Por Duda Tawil *, texto e fotos
Elas estão localizadas na região central de Portugal, na ou em torno da cordilheira da Serra da Estrela: são as 12 Aldeias Históricas Portuguesas, ricas em história milenar, passeios, muita cultura e arte, gastronomia típica e, para refrescar, agora no verão, as praias fluviais. O turismo representa pura felicidade, prazer e altas sensações para quem for conhecê-las.
Fruto de um sonhado projeto que nasceu há cerca de 30 anos, chamado, literalmente, “Desenvolvimento de Produto Turístico Aldeias Históricas de Portugal”, o destino é interessantíssimo e muito vale a pena a visita de alguns dias, ou uma semana, pelo menos. Como diz o logo “1 destino que são 12”, são elas, as aldeias, algumas de nomes bem familiares para os baianos, principalmente: Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso.
Para o turista brasileiro é Belmonte, sem dúvida, a aldeia que mais diz respeito: é simplesmente o berço do achador do Brasil, Pedro Álvares Cabral. O monumento em homenagem ao seu filho mais ilustre, de 1963, sito na rua principal que leva obviamente seu nome, foi inaugurado pelo ex–presidente Juscelino Kubitschek. Embora chamada pelos portugueses de aldeia (vilarejo), Belmonte tem ares tranquilos de uma pequena cidade do interior, de cerca de 3500 habitantes. Ela é linda, pitoresca, e sua gente de uma gentileza ímpar, calorosa, receptiva e bem-humorada. A igreja principal abriga a sua padroeira, de mesmo nome, Nossa Senhora da Esperança, cuja imagem, segundo consta, acompanhou Cabral além-mar.
Duas noites ali são indispensáveis para poder, por exemplo, desfrutar plenamente de um “pass”, de apenas 10€, que dá direito aos seus cinco museus mais o panteão da Igreja de Santiago, com parte das cinzas do seu filho ilustre, que foram transladadas, nos anos 80, de Santarém, onde viveu até o resto de sua vida, no esquecimento. A igreja era uma etapa importante para Compostela, na Espanha.
São os cinco museus: o Castelo de Belmonte, monumento emblemático da cidade, uma antiga fortaleza medieval de 1258, depois pertencente à nobre família Cabral, e onde nasceu Pedro. Além do acervo, tem galeria para exposições temporárias e um anfiteatro. Possui uma janela em estilo manuelino que é ex-libris e orgulho da cidade, e no alto da imponente torre quadrada, que se sobe por escadas até o telhado, existem quatro bandeiras ao vento: de Portugal, do Brasil, da União Europeia e de Belmonte; o Museu do Azeite sobre a fabricação do óleo de oliva e seus derivados, em prédio que servia para este fim, do século XIX; o Museu Judaico, que, como seu nome indica, apresenta séculos da presença judaica num único espaço, e é uma bela mensagem de tolerância entre os povos, suas origens e religiões; o Ecomuseu do Zêzere, sobre os ecossistemas deste rio que atravessa a região, desde a nascente na Serra até a sua foz, a flora, a fauna, a salvaguarda deste importante patrimônio natural; e, obviamente, o Museu dos Descobrimentos, moderno e bastante interativo, como pede a nova museologia. A cultura brasileira, na nossa mistura de raças – branca, negra e sobretudo indígena, tem lugar de destaque.
Na bela e tranquila Belmonte a história, o patrimônio e as tradições são narradas nos espaços museológicos, mas não se pode esquecer as trilhas acerca dela: a natureza!
Interessante notar que não só em Belmonte, mas na região da Serra da Estrela e arredores, muitas atrações são bem recentes, como se um renascer para o turismo brotasse ali novamente, e precisa(sse) eclodir. Além disso, a natureza a alcance dos pés para quem curte caminhar ou pedalar, com trilhas sinalizadas, ou mesmo cavalgar, é um paraíso para os amantes do verde, e das águas.
No entanto, o carro é o ideal para se percorrer a região, pois os horários dos ônibus são muito restritos, e nem todas as aldeias são servidas pelos transportes públicos. E inúmeras atrações estão situadas na parte rural, e não no perímetro urbano de cada uma delas. Por exemplo: a aldeia de Belmonte está perto da aldeia de Sortelha (19km) e a solução é o táxi com Dora Lourenço, celular (+351) 963.887.448, por 20€, ida e volta.
O hotel referência para se hospedar em Belmonte é o Belsol, de vista panorâmica para o vale e um trecho do rio Zêzere; a ótima Casa Rafael, de Ana e Vítor Morão, tem o selo AL (Alojamento Local), familiar, telefone (+351) 275.086.404 e celular (+351) 968.619.555, com quartos a 35€ e 25€. Restaurantes e bares: A Grelha, na entrada da cidade; dos Descobrimentos, perto da estátua de Cabral; e Farol da Esperança, com menu completo a 13€, incluindo o vinho de Fundão e café. As ótimas pastelarias ou lanchonetes, servindo também snacks: Monumental, em frente a Cabral; Hot Space, Saribela e Lhá.
Mais informações: www.cm-belmonte.pt; instagram @visit.belmonte; www. aldeiashistoricasdeportugal. com ou pelo email produto@ aldeiashistoricasdeportugal. com
Uma frase local diz: “Comece em Belmonte e acabe onde quiser. Tem 600km para descobrir”. De fato! Feita Belmonte, agora, é só decidir que direção tomar. Aí vão duas delas, duas grandes cidades, com algumas dicas:
Torre é o pico da Serra da Estrela e o ponto mais alto de Portugal continental, com ônibus que parte da Covilhã.
COVILHÃ: a íngreme cidade, antiga mas hoje jovem pois universitária, é famosa pelo fabrico e comércio da lã, e os métiers provenientes dos lanifícios. Existe o museu específico para tal, inclusive, o Museu de Lanifícios. Tem 34 mil habitantes. É a principal porta de acesso ao Parque Nacional da Serra da Estrela: da praça central (leia-se da prefeitura ou da Câmara Municipal), parte o pequeno ônibus para Torre, o pico da Serra e o mais alto de Portugal continental, com 1993m de altitude. É estação de esqui no inverno. A ida e a volta custam menos de 12€, mas com horários bem espaçados ao longo do dia, e leva-se 35 minutos a subida. Se informar no posto de turismo em frente ao ponto. Lá em cima, nas lojas, degustação do famoso queijo da Serra, o melhor do país e um dos melhores do planeta, e de charcutaria, vendas de lembranças locais e uma cafetaria e um restaurante. Vista linda para o vale em 360⁰, a luz do sol é fantástica, o ar puríssimo, assim como o céu de límpido anil. Anote: o Museu do Queijo fica no vilarejo de Peraboa, a 14km da “cidade grande”, e não na Serra em si. Na cidade, o Museu da Covilhã, aberto em 2021, muito interessante, de pedagógica instalação, é gratuito e pela sua acessibilidade e interatividade, recebeu o prêmio de “Melhor Museu de Portugal” no ano passado; e vale a pena o Museu de Arte Sacra. A cidade tem um fantástico, surpreendente circuito de “street art” nos seus muros e fachadas! Comer no restaurante Montiel, na praça principal, de ótimos preços e qualidade, pois é referência, com maravilhosos pratos do dia a 10€. Hospedar-se no Hotel Santa Eufémia, na parte baixa da cidade, ou em cima no Hotel Solneve, ambos ótimos 3*, com duplo a 60€ e single a 40€, em média.
Navegar: www.cm-covilha.pt e www.visitcovilha.com
FUNDÃO: cidade de 26500 habitantes, a primeira que se alcança quando se vem de Lisboa para se chegar às 12 aldeias. Se chama assim por estar na cavidade entre dois vales: da Serra da Gardunha e da Serra da Estrela. Está mais perto das aldeias de Castelo Novo, Monsanto e Idanha-a-Velha. É a capital nacional da cereja, com badalado festival no mês de junho, mas famosa também pelo pêssego. O ofício de turismo, na bonita praça da Câmara Municipal, tem funcionários gentis e preparados para as melhores dicas. Uma delas é o tuk-tuk com a guia de turismo Olga Nogueira (+351) 966.486.548, nascida perto de Besançon, na França, mas criança foi morar na propriedade rural da família, perto de Fundão, pessoa adorável. Por 50€ ela faz um maravilhoso tour de 4h, mostrando e explicando com amor o “seu” mundo ao redor, dentro e fora da cidade. Por exemplo, o novo Museu da Cereja, a 4km, no vilarejo de Alcongosta, com vendas de produtos derivados dessa suculenta frutinha vermelha da primavera; passa também na Queijo Tradicional Soalheira, na Quinta do Pomar, queijaria da família Joaquim Duarte Alves, para fotos, fabrico, degustação e compras; nos meses de calor, paradas para mergulho nas praias fluviais de Souto da Casa (vila bem perto de Fundão) ou ao lado da interessante aldeia histórica de Castelo Novo. Na cidade, o interessante Museu Arqueológico Municipal José Monteiro nos leva à pré-História da região, e, em outras palavras, períodos milenares da Humanidade, com acervo monumental, atualmente com a expo temporária “75 anos de vida, 40 mil anos de memórias do território”, com coordenação-geral de Pedro Salvado e curadoria de Joana Bizarro e Pedro Mendonça. As diferentes “casas” em várias localidades: Casa do Bombo, do Mel, das Tecedeiras, do Barro, das Memórias (António Guterres), da Poesia (Eugénio de Andrade), da Romaria (Santa Luzia), da Cereja e do Pastor. Tem para todos os gostos! Por falar em gosto, são destaques da gastronomia: o arroz de carqueja (uma erva) e sobretudo o de míscaros (um tipo de cogumelo) atraem o turista ao Restaurante Hermínia, assim como o borrego (ovino) e cabrito assados ao forno do Restaurante Alambique, imperdíveis! Perto do centro, da Avenida da Liberdade, e em rua calma, tem o ótimo 3*, Hotel Samasa, de 55€ o duplo e 45€ o single. Além de vários AL (Alojamento Local), familiares, com lista disponível no posto de turismo.
* O jornalista Duda Tawil, colaborador do Portal Turismo Total, agradece a Duarte Rodrigues, do escritório das Aldeias Históricas de Portugal (Rua Pedro Álvares Cabral, n° 52), em Belmonte, pelos conselhos preciosos sobre o produto e a região.
Merci cher Duda pour ce reportage très intéressant qui m’a donné envie de connaître cette belle region