Por Jane Fernandes
As restrições de viagem ocorridas por um longo período da pandemia fizeram com que moradores de Salvador, e outras cidades, passassem a olhar mais para o seu entorno, descobrindo ou redescobrindo lugares que costumam encantar turistas e nem sempre são realmente notados pelos moradores. A última semana de 2022, quando muitos terão mais tempo livre, é um bom momento para exercitar o “turismo” na sua própria cidade.
Para a fotógrafa Quésia Brito, 28 anos, dá até mesmo para tirar férias sem sair de Salvador e tendo sempre lugares interessantes para visitar ou revisitar. “Tirar um dia de turista, até mesmo nos lugares mais clichês, faz com que vejamos de forma diferente”, defendeu.
Quando falou com A TARDE, ela acompanhava seus alunos do projeto sociocultural Quabales no Espaço Pierre Verger, instalado no Forte de Santa Maria, na Barra. Foto: Bruno Concha/Arquivo PTT.
Em sua opinião, esse interesse vem crescendo e deve ser sempre incentivado, pois muitas vezes os moradores não dão valor aos museus, espaços culturais e atrações da cidade. Caminhando alguns metros de onde Quesia estava, é possível visitar o Espaço Carybé de Artes, no Forte São Diogo. Na outra direção, o famoso Farol da Barra abriga o não tão conhecido Museu Náutico. Tanto nos fortes, quanto no farol, há bares com proposta de mirante, de onde é possível apreciar o pôr do sol.
A percepção de que muitos locais admiram a beleza dos pontos turísticos, sem conhecer a história deles foi a motivação da guia Silvana Rós para criar o roteiro “Caminhando no Pelô”, em um período no qual a pandemia impedia a chegada de turistas. Com o retorno dos viajantes, muitos também se interessam pela caminhada histórica, mas o público de Salvador continua comparecendo e se surpreendendo.
A primeira informação inesperada surge no ponto de partida do roteiro: a Praça Castro Alves. Segundo Silvana, todos já passaram por ali várias vezes, mas poucos sabem que os restos mortais do poeta estão na base da estátua. No Terreiro de Jesus, eles se encantam ao entender o chafariz como parte de um antigo sistema de abastecimento de água, e não como uma construção com fins estéticos.
Quando chegam ao Largo do Pelourinho, eles ficam questionando onde está a coluna de pedra ou madeira que deu origem ao nome, mas não há qualquer exemplar de um pelourinho no local, a guia esclarece. Muitos só descobrem as dimensões iniciais de Salvador e a existência das suas muralhas durante essa visita guiada, então naturalmente ficam muito curiosos para ver os seus resquícios no interior do Museu da Gastronomia Baiana.
O Centro Histórico é um dos lugares nos quais a estudante Sinara Santana, 23, acha interessante visitar com olhar de turista. Moradora da Boa Viagem, ela curte as atrações musicais nas praças, mas também busca conhecer mais sobre a história. A jovem conta ter ficado muito surpresa quando soube o significado da Cruz Caída. O monumento construído por Mário Cravo Júnior é uma homenagem à antiga Igreja da Sé, erguida no século XVI e derrubada em 1933, para a passagem do bonde.
Sinara aproveitava o fim de tarde na Ponta de Humaitá com Michele e o pequeno Isaac, quando A TARDE esteve no local. Enquanto ela acompanhava o menino andando de velotrol, outras pessoas faziam ensaio fotográfico, rituais religiosos, tomavam um banho de mar ou aguardavam o pôr do sol sentados na mureta. As nuvens atrapalharam a vista, mas o movimento continuou no bar ao lado da igreja.
Um circuito da Cidade Baixa até o Subúrbio é destacado pelo diretor de serviços turísticos da Secretaria de Turismo do Estado (Setur), Divaldo Borges. “A gente tem o parque São Bartolomeu, poucas pessoas sabem que lá tem três cachoeiras maravilhosas, e você pode fazer trilhas, até pessoas que têm pouca mobilidade, cadeirantes podem fazer trilhas, tem segurança, tem guias disponíveis, tem uma biodiversidade bacana de entender”, exemplifica.
Borges afirma que o sentimento de pertencimento leva os baianos a divulgarem seus lugares preferidos, seja entre locais ou turistas. Essa ligação com a cidade também é destacada pela secretária de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Andrea Mendonça, que cita a orla e os novos equipamentos culturais e de lazer como motivos de orgulho da população.
Espaço Carybé de Artes
Localizado no Forte São Diogo (Porto da Barra), tem visitação gratuita às quartas-feiras e meia-entrada para os residentes em Salvador (mediante apresentação de comprovante de residência). Seu acervo de obras de Carybé é apresentado em projeções, totens e propostas interativas, incluindo a ludicidade de se sentir pintando um quadro do artista. O Espaço fecha apenas às terças, funcionando de quarta a segunda, das 10h às 18h (acesso até 17h). O ingresso custa R$ 20 (inteira) e R$10 (meia). IG: @espacocarybe. *Foto: divulgação/Arquivo PTT.
Importante: Não funcionará nos dias 31/12 e 1/1.
Travessia Ribeira/Plataforma
Do mar é possível olhar a Cidade Baixa por outro ângulo e dá para fazer isso de uma forma simples e barata, basta ir ao Terminal Marítimo da Ribeira e embarcar para Plataforma. O trajeto custa menos de dez minutos, mas pode ser combinado com outras atrações locais. Em Plataforma, quem chegar cedo pode comprar pescado com bom preço no Porto das Sardinhas, outra opção é escolher um restaurante perto do terminal para comer uma moqueca. A sobremesa pode ser na Ribeira, na sorveteria do Solar Amado Bahia, onde funciona o Museu do Sorvete, ou na quase centenária Sorveteria da Ribeira. Os mais dispostos podem ainda aproveitar uma caminhada à beira-mar até a Penha.
Serviço: a passagem da travessia custa R$3,30, com direito a meia, conforme as regras do transporte público de Salvador. Funciona das 7h às 18h30, todos os dias, e, segundo a Semob, não haverá mudança nos feriados.
Outras opções
Museu da Gastronomia Baiana (Largo do Pelourinho): tem acesso gratuito e normalmente funciona de segunda a segunda, das 8h às 16h. Nesta semana, abre até sexta-feira (30), 13h30. Site: www.ba.senac.br/museu.
Museu Náutico da Bahia (Farol da Barra): não abrirá nos dias 31/12 e 1/1, mas normalmente funciona todos os dias, das 9h às 18h. O ingresso custa R$15 (inteira) e R$7,50 (meia) e residentes em Salvador pagam R$5 (mediante comprovação). IG: @museunauticodabahia. *Foto: divulgação/Arquivo PTT.
Museu do Mar – Aleixo Belov (Largo de Santo Antônio Além do Carmo): nesta semana funciona até sexta-feira, mas normalmente abre de terça a domingo, das 10h às 18h (acesso até 17h). A entrada é gratuita às quartas-feiras, nos demais dias os ingressos custam R$20 (inteira) e R$10 (meia). IG: @museudomar.aleixobelov. *Fonte: Portal A Tarde.