Por Duda Tawil, texto e fotos, de Paris
O emblemático prédio circular da Bourse de Commerce, no coração da Cidade Luz, ganhou nova vida pelas mãos do arquiteto japonês Tadao Ando. Ali acontece, aberto a todos, um diálogo artístico entre o patrimônio e a criação contemporânea, o passado e o presente, entre a coleção e o visitante. Transformado em museu dedicado à arte contemporânea e aos artistas, é um monumento da história parisiense, visto que testemunha cinco séculos de arquitetura, do século XVI aos dias atuais. Uma visita imperdível!
Une seconde d’éternité é a nova exposição da Coleção Pinault, constituída há quase 50 anos, ali reunida permanentemente: é o acervo da instituição, a arte dos anos 1960 até os nossos dias. Trata-se de uma coletiva de 19 artistas e as suas experiências com o tempo como tema. São elas e eles: Miriam Cahn, Carrie Mae Weems, Sherrie Levine, Nina Canell, Liz Deschenes, Elaine Sturtevant, Dominique Gonzalez-Foerster, Anri Sala, Roni Horn, Felix Gonzalez-Torres, Larry Bell, Marcel Broodthaers, Ryan Gander, Pierre Huyghe, Gustave Le Gray, Philippe Parreno, Tino Sehgal, Rudolf Stingel e Wolfgang Tillmans.
Paralelamente, e até 26 de setembro, acontece outra exposição temporária “Felix Gonzalez-Torres/Roni Horn”, duas grandes figuras da arte do nosso tempo, e de influência marcante na nova geração de artistas. Para eles, o que faz a obra é a experimentação artística que une o artista, o espectador e a obra. Encontram-se, assim, dentro de suas obras as temáticas políticas e militantes, como a questão da identidade, o lugar das minorias, a homofobia, a tragédia da aids, a desigualdade econômica, o ativismo como uma forma de resistência à violência da sociedade. Felix, cubano, nascido em 1957, morreu por complicações da aids em 1996. Roni, americano, nasceu em 1955. Tanto íntima como ativista, a exposição é marcada por uma grande poesia, fantástica!
A Bahia está presente em uma das obras, que seria uma instalação humana, viva, do genial e saudoso Felix Gonzalez-Torres: na sua obra emblemática “Untitled (Go-Go Dancing Platfom)”, de 1991. Numa base quadrada branca, feita de madeira, lâmpadas acesas, fio elétrico e pintura, o performer Auricio Bomfim, se apresenta. De Vitória da Conquista e morando em Paris há cerca de 20 anos, ele trabalha no Centro Georges Pompidou, portanto, em contato diário com as artes plásticas, e por isso foi o artista escolhido. Ele dança de repente cinco minutos, fugazes e imprevisíveis, sobre a plataforma, e somente ele escuta a música. O espectador assiste sem o som. É o tempo, fugitivo ou estendido, que nas mãos do artista se transforma em matéria de arte plástica, naquele espaço.
Os talentosos Emma Lavigne, diretora-geral da Coleção Pinault e curadora da exposição, Caroline Bourgeois, a conservadora-chefe da Coleção Pinault, e Cyrus Goberville responsável da programação cultural, são os magos deste espaço único em Paris que é a nova Bourse de Commerce, além obviamente de grande equipe, como na administração geral Sophie Hovanessian, e Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro da Cultura da França, o conselheiro da presidência.
Mesmo que ela dure apenas um segundo, a arte é…eterna!
A Bourse de Commerce – Pinault Collection fecha às terças-feiras. Todas as demais informações: www.pinaultcollection.com
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