Artista baiana cria ‘microcidade’ na Chapada Diamantina para ensinar a arte de conviver

 

E se um dia você tivesse a oportunidade de morar numa cidade pensada exclusivamente por uma pessoa? Parece uma ideia assustadora, algo que combinaria bem com histórias distópicas da ficção, mas é pura realidade e não tem nada de amedrontador no projeto comandado pela artista baiana Rose Afefé, 34 anos, a “prefeita” de um lugarzinho na Chapada Diamantina ressignificado pela arte de conviver.

A experiência, da qual várias pessoas pagam para participar, ocorre em Ibicoara, onde Rose recebe visitantes no que chama de microcidade, construída por ela. Os próximos encontros vão acontecer em janeiro, e ainda há vagas.

Rose organiza programas com diferentes propostas e possibilidades experimentadas por ela, que também vivencia, se surpreende e aprimora a própria obra, a cada encontro que promove. O lugar também pode ser utilizado para desenvolver algum projeto em sintonia com a comunidade local, que a artista descreve como afetuosa, acolhedora e parceira, tendo apoiado o trabalho artístico desde o início.

Rose organiza programas com diferentes propostas e possibilidades experimentadas por ela, que também vivencia, se surpreende e aprimora a própria obra, a cada encontro que promove. Fotos: divulgação. 

 

O site afefe.com.br traz informações sobre a residência artística, e é por lá também que estão as orientações sobre as vivências que preveem hospedagem, alimentação e atividades por R$ 1.460 (em quarto coletivo) a R$ 3.800 (quarto individual) no programa Coexistir, que ocorrerá de 10 a 20 de janeiro de 2023. Já no programa Reconstruir, entre 23 e 29 de janeiro, os mesmos benefícios ficam por R$ 1.490 (quarto coletivo) a R$ 2.699 (individual)

Segundo Rose, os programas visam convocar “pessoas de diferentes áreas criativas dispostas a revisitar e imergir em suas histórias, conectando práticas e pensamentos sobre arte e vida a partir de memórias compartilhadas”. Ela concede bolsas para pessoas com poucos recursos e negras ou indígenas que podem escrever uma carta de intenção para aplicar à vaga de bolsa parcial. “É o tipo de conhecimento que precisa ser compartilhado com essas pessoas, que também carregam histórias de suas trilhas, caminhadas e ancestrais”, ressalta.

Raízes
A obra de Rose, nascida em Varzedo (BA), se conecta ao que a artista passou a valorizar ao revisitar e compreender suas origens, constantemente rejeitadas por ela própria no passado. Hoje, ela diz que consegue ver toda a beleza que tinha guardada em seu legado familiar e territorial, fortalecendo-se e reencontrando-se com suas memórias durante o processo de realização da Terra Afefé. “

Me aprisionaram numa ideia que minha casa, porque era de adobe, era uma casa de pobre, e isso não é pobreza, é inteligência de sobrevivência, mas eu só entendi depois”, conta Rose. “Depois que aprendi a valorizar e a olhar diferente para minhas memórias, que passei a revisitar meus pensamentos e sensações de quando eu era criança, pude ressignificar minha história, valorizar quem eu sou, de onde eu vim”.

A artista resgata muitos momentos de sua vida no trabalho que é fruto da busca por compreender sua existência, o que abriu para ela uma porta de entrada no cenário artístico brasileiro contemporâneo, no papel de protagonista, guardiã de memórias do interior da Bahia e de vestígios das pessoas que se conectam à sua obra.

A proposta da residência artística, de uma forma geral, é dar a oportunidade de, naquele lugar, sentir com liberdade as belezas naturais, contribuir com as atividades coletivas, cozinhar e comer alimentos veganos e vegetarianos colhidos ou comprados nas comunidades próximas, se conectar com as pessoas, suas questões e a vida ao redor, com o território, e com as outras práticas artísticas que vão sendo executadas em paralelo por Rose. “No processo de erguer paredes com barro, busco, simultaneamente, uma conexão entre a intuição e o gesto que o corpo e a “terramemória” carregam”, declara. Com informações do Correio.

Serviço:
O quê: Imersão artística Coexistir
Quando: de 10 a 20 de janeiro de 2023 – 10 dias

O programa Coexistir é descrito pela artista como uma proposta de rememorar lugares e momentos das trajetórias individuais que fundamentam os ofícios e modos de existência de cada participante.

O quê: Imersão artística Reconstruir
Quando: de 23 a 29 de janeiro de 2023 – 7 dias

No Reconstruir, a ideia é aproximar as pessoas do ato de construir, “botar a mão na massa” ou, literalmente, no barro, usando o canteiro de obras como instrumento para explorar a capacidade de “pôr em prática”, de executar e realizar.

O quê: Imersão artística Habitar
Quando: todos os meses, a combinar, de 6 a 10 dias de imersão

O programa Habitar recebe, mensalmente, entre seis e 10 habitantes temporários para vivenciar individual e coletivamente a microcidade.

Onde: Ibicoara-BA

Bolsas: vagas de bolsa para pessoas negras ou indígenas com renda familiar de até 2 salários mínimos. Pessoas com poucos recursos e negras ou indígenas podem escrever uma carta de intenção para aplicar à vaga de bolsa parcial. Enviar para: contato@afefe.com.br (vagas limitadas). Fonte: Jornal da Chapada.

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *