Por Julia Isabela*
Cerca de 41% dos brasileiros vão diminuir suas viagens de avião em 2023, segundo levantamento da Proteste, uma entidade sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos dos consumidores. Os altos valores das passagens aéreas são os principais motivadores da diminuição, ainda de acordo com o relatório. Especialistas orientam que pesquisar com antecedência é fundamental na hora de conseguir preços mais acessíveis.
Salvador ficou em terceiro lugar dentre as capitais com maiores variações no preço das passagens de avião, segundo o IPCA-15 de abril, com 18,85% de aumento. Além disso, em um ano, as passagens aéreas no Brasil ficaram 51% mais caras e também apresentaram a maior alta na comparação com todos os produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a composição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Natália Maria Cruz, economista e educadora financeira, explica os fatores que levaram as passagens aéreas a preços tão elevados, tais como o movimento do mercado, já que com o avanço da vacinação e a declaração do fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as pessoas buscaram em grande quantidade esse consumo (viajar de avião), que estava reprimido, e quando a demanda por um serviço aumenta, seu preço fica mais caro.
“Além disso, existe o impacto da guerra na Ucrânia sobre o preço dos combustíveis, inclusive o querosene, que abastece o avião, e afeta diretamente nos preços das passagens aéreas. Por fim, pode-se apontar também o câmbio: metade dos custos do setor são dolarizados, então, quanto mais valorizado o dólar, mais caro fica oferecer o serviço”, esclarece Natália.
Antonio Carvalho, consultor e professor de economia e finanças, reforça que o preço das passagens aéreas sempre foi motivo de muitas discussões no Brasil, e que as companhias aéreas alegam, além da questão dos combustíveis, o repasse de outros custos operacionais para justificar os valores, como: custo da mão de obra e dos espaços nos terminais (guichês, estruturas aeroportuárias), gastos com manutenção, como também os altos investimentos (custos de aquisição de aeronaves).
O professor orienta que, para encontrar preços mais acessíveis, o segredo é buscar as passagens com muita antecedência. “Um dos fatores determinantes para o preço da passagem aérea no Brasil sempre foi o que podemos denominar de “critério da urgência”, pois, passagens adquiridas com prazos maiores são adquiridas a preços menores e aquelas adquiridas “em cima da hora” são sempre mais caras. Assim, como estratégia para manter as viagens de avião, a dica é, sempre que possível, planejar e adquirir as passagens com máxima antecedência e sempre pesquisar à exaustão para identificar o menor preço. O uso de programas de pontuação (próprios das companhias ou de portais de viagens independentes) também são alternativas para obtenção de economicidade”.
Carvalho também explica que muitas pessoas acabam optando por viajar de ônibus, pois a substituição do modal de transporte (do aéreo para o rodoviário) é um comportamento padrão do consumidor de bens e serviços destacado na teoria econômica. Esse fenômeno é denominado “bens relacionados” na categoria “substitutos”, ou seja, um bem ou serviço que atende a mesma necessidade em condições mais vantajosas, neste caso, o modal rodoviário atende a necessidade de transporte a um custo ou sacrifício financeiro menor.
Segundo a economista Natália Cruz, apesar de também terem sofrido com o aumento dos combustíveis, a alta do preço do transporte rodoviário foi mais modesta do que a do transporte aéreo. Já para quem não quer abrir mão do avião e segue na busca por valores mais em conta, ela recomenda utilizar ferramentas de pesquisa e alerta de preços.
“Se o consumidor tiver flexibilidade nas datas para o destino escolhido, é possível encontrar ainda melhores oportunidades. As milhas também podem trazer vantagens em compras de trechos. Vale destacar que o planejamento é peça muito importante, ou seja, organize sua viagem com alguns meses de antecedência para que haja tempo de monitorar preços e, concomitante a isso, organize as finanças para ir guardando dinheiro para esse objetivo, mês a mês”, orienta Natália.
Futuro incerto
A educadora financeira pontua que não há expectativa para diminuição imediata dos valores das passagens aéreas. É o momento ainda – e por mais algum tempo – de estar atento às oportunidades. Para que os preços de passagens aéreas voltem a reduzir, Natália acredita que é necessária uma combinação de fatores, como o aumento da competitividade no setor, a elaboração de políticas públicas que tragam investimentos para a produção de combustíveis sustentáveis, por exemplo, o retorno do poder de compra do consumidor e o fim do cenário de guerra, que atinge o mercado mundial de combustíveis.
“O caminho para baratear valores de passagens aéreas é reduzir custos. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), quase 40% do custo da passagem é reflexo dos combustíveis e lubrificantes comprados para a aeronave. Os impostos, como o ICMS, também fazem parte desse custo. Nesse sentido, o governo pode buscar medidas de encontrar mecanismos de equalização para que o combustível aéreo possa ser vendido em patamares menores. A expectativa de baixa do dólar também acontece nesse sentido de permitir redução de custos do setor”, diz.
Já o professor Antonio Carvalho também acredita que não há muita esperança de redução, já que maio é a data base dos dissídios trabalhistas da maioria das categorias profissionais, promovendo reajustes de salários, o que aumentará os custos das operações e os impostos. Além disso, para o consultor, movimentos do governo federal e de alguns governos estaduais apontam para o aumento da carga tributária, o que também contribui para o aumento ou o impedimento da redução dos custos.
Porém, em uma análise mais otimista, Carvalho relembra a medida recém adotada pela Petrobras, anunciada no dia 16 de maio, de quebra da paridade do preço do petróleo do mercado internacional no Brasil, seguindo orientação do governo federal, e que com isso houve sensível redução dos preços dos combustíveis. Logo, considerando que o combustível é um insumo vital do transporte e representa um dos mais importantes componentes dos custos, caso a redução dos preços se mantenha ou seja ampliada, é possível que haja redução dos preços das passagens nos próximos meses. Outro fator que pode contribuir com a queda dos preços é o período de meio do ano, considerado de “baixa estação” para as viagens de turismo.
Em nota enviada à A TARDE, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) justificou os valores apontando que o querosene de aviação (QAV) disparou nos últimos três anos, o que impacta os custos estruturais e preços de bilhetes. Além disso, segundo a associação, o Brasil é o único país que tributa o QAV (ICMS, por exemplo), tornando o preço pago nas refinarias brasileiras 32% superior ao valor pago pelas aéreas norte-americanas.
“Apesar disso, as empresas aéreas estão constantemente anunciando novos voos e promoções, buscando aumentar a eficiência de sua operação e prover o melhor serviço a preços competitivos. Em fevereiro de 2023, cerca de 30% dos bilhetes foram vendidos abaixo de R$ 300, e quase 60% até R$ 500”, diz a Abear.
Fonte: A Tarde