Vaucluse: joia encravada no sul da França

Por Duda Tawil

Um dos menores departamentos franceses, cheio de charme, o Vaucluse faz sonhar o mundo inteiro com nomes como Avignon, Lubéron e Mont Ventoux, as três microrregiões nas quais se encontra subdividido. Encravado na região da Provence, no sul da França, banhado pela luz do sol e privilegiado por um céu de azul límpido na maior parte do ano, ele tem na sua história, sítios e monumentos seculares, na qualidade dos seus vinhedos que produzem um dos melhores vinhos do mundo, o Châteauneuf-du-Pape, na sua variada e rica gastronomia e tremenda beleza das paisagens e vilarejos, a força do seu turismo, o que explica uma taxa de visitação de 4,5 milhões de turistas por ano.

Avignon:  papas e teatro

O emblemático Palácio dos Papas, em Avignon
O emblemático Palácio dos Papas, em Avignon

Avignon é a maior cidade, sede do departamento, e principal porta de entrada da região. Conhecida como a Cidade dos Papas, pois a partir do Século XIV era a capital do cristianismo, com a instalação dos Papas em 1309, e assim se tornou propriedade da Santa Sé por quatro séculos. Com quatro quilômetros de muralhas que a cercam, em grande parte foi tombada pelo Patrimônio da Humanidade da UNESCO.

Além do Palácio dos Papas, o maior palácio gótico da Europa, edificado em 1335 em menos de 20 anos, a cidade é famosa mundialmente pelo seu Festival de Teatro, desde 1947, sempre no mês de julho, em pleno verão. É o maior encontro de teatro a céu aberto do mundo, com milhares de espetáculos em todos os espaços. Outro símbolo de Avignon é a Ponte Saint-Bénezet, que cruza o rio Rhône, mas constantemente destruída devido às inúmeras inundações causadas pelo rio. Ela continua incompleta, o que faz todo o seu charme, e é Patrimônio da UNESCO. Graças a ela, uma famosa canção para crianças, “Sur le Pont d´Avignon” integrada numa ópera popular, é cantada em todo mundo.

Ao lado do Palais des Papes, uma visita que vale a pena é ao Museu do Petit Palais, no antigo Palácio do Arcebispado. Ele possui uma coleção excepcional de pinturas italianas e provençais, do final do Séc. XIII ao início do Séc. XVI, assim como uma coleção de esculturas locais, romanas e góticas. Ali se encontram Botticelli, Carpaccio e Giovanni di Paolo em mais de 300 obras que retraçam o percurso artístico da Idade Média ao Renascimento (www.petit-palais.org)

Mais dois museus, particulares, são imprescindíveis na vista a Avignon, para os amantes de arte. O Museu Angladon, uma mansão no coração do Centro Histórico, possui telas de grandes artistas dos séculos XIX e XX. Aberto em 1996, expõe a coleção do estilista e apaixonado pelas artes Jacques Doucet. É o único museu do sul da França que possui um quadro de Van Gogh (que viveu alguns anos no final de sua vida na Provence e onde pintou inúmeras obras-primas, hoje espalhadas em todo o mundo): “Vagões da Ferrovia”. E mais Manet, Degas, Daumier, Cézanne, Vuillard, Sisley, Picasso, Foujita e Modigliani.

O outro é o Museu Louis Vouland: na intimidade de uma mansão do final do Séc.XIX, uma rica coleção de artes decorativas, representativa dos séculos XVII e XVIII, e obras de pintores provençais e de Avignon do Séc. XIX. Aberto em 1982, reinaugurado em 2006, ele possui cerca de 200 peças em cerâmica, mobiliário, prataria, lustres e tapetes valiosos da coleção do casal Vouland. Um belo jardim interno completa a vista. (www.vouland.com)

A fachada verde de Les Halles, que é o Mercado Municipal de Avignon
A fachada verde de Les Halles, que é o Mercado Municipal de Avignon

Imperdível: as Halles d´Avignon, em outras palavras, o mercado municipal, coberto, para degustação de produtos locais. Existem também cursos de cozinha, previamente agendados: a pessoa faz as compras ali mesmo com o chef do dia, e passam juntos do fogão à mesa. Melhor, impossível. O mercado reúne 40 comerciantes, e existe há 120 anos. Fica na Place Pie, e a fachada é um surpreendente muro vegetal concebido por Patrick Blanc. Experimentar os vinhos Côtes du Rhône, como o Châteauneuf-du-Pape branco e o tinto Saint-Joseph; os queijos de cabra da Ferme de Pesillon, o Picodon de Dieulefit, típico da Provence, o Pelardon e o Banon; a omelete Crespeou; as tapenades (patês de azeitona); as anchoiades (com enchovas) e o patê Caillette, entre outras muitas especialidades locais e da França em geral. (www.avignon-leshalles.com)

Onde ficar: Hôtel de l´Horloge, rue Félicien Davig, 3 – 84000 Avignon, Tel.: (0033) 4.90.16.42.00 (www.hotels-ocre-azur.com; e e-mail: hotel.horloge@hotels-ocre-azur.com).

Onde comer: Le 46 Restaurant Bar à Vin, na rue de la Balance, 46 – 84000 Avignon, Tel.: (0033) 4.90.85.24.83 (www.le46avignon.com e e-mail: contact@le46avignon.com)

Guia de turismo e conferencista: Nadine Marquier, tel.: (0033) 6.11.81.10.11.

As vinhas de Châteauneuf-du-Pape

Visita a uma cave é obrigatória em Châteauneuf-des-Papes
Visita a uma cave é obrigatória em Châteauneuf-des-Papes

O vilarejo de apenas 2100 habitantes empresta o seu nome à mais célebre marca registrada vitícola (ou “appellation’) entre as Côtes du Rhône: a Châteuneuf-du-Pape, conhecida mundialmente, e que quer dizer, literalmente, castelo novo do Papa, pois era ali, durante os verões, que os Papas vinham de Avignon para passar a estação mais quente do ano.

O enoturismo é feito até em passeios de bicicleta neste e em outros vilarejos, já que a metade deles no Vaucluse vive da cultura da vinha. Várias propriedades estão no itinerário dos ciclistas, com estradas bem sinalizadas, e elas oferecem degustação dos produtos, às vezes ateliês. Para aluguel e tours de biclicleta, contatar Thierry Ayme, da Sport Aventure, pelos telefones (0033) 4.90.34.75.08 e 6.10.33.56.54.

Uma dica interessante é visitar o Domaine de la Solitude, propriedade da família Lançon, na Route de Bédarrides, 84230 Châteauneuf-du-Pape ou www.domainesolitude.com e domaine.solitude@orange.fr, tel.:(0033)4.90.83.71.45. A Federação dos Sindicatos dos Produtores de Châteauneuf du Pape, através do seu diretor, Michel Blanc, propõe visitas e dão bons conselhos para os amantes do enoturismo: www.chateauneuf.com. Como, por exemplo, associar o vinho ao chocolate. Sim! Por que não? O Pavillon Skalli oferece, durante duas horas e por 35 euros, um ateliê com degustação de vinhos brancos e tintos, associados a diferentes tipos de chocolates-ganaches de Aline Géhant. Possui ainda uma interessante butique de objetos relacionados ao universo do vinho. (www.pavillondesvins.com)

Cada vez mais o vilarejo recebe turistas brasileiros interessados no enoturismo da região. Por este motivo, e pela primeira vez, os viticultores de Châteauneuf-du-Pape estiveram presentes na Expovinis, em São Paulo. A associação é presidida por Michel Blanc. No vilarejo, elas são comercializadas na casa de vinhos Vinadea (www.vinadea.com)

Não deixar de almoçar, bem perto das ruínas do castelo, no alto do vilarejo, de vista estonteante para todo o Vale do Rhône, no restaurante Le Verger des Papes, situado na rue Montée du Château, 4 (www.vergerdespapes.com e e-mail: contact@vergerdespapes.fr), de Philippe e Jean-Pierre Estevenin.

 La Sorgue, reino dos antiquários

Se ele não chega a ser a ilha do tesouro, é certamente um paraíso para amantes de antiguidades, que ali comparecem do mundo inteiro, como uma meca, duas vezes por ano, no início da primavera, em março/abril (Páscoa),  e no auge do verão, em torno do feriado nacional de 15 de agosto. Trata-se do vilarejo de “Ilha sobre o Sorgue”, literalmente um vilarejo situado dentro de uma ilhota, circundada pelas águas do rio Sorgue. É de um encanto de deixar o visitante sem respiração, a imponência de sua Catedral La Collégiale com seu belo altar em lápis-lazuli, o extremo bom gosto das suas casas, seu comércio, seus hotéis e restaurantes charmosos. (www.foireantiquites-islesurlasorgue.fr)

Após mais de 40 anos, ele é hoje o terceiro mercado mundial de antiguidades, somente atrás de Paris, e no contexto internacional, Londres na frente. Além dos dois grandes encontros anuais, existem ali 350 expositores permanentes, inclusive abertos todos os fins de semana do ano. Pequenos canais cortam o vilarejo, e suas ruas são entrelaçadas por pontes em todas as direções. Não é à toa que ele é inevitavelmente comparado a Veneza. Nos meses de verão, um mercado flutuante provençal, vem acrescentar ainda mais um ar gracioso a este lugar encantador.

Esta presença da água é tão particular, característico e vital nesta microrregião do Vaucluse que o Ofício de Turismo Intercomunal regrupa cinco vilarejos, pois, além de L´Isle-sur-la-Sorgue estão incluídos Fontaine de Vaucluse (que empresta seu nome ao departamento, pois “Vallis Clausa” significa vale fechado), Châteauneuf de Gadagne, Le Thor e Saumane de Vaucluse. (www.oti-delasorgue.fr)

O vilarejo possui cinco hotéis de charme que são a melhor opção para os que escolherem dormir ali, e aconselha-se reservar sempre. Entre eles, estão La Prévoté, com Sévérine Alloin, na rua Jean-Jacques Rousseau, 4b, tel.: (0033) 4.90.38.57.29 (www.la-prevote.fr), também excelente restaurante gastronômico;  La Maison sur la Sorgue, com Marie-Claude e Frédéric Dol, na rue Rose Goudard, 6, tel.: (0033) 6.87.32.58.68 (www.lamaisonsurlasorgue.com); e Artishow, com Anabelle Musset, na rue Denfert Rochereau, 9, tel.: (0033) 4.32.61.07.95 (www.maisonartishow.com).

Sete belos vilarejos

Jornalistas da APE no Castelo de Lacoste, propriedade de Pierre Cardin
Jornalistas da APE no Castelo de Lacoste, propriedade de Pierre Cardin

O Vaucluse possui sete entre os mais bonitos vilarejos de toda a França. São eles: Seguret, Venasque, Menerbes, Roussillon. Gordes, Lourmarin e Ansouis. No entanto, muitos outros merecem uma visita, e, entre eles, Lacoste.

Aos 96 anos e sempre em forma, um dos maiores nomes da história da alta costura, Pierre Cardin também luta  na defesa do patrimônio histórico dos monumentos do seu país. Ele comprou há poucos anos e acabou de restaurar um castelo medieval, no vilarejo de Lacoste, no Lubéron. O Marquês de Sade ali morou no Século XVIII. Cardin vai lá a cada 15 dias supervisionar tudo, sobretudo a disposição dos móveis que compra nos brechós de Paris, e se lembra de cada detalhe. E ele aproveita suas temporadas para recuperar restaurantes, bares e padarias que estavam fechados. No final, tudo ficará para a Fondation de France. Além disso, criou um festival de música clássica no verão, que já faz parte do calendário cultural da região. Informações no Espace La Costa, na rue Basse, com Fabienne Fillioux, tel.: (0033) 4.90.75.93.12 e e-mail: espace.la.costa@wanadoo.fr

Em Gargas, a atração é a Mathieu Lustrerie, com o seu museu de lustres, que vão do  Séc.XV até os contemporâneos, alguns em pedras brasileiras, como a ametista. No seu ateliê, o mais especializado do mundo na arte do lustre, Régis Mathieu e equipe restauram o antigo, criam o novo, e vêm passar os mais belos lustres do planeta, de óperas, palácios, castelos e casas particulares, mundo afora. Hameau des Sauvans, 84400 Gargas, tel.: (0033) 4.90.74.92.40 (www.mathieulustrerie.com)

Na pausa entre os vilarejos, um oásis é o Hotel La Coquillade, em pleno vale. Trata-se de um estabelecimento de luxo 5 estrelas, gastronomia premiada (contemporânea e tradicional), uma propriedade vitícola Aureto, associada ao conforto atual e à natureza em sua volta. Endereço: Hameau La Coquillade, Le Perrotet – 84400 Gargas, tel.: (0033) 4.90.74.71.71 (www.coquillade.fr)

Os telhados típicos da Provence e construções em ocre, em Roussillon
Os telhados típicos da Provence e construções em ocre, em Roussillon

Na parte da tarde, a visita pode continuar por Roussillon, com sua terra natural nas cores de ocre, e suas variações. É um espetáculo para os olhos, único em toda a região, quiçá em toda a França. Ao lado do lindo vilarejo e suas fachadas coloridas de tonalidades de ocre, como não poderia deixar de ser, está o agora protegido o parque “Sentier des Ocres de Roussillon”, que é um caminho sempre de terra, com algumas passarelas e escadas, a ser percorrido com sapatos de cores escuras, de preferência. (www.roussillon-provence.com).

Mais adiante, a poucos quilômetros, e bem distinto, o vilarejo de Gordes, todo em pedras, com seu labirinto de ruelas, em cima de uma colina e seu castelo de estilo renascentista dominando uma lindíssima vista para todo o vale a seus pés. (www.gordes-village.com). Um excelente guia para esta parte do passeio é  Wenzel Glasauer, instalado na região e grande conhecedor da mesma. Tel.: (0033) 4.90.76.96.68, e e-mail: wenzel.g@worldonline.fr

Como chegar

Trem: estação Avignon TGV: o trem-bala que sai da estação Paris Gare de Lyon, em 2h38;

Avião: Aeroporto Avignon-Provence, a 10 km do centro da cidade (www.avignon.aeroport.fr), ou pelos aeroportos de Marselha (a 1h) e Nîmes (a 45 minutos)

Carro: Avignon está a 50min de Aix-en-Provence, 1h de Marselha, 30min de Arles, 2h de Lyon e 2h30 de Nice.

Mais informações

Vaucluse Tourisme: www.provenceguide.com

Avignon Tourisme: www.avignon-tourisme.com

Office Intercommunal du Pays des Sorgues: www.oti-delasorgue.fr

Office de Tourisme Provence Rhône et Ouvèze: www.pays-provence.fr

* O jornalista integrou a viagem da Association de la Presse Étrangère (APE), da qual é membro desde 1989.

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