Crônica de viagem: Diário de um cruzeirista confinado (2)

Por Paulo Atzingen (de Ilhéus)*
O segundo dia do cruzeirista confinado promete inúmeras atividades de pensamento, meditação e criação. O sol despontou sobre a África, correu sobre o Atlântico à velocidade da luz e às 5h32 mostrou sua crista no horizonte. Fotografo essa explosão triunfal do dia.

 

  O sol despontou sobre a África, correu sobre o Atlântico à       velocidade da luz e às 5h32 mostrou sua crista no horizonte.

 

 

Mais que técnica

O serviço de quarto continuou irretocável durante todo o dia. Uma senhora chamada Laura, provavelmente a concierge da embarcação, italiana com sotaque espanhol, me atende no ramal 6014 com uma gentileza típica dos mais altos padrões da hospitalidade. Outra senhorita, esta brasileira, de nome Juliana, no ramal do room-service, me contacta para anotar o que quero comer nas refeições e que hora que meu pedido quer que seja entregue. E vejam o detalhe: Não são autômatas.  Percebe-se, pelo tom da voz, uma preocupação genuína em atender de forma carinhosa, humana. Muito bem treinadas, colocam nessas doses técnicas algo mais profundo que trazem dentro delas, por natureza. Sabem que estou aqui, como cruzeirista confinado, passando por uma experiência não planejada e que uma forma de mitigar isso é depositando mais amor aos atos da profissão que escolheram.

O que escrevi no parágrafo anterior torna-se material, visível  quando uma funcionária do navio me traz de presente uma caneca com as iniciais da MSC.

 

Cruzeirista 2-1

Ficar confinado em um camarote e impedido de circular livremente pelas áreas do navio – enquanto acontecem festas, shows, encontros, relacionamentos e se brinda a vida pode ser frustrante para algumas pessoas; impensável ou impossível para outras. Para outras não. Sei da dinâmica do dia-a-dia do fotógrafo Daniel Lledó que está confinado na cabine 10204. Ele faz exercícios de ioga e meditação, domando seu tempo com exercícios de respiração e aprofundamento espiritual. Outros, como eu, lêem livros, escrevem, vêem o formato das nuvens, a direção do vento e se distraem não indo ao encontro do mundo, mas para fora dele.

 

Cruzeirista 2-2

A importância do prático de navio é fundamental. Ele conduz o cruzeiro em segurança até ao largo e se despede com sinais de convenção marítima.

 

O navio se despede de Ilhéus as 18 horas e como em Santos sopra seus longos e sonoros apitos dando adeus à cidade do Cacau, de Jorge Amado e de Gabriela Cravo e Canela. O cruzeirista confinado prossegue em sua viagem.

A posição do quebra-mar e do porto de Ilhéus obriga o transatlântico fazer um looping para retornar sua proa pro Sudeste. A importância do prático de navio é fundamental. Ele conduz o cruzeiro em segurança até ao largo e se despede com sinais de convenção marítima. A rotação do navio, no entanto, não é total para o sul-sudeste, algo em torno dos 60º.Ele parte a nordeste,  mar adentro.

A posição do quebra-mar e do porto de Ilhéus obriga o transatlântico fazer um looping para retornar sua proa pro Sudeste. Ele parte em direção nordeste, mar adentro.

 

É isso o que acontece. O navio faz uma longa curva e de forma suave, como a delicadeza da concierge que me atende ao telefone, com a sutileza peculiar de quem é grande mas sabe ser pequeno no mar, entra na avenida Atlântica dos cruzeiros em direção ao sul.


*O jornalista Paulo Atzingen é Diretor/Editor do Diário do Turismo, media partner do Portal Turismo Total, e viajou com seguro Europ Assistance

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