rastos produzidos pela aviação, responsáveis por cerca de 5% do aquecimento global.
Para se ter uma ideia de escala, o tanque de um jumbo Boeing 747-400 carrega 240 mil litros de combustível fóssil – tanto quanto quatro mil automóveis movidos a combustão interna – queimando uma média de quatro litros por segundo. Os períodos mais críticos ocorrem durante as decolagens e aterragens, representando ambas 25% das emissões dos aviões, segundo as estimativas da NASA. Essa é, aliás, a razão para a agência espacial americana recomendar voos sem escala e com duração inferior a três horas.
A promessa dos biocombustíveis
Neste cenário turbulento que o setor atravessa, são as multinacionais e a grandes empresas ligadas às energias que prometem aliviar o peso da responsabilidade ambiental da aviação. É o caso da eólica dinamarquesa Stiestal que anunciou para breve a chegada ao mercado de um biocombustível, a partir de resíduos agrícolas e
hidrogénio verde, capaz de remover o carbono da atmosfera.
SkyClean é o nome desta inovadora solução, revelada na convenção Dublin Climate Dialogues, em finais de maio, com potencial não só para anular o CO2 produzido pela aviação, como para eliminar a pegada de carbono da atmosfera à medida que o seu uso se generalizar.
A tecnologia, segundo a Stiestal, estará no mercado até 2025 e será quimicamente igual ao combustível A-1, atualmente utilizado pelas companhias, dispensando, portanto, qualquer modificação na mecânica ou na eletrónica dos aviões. A grande e inesperada diferença é a possibilidade de milhões de passageiros poderem voar para o outro lado do mundo sem a consciência poluída. Muito pelo contrário – diz a empresa dinamarquesa – viajar até à Tailândia ou até ao Japão enquanto se remove carbono da atmosfera poderá vir a ser, ironicamente, um ato de cidadania exemplar.
Os desperdícios são considerados recursos abundantes, apresentando-se como as melhores alternativas para « resolver o dilema da aviação no curto e médio prazo. Os biocombustíveis de resíduos avançados são feitos de produtos e matérias reciclados, como o óleo de cozinha, o lixo industrial ou os restos da agricultura e podas das
florestas.
*Fonte: Diário de Notícias/pt