Mestre Môa: raízes afro-baianas no Festival de Cinema Brasileiro de Paris

* Duda Tawil, de Paris
Apresentado pela segunda vez ontem, dentro da programação do último dia do 25° Festival de Cinema Brasileiro de Paris, na presença do realizador Gustavo McNair e do produtor Filipe Machado, o documentário “Môa, Raiz Afro Mãe”, de 2022, retraça a vida e o legado de um dos maiores nomes da nossa cultura, mestre Môa do Katendê, assassinado em Salvador em 2018, no seu bairro do Engenho Velho de Brotas, por um extremista de direita.
Através de muitas imagens magistralmente documentadas de seu percurso, pensamentos de Môa (foto) e depoimentos de vários familiares, amigos, artistas e estudiosos da cultura afro-brasileira, o diretor paulista, em seu primeiro longa-metragem, resgata a importância do músico, compositor, cantor, capoeirista, educador artístico e fundador do Afoxé Badauê em Salvador no final dos anos 70. Imagem, crédito Izabella Rudge /Arquivo PTT.
Môa foi inspirador de tantos artistas, como ele fundamentais para a efervescência da negritude que se afirmava nas ruas, a partir do Candomblé onde bebeu na fonte desde a sua infância, ao surgimento de outros blocos afros e afoxés – “o Candomblé de rua”, o reconhecimento de grandes nomes das artes, um mundo de possibilidades, sua ida e temporada em São Paulo, a volta à capital baiana e oficinas pelo mundo afora, que fazia anualmente até seu triste desaparecimento.
Gustavo McNair e Filipe Machado apresentaram a história de Môa do Katendê para o mundo, em Paris. Foto: Duda Tawil/PTT.
O filme mergulha com sensibilidade no universo da cultura negra, como por exemplo sequências hoje históricas do carnaval, da Semana Afro de Porto Alegre no início dos anos 80, as rodas de capoeira no Dique do Tororó, entre as falas de nomes como Gilberto Gil, Lazzo Matumbi, Alberto Pitta, Arlette Soares, Goli Guerreiro, Vovô do Ilê, Emília Biancardi, Márcia Short, Letieres Leite, artistas e diretores do Badauê, e tantos mais. Também imagens dos Filhos de Gandhy, de Caetano Veloso, que gravou sua música “Badauê” no álbum “Cinema Transcendental” nos anos 80, e compôs “Beleza Pura” para  A Cor do Som, do dançarino e coreógrafo Negrizu  “o moço lindo do Badauê”, até artistas da nova geração como os músicos da Baiana System e a cantora Luedji Luna.
Gustavo conta que o projeto de filmagem data do início de 2018 (ano da morte de Môa em outubro), entrevistas com o artista com quem começou a filmar em fevereiro, e teve financiamento oficial aprovado em dezembro daquele ano, quando Môa já não estava entre a gente. Como em tantos projetos, a pandemia atrasou no processo, até sua conclusão no final do ano passado.
A maior parte da equipe é baiana, e ele estreou para o público em novembro passado no Festival Panorama Coisa de Cinema de Salvador, com duas sessões lotadas, e gente do lado de fora, no Cine Metha Glauber Rocha, em plena Praça Castro Alves. “Foi lindo e não podia ser uma estreia melhor. Quase todo mundo que participa do filme foi, um sucesso. Conseguimos fazer com que crianças do Colégio Estadual Môa do Katendê, do Engelho Velho de Brotas, fossem. A professora, diretora da escola chorou e agradeceu muito”, relembra o emocionado diretor.
                  Capa do álbum Moa Vive! Foto: divulgação/Arquivo PTT
Paris, a capital cultural do mundo, foi a primeira telona, literalmente, internacional: “A importância de participar aqui é porque Môa tinha uma relação  muito forte com a França, vinha pra cá todos os anos desde 2016 para oficinas de capoeira, aqui e na Alemanha e Argentina. Gostava muito da França e de Paris, tinha carinho. Tem foto dele no filme na Torre Eiffel e você escuta ele falar “merci  beaucoup” nos créditos. Achava que aqui tinha um movimento forte de apreço pela capoeira. Parceiros dele moram aqui como o mestre Valdeck que também tá no filme. Ele achava que aqui tem muita força. E este festival tá querendo valorizar a nossa cultura, levantar o Brasil de novo através da música”, diz Gustavo.
O filme teve pré-estreia em outubro de 2022 para convidados no Cine Petra Belas Artes em Sampa, na época da morte de Môa, depois participou do Festival de Alter do Chão no Pará, e estará no circuito comercial no segundo semestre: a distribuidora O2play tem previsão para entrar na salas de cinema de todo o país em 8 de agosto. Mais informações: @mestremoaraizafromae e @kanafilmes; https://www.instagram.com/mestremoaraizafromae/.

3 comentários sobre “Mestre Môa: raízes afro-baianas no Festival de Cinema Brasileiro de Paris

  1. Duda,

    Obrigada por esta reportagem precisa e detalhada sobre este lindo documentário.

    Que a cultura popular brasileira e o trabalho de Môa tenham um novo impulso a partir deste excelente filme.

    Dimi Ferreira

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