Cidade monumental da história nacional
Por Nelson Rocha
No outrora povoado do Paraguaçu, que já foi a freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, depois Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, hoje cidade de Cachoeira, monumento nacional situado no Recôncavo baiano, o visitante realmente respira história a cada quarteirão colonial percorrido. Este patrimônio é daqueles destinos que o viajante pede a Deus para estar no seu caminho. Situada a cerca de 120 km da capital baiana, passa o desejo de ficar por mais uns dias, para melhor desfrutar das caminhadas a beira do rio Paraguaçu, passeios de barcos, sabores e paisagens repletas de arte e cultura.
Com boas opções de hospedagem, de bares e restaurantes, Cachoeira lhe recebe oferecendo aulas de história, religião, poesia, embaladas com os acordes do reggae de Edson Gomes, que ecoa a partir da vizinha São Félix.
A história do município é de tamanha riqueza para a memória nacional, que inspirou o artista plástico e guia turístico local David Rodrigues, a criar um baralho cujas 54 cartas representam o seu patrimônio material e imaterial, através do qual até o coringa faz uma leitura contemporânea deste acervo ao ar livre.
Para o turista que visita Cachoeira por pouco tempo, o melhor é satisfazer o paladar, a começar degustando uma suculenta maniçoba, prato típico à base de folha da mandioca. Depois várias são as opções para visitar, como a Ordem Terceira do Carmo, que reúne os estilos rococó, barroco, neoclássico e neogótico, a Câmara e Cadeia, onde o povo aclamou em 1822 Dom Pedro de Alcântara como Príncipe Regente, a Igreja Matriz expondo painéis de azulejos, o Instituto Roque Araújo e Museu do Cinema, a Fundação Hansen Bahia com o brilhante trabalho de xilogravura do gravador alemão, a Irmandade da Boa Morte, símbolo de resistência das irmãs negras, de cunho católico com recheio do sincretismo religioso, a Minerva cachoeirana, filarmônica fundada em 1878, o chafariz imperial que esboça o neoclássico, a Santa Casa da Misericórdia, com jardim de característica francesa, a Igreja de Nossa Senhora do Monte, cravada em uma das áreas privilegiadas da cidade e o Memorial de Mãe Felipa, que morreu com 110 anos, entre outras atrações.
Tudo isto recomendado ao turista, não poderia estar completo sem uma passagem na Casa de Samba, na Rua Ana Nery, núcleo do molejo que tia Ciata (1854-1924) da vizinha Santo Amaro da Purificação, irmã da Boa Morte, levou para a Praça Onze no Rio de Janeiro e deu origem a ala das baianas no carnaval carioca. Caminhando por Cachoeira, se ver o samba na alegria dos nativos, no olhar de todos.
Como toda esta riqueza histórica e cultural, tudo isto está nos arredores, em seguida faça um passeio pela beira do rio Paraguaçu, caminhada que pode dá na ponte inglesa que aproxima Cachoeira de São Felix. No mais, como diria o saudoso poeta Damário da Cruz, soteropolitano adotado pela cidade, “Globalização, quanto mais sonho com Cachoeira, mais amanheço em Nova York”.