Musical on-line: Grupos ignorados na história brasileira pedem acerto de contas em NAU

Espíritos de personagens historicamente ignorados da construção social do Brasil voltam ao país em uma barca para um acerto de contas. É daí que parte NAU, musical afro-diaspórico-tupiniquim com direção de Daniel Arcades e Thiago Romero. A obra cênica visual, como é definida pelos diretores, terá estreia no dia 19 de agosto (quinta-feira) em uma temporada online que segue até novembro, totalizando 45 apresentações, sempre às 19h. O projeto será completamente virtual, transmitido pelo site oficial, www.projetonau.art.br.

O projeto foi selecionado pelo edital Fábrica de Musicais – Ano II, da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Prefeitura Municipal de Salvador. Foto: divulgação

 

Os ingressos serão vendidos no https://www.sympla.com.br/produtor/viapresscomunicacao, e custam R$10, R$20 e R$30, um formato que amplia a possibilidade para o público, que paga o quanto for possível. Parte dos ingressos será destinada gratuitamente para grupos teatrais, escolas e ONGs que trabalham com pessoas em situação de vulnerabilidade social. Anterior à estreia, o projeto segue com um aquecimento nas redes sociais, soltando pílulas com apresentações dos personagens que compõem NAU. Ainda como parte da programação de estreia, no dia 07 de agosto (sábado), Ana Paula Bouzas apresentou o espetáculo Eu Organizo o Movimento no site de NAU.

Thiago Romero é um dos diretores do espetáculo e afirma que o musical nasce do anseio de recontar a história do Brasil sob a ótica de grupos que foram ignorados dessa construção: “NAU foi feito para repensar a lógica da narrativa da história a partir de personagens silenciados pelos documentos oficiais. É uma revisão necessária e que encontra brecha no que vivemos hoje, quando tantos grupos têm reivindicado seus espaços. Quando eu e Daniel idealizamos esse projeto não sabíamos que seria tão desafiador, não só pelo tempo que vivemos, mas também pela dificuldade de olharmos o outro lado da história. É a história do Brasil contada a partir da visão do colonizado, não do colonizador”.

Daniel Arcades explica que a história de NAU começou há quatro anos, mas foi em 2018 que o argumento de NAU se tornou nítido para a dupla de diretores: uma peça futurista em que personagens que viveram em diferentes épocas do Brasil voltassem e analisassem o país atual. “Hoje NAU ganha vida própria ao se mostrar uma obra fruto de um tempo e espaço completamente diferenciados dos tradicionais formatos de teatro. NAU é obra cênica virtual musical e é a composição de um sonho trabalhado numa espécie de saga da resistência, visto o caminho gerado devido à pandemia mundial, mas não deixa de ser um sonho. Nossa navegação é uma imersão e um olhar para o país através de corpos que construíram sua história, mas foram negados ao direito de narrá-la”, explica Arcades.

Thiago Romero e Daniel Arcades, diretores do espetáculo cênico visual. Foto: Diney Araújo

 

Com realização da Via Press Comunicação, Paula Hazin e Teatro da Queda, a montagem original conta com orientação cênica e supervisão de direção do ator da TV Globo Luiz Carlos Vasconcelos e da coreógrafa Ana Paula Bouzas, além de direção de produção de Paula Hazin. As canções foram compostas por Daniel Arcades e Filipe Mimoso – este último assina também a direção musical de NAU. Os efeitos especiais foram assinados por Vj Dexter e VJ Cayetano. Edeise Gomes assina a coreografia. O projeto foi selecionado pelo edital Fábrica de Musicais – Ano II, da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Prefeitura Municipal de Salvador.

Longo processo de construção

Nesse novo contexto social e cultural, a dupla de diretores propôs uma construção coletiva, aberta e participativa de um novo fazer teatral, mais empírico, experimental e compartilhado. Por isso, ao longo de 2020, com a pausa forçada pela pandemia, oficinas gratuitas com nomes relevantes da arte cênica nacional foram oferecidas para um público formado por profissionais e pessoas interessadas nos temas abordados. Participaram desse processo nomes como Luís Miranda (Oficina O Personagem Cômico), Elísio Lopes Júnior (Masterclass de Dramaturgia), Fause Haten (Masterclass de Alta Costura e Figurino), Luís Carlos Vasconcelos (Masterclass de Direção) e Babaya (Masterclass de Voz). Os vídeos estão disponíveis para o público, no site de NAU.

         Foi durante o processo de preparação que aconteceram também as Noites Navegantes, uma série de debates online sobre temas que dialogam com o universo do espetáculo, como O Mito Fundador Brasileiro, com Sônia Guajajara e Caboclo de Cobre; Nossos Gêneros, com Di Cerqueira, Diego Nascimento e Sanara Rocha; e Música Ordinária, com as drags Aimée Lumiere, Barbárie Bundi, Malayka SN e Spadina Banks.

NAU em números

         “NAU é um projeto especial pela sua dimensão. Estamos há quase dois anos no desafio de prepará-lo e chegamos agora à estreia com uma bagagem incrível que ganhamos ao longo desse tempo e expectativa imensa para o futuro. São 45 apresentações que mobilizam profissionais de diversas áreas, alimentam a cadeia produtiva da cultura e trazem para a cena uma análise necessária da formação do Brasil”, explica Paula Hazin, produtora do projeto.

Os números de NAU justificam a expectativa por trás da estreia. São cerca de 70 pessoas que trabalham nas 45 apresentações (as exibições trarão intervenções diferentes dos olhares dos personagens sobre a história). Assistiram às Noites Navegantes e às oficinas mais de 6 mil pessoas. O calendário de ações foi dividido em três etapas, desde janeiro de 2020 a novembro de 2021, quando encerra o projeto. O primeiro momento foi marcado por uma temporada do espetáculo Rebola, seleção de elenco e lives no Instagram. Entre maio de 2020 e fevereiro de 2021 aconteceram as oficinas formativas gratuitas. Na última etapa acontece a exibição do espetáculo e atividades formativas finais. A seleção de atores, na fase inicial de NAU, contou com quase 300 inscritos.

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