Preço das passagens aéreas no Brasil nas alturas, com acumulo de aumento superior a 40%

*Por Rafaela Gonçalves
Planejar viagens com bastante antecedência ou buscar promoções na madrugada já não são mais garantia de conseguir preços baratos de passagens aéreas. Pegar um voo ficou até 27,4% mais caro apenas em outubro, a maior variação mensal deste ano, conforme registrado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No acumulado dos últimos 12 meses, para andar de avião o aumento chegou a 40,53%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quem planeja viajar neste fim de ano sentiu o preço nas alturas. A agrônoma Ana Luísa Oliveira, 33 anos, ia passar o aniversário na Chapada dos Veadeiros (GO), mas precisou abrir mão da comemoração por não encontrar valores que coubessem no bolso. “A logística para ir de carro é muito cansativa. São mais de 13 horas de viagem e a gasolina também está cara. A ideia era ir de avião de São Paulo para Brasília e, de lá, alugar carro e chegar até o destino final. Geralmente, as passagens desse trecho custavam em média R$ 350, ida e volta”, relatou.
“Na primeira pesquisa que fiz, no meio do ano, estava em torno de R$ 700. Não deixei de procurar, mas o valor só foi aumentando. Cheguei agora a encontrar por R$ 1.350 e a tendência é só ficar mais caro”, acrescentou.
A agrônoma disse que precisou diminuir o ritmo de seus passeios devido ao encarecimento dos bilhetes aéreos. “Sempre viajei bastante, principalmente aproveitando os descontos. Hoje em dia, os aplicativos não ajudam em muita coisa, o valor está alto no geral. Desde o ano passado, notei um aumento absurdo das passagens. Acabaram ficando inviáveis várias viagens que planejei este ano”, lamentou.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) culpa a alta dos combustíveis pelos bilhetes inflacionados. “É importante enfatizar que o preço de uma passagem aérea tem relação direta com os custos das companhias, que, por sua vez, são impactados por fatores externos. Um desses é a cotação do dólar em relação ao real, que indexa mais da metade dos custos do setor, pressionando itens como o combustível dos aviões (querosene de aviação/QAV), manutenção e arrendamento de aeronaves”, justificou a entidade, por meio de nota.
Aumento
A QAV acumula aumento de quase 59%, de 1º de janeiro a 1º de novembro, segundo cálculo da Abear, com base em dados da Petrobras. De acordo com a associação, o item responde por cerca de 40% dos custos de uma companhia aérea. “Além disso, o combustível é precificado como se fosse importado, sendo que mais de 90% desse insumo é produzido no país”, criticou a Abear.
Havia a expectativa de queda nos preços das passagens com a implementação da cobrança pela franquia de bagagem despachada. No entanto, segundo a associação, a crise econômica resultou em uma escalada nas operações das aéreas.
“O aumento do custo com o QAV, aliado à valorização da cotação do dólar em relação ao real, nos desafia diariamente, já que a moeda norte-americana indexa mais de 50% dos custos do setor”, salientou.
Além do preço dos combustíveis, especialistas acreditam que a demanda reprimida durante a pandemia pode ter pressionado o preço das passagens, com a desorganização de cadeias globais de turismo. “O que podemos observar é uma inflação muito disseminada. Tivemos três meses de deflação no índice geral e, agora em outubro, voltou ao patamar positivo”, destacou Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“A expectativa é de que a conjuntura econômica ainda seja impactada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, com influência, sobretudo, em commodities, que entram na composição de várias cadeias produtivas”, acrescentou Rochlin, sinalizando que os preços das passagens estão longe de dar trégua ao bolso do consumidor. *Fonte: Diário de Pernambuco; Foto, @-Shutterstock – divulgação.
* Rafaela Gonçalves é repporter do Correio Braziliense
 

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