Mário Mukeka, “pirata”, músico, escritor e mergulhador, morre na Bahia

Ele podia não ser lá muito conhecido, mas quem o conheceu, nunca esqueceu. Morreu nesta segunda-feira, 8, o mergulhador, músico e escritor Mário Mukeka.

Nascido há 67 anos no Rio de Janeiro, Mário Cortizo Andion veio com a família de imigrantes galegos para a Bahia ainda criança. O apelido Mukeka veio de um episódio pitoresco ocorrido nos anos 1970, quando ele foi preso por porte de maconha, logo após preparar uma moqueca de peixe temperada com a erva.

Autodidata, espírito livre, rebelde: Mário Mukeka viveu como quis. Foto: Sora Maia/Divulgação

 

O fato foi parar nos jornais locais e um cronista o classificou como “irrecuperável”. A cantora Marcela Bellas gostou e reabilitou a classificação em seu documentário Mario Mukeka, O Irrecuperável (disponível no YouTube)

Mário se dizia pirata e morava em um espartano trailer construído por ele mesmo, cuja única decoração era uma bandeira jolly roger, a clássica caveira sobre ossos cruzados.

Reportagem da revista Piauí de agosto de 2013 conta a saga dele atrás de um baú que viu meio enterrado no leito do oceano, durante mergulho no mar de Amaralina, entre o Quartel do Exército e o largo das Baianas. “Como o ar do cilindro estava próximo do fim, resolveram subir, já pensando em retornar com outros equipamentos para içar a caixa, mal sabendo que aquela seria a primeira e última vez que (Mário e Caíto, seu parceiro de mergulho) a veriam”, escreveu a repórter Taisa Sganzerla.

Aos 21 anos já era pai de duas crianças, Mario Luis e Indiara. Foi carpinteiro (naval e de móveis), artesão, escultor, artista plástico, compositor.

Já nos anos 1980 foi um dos vocalistas da Gang Bang, marcante banda de rock local, comparada na época aos Titãs, pelas apresentações cheias de energia e grande número de integrantes. Com a banda, ganhou dois troféus Caymmi.

No Programa do Jô

Já neste século, Mário seguiu mergulhando em busca de tesouros provenientes dos muitos navios naufragados no mar de Salvador em séculos passados. Seu interesse pelo assunto o levou a escrever um livro, Pirataria no Mar da Bahia (Kazuá, R$ 30).

Documentarista do homem, a cantora Marcela Bellas lamentou a morte no Facebook: “Eu fiz um filme sobre a vida dele, queria que ele fosse imortal! Hoje essa lenda partiu desse mundo, Mário Mukeka Cortizo Andion, um gênio, um ser único e singular, um grande compositor de hits que nunca tocaram na rádio, mas que seu povo canta! Meu amigo, meu parceiro, esteve comigo em horas difíceis, e sempre metendo a mão de artesão e reconstruindo tudo. Te amo Mukeka. Vá na Luz”, escreveu a artista. A propósito, o documentário rendeu uma entrevista de Mário para Jô Soares no Programa do Jô, evidentemente hilariante, disponível no GloboPlay.

Bastante próximo a ele também, o jornalista e escritor Franciel Cruz (do livro Ingresia, recentemente saudado por Wagner Moura em entrevistas) também deixou homenagem no Twitter: “A Bahia acaba de perder uma das figuras mais ESPETACULARES de toda a história. O pirata dos 7 mários, mergulhador, cantor, compositor, escultor, caçador de tesouros, preso 13 vezes por causa de uma mukeka de maconha e protetor que me alertava para os ataques da KGB. Voa, Mário”.

Ele deixou dois filhos, dois netos e muitos admiradores.

*Fonte: A Tarde

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