Por Nayara Oliveira
Olhar para cima e avistar as belezas espaciais já é um ato enraizado na cultura dos nossos antepassados e se tornou a ciência mais antiga do conhecimento humano. A astronomia surgiu a partir das buscas por entender o que está além de nós e hoje é uma aliada também do turismo de observação de constelações e objetos celestes, o chamado “astroturismo”.
Desde 1961, quando o astronauta russo Yuri Gagarin proclamou a frase “a Terra é azul”, o ser humano deu um passo a mais na exploração de mundos que vão além do nosso e, nesta segunda-feira (09.01), foi momento de homenagear aqueles que dedicam suas vidas a adentrar as nuances do espaço: ontem foi o Dia do Astronauta.
Para celebrar a data, a Agência de Notícias do Turismo conversou com dois especialistas no assunto, que trouxeram dicas de locais no Brasil para avistar as estrelas, as melhores datas de observação e curiosidades sobre o tema. Venha conosco na nossa espaçonave turística e aproveite a jornada rumo aos céus do país:
CIDADES ESTRELADAS
O Brasil tem tudo a ver com astronomia. Além da disposição das estrelas da nossa bandeira ser uma representação do céu do Rio de Janeiro (RJ) no dia 15 de novembro de 1889 (em referência à Proclamação da República), o país está localizado no Hemisfério Sul, lugar privilegiado para o avistamento de constelações e objetos celestes.
Aqui é possível ver, a olho nu, a famosa constelação Cruzeiro do Sul. Além desse clássico, o apaixonado pelo céu também vai observar preciosidades de grande magnitude, como a Caixa de Joias e as Nuvens de Magalhães, grandes conhecidas dos astrônomos amadores brasileiros.
De acordo com Clauber Alex Vieira, doutorando em Física Experimental pela Universidade de Brasília (UnB), as cidades brasileiras são frequentemente associadas a um céu belíssimo e estrelado. Algumas delas são Caraíva (BA), Atibaia (SP), Paranaguá (PR), Novo Hamburgo (RS) e Itajubá (MG).
Outro ponto forte para observação dos astros, de acordo com o físico, está no coração do Brasil. “Do Centro-Oeste ao Nordeste, nas faixas de clima semiúmido e semiárido, a observação astronômica é propícia para acontecer em especial no Planalto Central, onde a combinação da altitude com a baixa umidade do ar facilita a observação do céu noturno, o que é causa para a fama e a beleza do céu de Brasília”, esclarece Vieira.
O nosso segundo entrevistado, Cledison Marcos da Silva, graduado em Física com especialização em Ensino de Astronomia e Ciências Naturais, explica que o Brasil é ideal para avistar, também, o aglomerado globular Ômega Centauri e as três estrelas mais brilhantes do céu noturno (Sirius, Canopus e Alpha Centauri). Ainda é possível ver, pelo céu privilegiado das terras verde e amarela, os asterismos da Falsa Cruz e a Cruz de Diamante, e a Nebulosa de Eta Carinae, entre muitos outros corpos celestes.
Apesar de parecer uma prática complexa, observar os astros pode ser mais acessível do que se pensa. Basta estar em lugar afastado das luzes das cidades e com céu limpo. As Chapadas do Brasil, como a dos Veadeiros, dos Guimarães, e Diamantina são locais que fomentam a prática”, explica o pesquisador Clauber.
ONDE AVISTAR
Para quem quer seguir a Rota das Estrelas no Brasil, o caminho é visitar um dos observatórios, planetários ou participar dos clubes de astronomia espalhados pelo país. “O Brasil tem mais de vinte observatórios astronômicos com telescópios profissionais em funcionamento que podem ser visitados pelo público e inúmeras associações de astronomia que realizam eventos de avistamento”, destaca Clauber Alex, que já trabalhou no laboratório de Física de Plasma e no Observatório Astronômico da UnB.
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O físico Cledison Marcos ressalta que os clubes de astronomia são, de fato, importantes aliados dos fãs do espaço. Observador de corpos celestes há quase 30 anos, a paixão pelos céus começou quando ele tinha apenas seis anos de idade e viu um eclipse parcial do Sol, em 1994. Aos 25 anos, o físico adquiriu um telescópio e nunca mais parou de apreciar o céu. “Ver a Lua, planetas e estrelas através de um telescópio é uma atividade contemplativa que nos faz perceber detalhes que jamais seriam notados a olho nu”, destaca Marcos.
Atualmente, Marcos é coordenador da comissão de estrelas variáveis da União Brasileira de Astronomia e coordenador adjunto da seção de estrelas variáveis da Liga Ibero-Americana de Astronomia. “Comecei a me dedicar ao estudo e observação de estrelas variáveis participando de campanhas de observação nacionais e internacionais em parceria com astrônomos amadores e profissionais de todo o planeta. A cena mais marcante que já vi foi um meteoro explodindo em brilho várias vezes superior ao de uma Lua Cheia, quando observei um aglomerado aberto na constelação do Escorpião ”, narra o observador.
DICAS – Com toda essa bagagem astronômica, os físicos trazem dicas simples para que os apaixonados pela jornada nos céus do Brasil apreciem ainda mais as belezas celestes. Confira:
1.CLIMA: Quando for planejar uma observação, verifique as condições meteorológicas e escolha uma noite nítida, preferencialmente em estações secas. Use agasalho, pois as atmosferas menos turbulentas estão associadas às épocas mais secas e frias, especialmente no inverno.
2. LUGAR E ILUMINAÇÃO: Vá para um lugar bem afastado das luzes da cidade. Sem um céu escuro é muito difícil observar as fracas luzes emitidas por objetos distantes no espaço, por isso muitos observatórios astronômicos são construídos em locais remotos.
3. LUZ DA LUA – Um fator importante para observação de objetos mais apagados, como alguns aglomerados estelares e galáxias, é a fase da Lua. Com o nosso satélite natural mais brilhante, esses objetos tendem a ser ofuscados pelo brilho da Lua e sua visualização é bastante prejudicada. Portanto, quanto menos brilhante a Lua estiver, melhor será. A Lua Nova é o melhor momento, pois ela se encontra muito próxima ao Sol e não aparece no céu durante a noite.
4. NÃO COMPRE TELESCÓPIO – Por mais contraditório que pareça, para começar a olhar os astros não é preciso comprar um telescópio. Ao contrário: estude e conheça o céu a olho nu primeiro e, dessa forma, não se frustrará na hora de utilizar o equipamento, já que não basta simplesmente apontá-lo para o céu. Além disso, existem diferentes perfis de astrônomos amadores e, para cada um deles, um tipo de telescópio diferente.
CALENDÁRIO ASTRONÔMICO 2023 – Ah! No Dia do Astronauta, a Agência de Notícias do Turismo tem um presente para os leitores. Trata-se de um calendário astronômico para não perder os maiores eventos de 2023, sendo, inclusive, o primeiro deles já nesta semana. Aí vão as dicas dos físicos:
– aproximação do cometa C/2022 E3 ZTF (descoberto em 2022) em 12 de janeiro;
– chuva de meteoros Lirídeos em 22 e 23 de abril;
– chuva de meteoros Eta-Aquarídeos em 6 e 7 de maio;
– chuva de meteoros Delta-Aquáridas do Sul em 28 e 29 de julho;
– chuva de meteoros Perseidas em 12 e 13 de agosto;
– eclipse solar anular (evento raro) em 14 de outubro;
– chuva de meteoros Orionídeos em 21 e 22 de outubro;
– eclipse lunar parcial (poderá ser observado na parte leste do Brasil) entre 28 e 29 de outubro;
– chuva de meteoros Geminídeos (a mais intensa) em 13 e 14 de dezembro.
*Fonte: Assessoria de Comunicação do Ministério do Turismo