* Por Duda Tawil, texto e fotos –
A capital gaúcha tem literalmente uma “pérola negra” em se tratando de turismo pelas ruas de Porto Alegre, na forma de “walking tour”, ou um tour a pé, pelo seu Centro Histórico. Trata-se do “Afro-tour: Presença Negra em Porto Alegre” criado para proporcionar aos que fazem o tour presencial e/ou virtual, ampliarem seu conhecimento sobre a diversidade existente na cidade, e no estado do RS, como um todo.
Sobretudo aprendendo sobre a presença negra, no passado e atualmente, em emblemáticos lugares que marcam essa presença fundamental na formação do povo gaúcho, mas principalmente pelas histórias das pessoas negras que foram e são protagonistas da História com h maiúsculo. Aliás, histórias que antes não foram contadas sobre a Porto Alegre negra, como a passagem e permanência dos povos africanos e afro-gaúchos, os territórios que ocupavam, suas contribuições, histórias e culturas que hoje são um legado importantíssimo e merece ser visto, revisto e valorizado, divulgado, o que tentará essa reportagem com sua pequena contribuição.
Viver o Afro-tour é o essencial, para poder descobrir essas respostas e se encantar com essa história extraordinária! Todos precisam conhecer as lendas do Bará do Mercado Popular e da Igreja das Dores, os mistérios da Praça do Tambor e qual o maior quilombo deslocado de Porto Alegre!? Apenas para citar um dos seus pontos cruciais.
Turistas e mesmo porto-alegrenses: o “Afro-tour: Presença Negra em Porto Alegre” contribui efetivamente, desde 2019, quando foi criado por Aline de Abreu Andreoli, para a mudança de paradigmas racistas, machistas e transfóbicos que as pessoas possam ter antes do tour, ressignificando as histórias, muitas vezes anteriormente contadas apenas da perspectiva do colonizador, mudando o foco para os sujeitos protagonistas dessas histórias, pois o tour pode ser considerado como uma prática antirracista de educação não formal.
Conforme se pode verificar na “Cartilha de ERER” escrita por Aline, uma brava guia de turismo, professora pós-graduada, especialista em História Africana e Afro-brasileira. Ela é também mestra em Educação, e sua prática pedagógica foi sugerida na sua dissertação e no produto educacional resultante do Mestrado Profissional em Educação da UERGS/Litoral Norte, disponível no link: https://repositorio.
No trajeto, o belo painel afro-brasileiro, em mosaico de cerâmica, no Largo Glênio Peres, concebido por Pelópidas Thebano e executado por Vinicius Vieira, integra o Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre.
Dentre os principais objetivos do Afro-tour, pode-se destacar a promoção de uma educação antirracista, sendo ofertada tanto para turistas de todo o Brasil, bem como para grupos escolares ou de outra entidade. Afinal, como cidadãos, todos temos a obrigação de aprender através da Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER), e assim desconstruir o racismo estrutural que tanto engessa o Brasil, transformando em atitudes antirracistas, antimachistas, antitransfóbicas e contra qualquer tipo de preconceito, em prol da diversidade e equidade, ou seja, a sonhada sociedade justa, inclusiva e plural.
No recente 41° Congresso Brasileiro de Guias de Turismo, no mês passado, em Porto Alegre, a guia Aline Andreoli, também pesquisadora da temática racial há mais de 20 anos, como educadora antirracista nas redes estadual e municipal da capital, teve seu trabalho reconhecido e ovacionado ao receber o “Prêmio Guia Inovador.a” graças ao seu Afro-tour, tanto por lutar por uma temática pouco trabalhada, quanto por ter realizado o Afro-tour mesmo online, durante a pandemia, sempre em parceria com instituições negras, como o Quilombo Areal da Baronesa e o Clube Negro Floresta Aurora, este o mais antigo do Brasil. Foi durante a crise sanitária que muitas pessoas importantes do Movimento Negro participaram online, como a professora doutora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, grande intelectual negra, gaúcha, relatora da Lei 10.639/03 que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História Africana e Afro-brasileira em todas escolas do país, desde 2003!
Grupo de guias brasileiros, participantes do 41° congresso, aderiu entusiasmado ao Afro-tour, na foto com a Igreja das Dores ao fundo.
Já nas edições presenciais, o Afro-tour teve participações especiais de pessoas negras, e dentre elas foi destaque a professora e atriz Vânia Tavares, em julho de 2023, em homenagem ao dia 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e Dia de Teresa de Benguela, no Brasil. Na ocasião, Vânia, além de contar sua trajetória como mulher negra, fez intervenções artísticas interpretando o poema “Me gritaram negra”, de Victoria Santa Cruz, poeta, coreógrafa, folclorista, estilista e ativista afro-peruana.
Em abril passado, durante o congresso nacional dos guias, no Barra Shopping Sul, o “Afro-tour” foi abrilhantado com a participação de Oscar Henrique Cardoso, jornalista, escritor e militante do Movimento Negro que, além de contar sua história, fez declamação de poemas: um próprio e outro do poeta Oliveira Silveira, de quem era amigo, além de cantar música do inesquecível gaúcho, e negro, Lupicínio Rodrigues.
O tour costuma terminar na Praça do Tambor, assim chamada pois ali está a escultura em homenagem aos ancentrais africanos e negros gaúchos
O Afro-tour geralmente tem o seu ponto de partida no Mercado Público de Porto Alegre e o encerramento na Praça do Tambor (a Praça Brigadeiro Sampaio, na Rua do Andradas). É todo feito a pé, em terreno plano, sem dificuldades de locomoção num trajeto de cerca de um quilômetro e várias paradas, em um tempo estimado de 2h30, dependendo do tamanho do grupo.
É feito somente por agendamento prévio pelo zap (51) 98207-4273 e pelas redes Facebook Aline Andreoli e Insta @aline_andreoli. E é…imperdível!
Muito axé, tchês!
#Duda Tawil é Guia de Turismo e Jornalista colaborador do Portal Turismo Total.