“2017 será um ano duro para o turismo, mas vamos conquistar resultados” diz Paulo Gaudenzi
Por Nelson Rocha
Durante 12 anos o executivo Paulo Gaudenzi ocupou o cargo de secretário de Turismo do estado da Bahia. Atualmente, como presidente do Salvador Destination e integrante da nova diretoria do Conselho Baiano de Turismo (CBTur), concedeu entrevista exclusiva ao Portal Turismo Total, demonstrando não estar de acordo com a política estadual de governo para a atividade turística, mas acreditando em avanços no futuro para o setor. “O ano de 2017 será um ano difícil, duro, ninguém tenha dúvida, de desafios para o turismo da Bahia, mas seguramente nós vamos conquistar resultados”. Confira, a seguir, o resultado da conversa de Gaudenzi com o PTT:
“O Turismo da Bahia hoje precisa resolver alguns gargalos que são perniciosos à nossa atividade”, diz Paulo Gaudenzi, apontando os problemas que travam o desenvolvimento do setor, propondo soluções, ponto por ponto:
“É resolver o problema do Centro de Convenções. É dar sequencia ao que deve ser feito naquele prédio, importante arquitetônicamente, que está situado no local melhor que existe hoje na cidade para ser o Centro de Convenções, reformado e modernizado. Se for provado, suficientemente bem provado, que não tem condições de se manter em pé aquela estrutura, o que eu não acredito, terá que ser demolido e construído outro no mesmo local. Realmente é o único lugar capaz de ter o Centro de Convenções para atender equitativamente a hotelaria da cidade e as necessidades de mobilidade dos turistas e visitantes congressistas.
O segundo ponto é o governo voltar, a ter o que já teve no passado, uma ou duas campanhas de Mídia anual, na grande imprensa brasileira. Pelo menos uma, no segundo semestre, pra reforçar o verão, que é a apoteose da época turística, e isso há muito anos não se faz.
Terceiro ponto de vista é fazer com que funcione o Prodetur (Programa Nacional do Desenvolvimento do Turismo) da Baía de Todos os Santos, assinado desde março de 2014, com dinheiro no banco depositado, seguramente deve estar pagando alguma taxa de permanência, e não se sacou nada, não se fez uma obra sequer ou, a rigor, não se sabe quais são as obras que vão fazer. O que se tem ciência é que, de quatro a cinco meses prá cá, depois de dois anos e alguns meses, se fez o contrato da empresa gerenciadora, que é uma exigência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Foi contratado, há poucas semanas, o estudo da demanda (da Baía-de-Todos-os-Santos) potencial e futura, porque a partir dessa demanda é que vai se pensar o que se vai fazer e como. Fora isto, pontualmente, existe um projeto que foi apresentado na mostra técnica, quando se entrou com o pedido do Prodetur, que foi a reforma do Museu Vanderlei de Pinho, provavelmente pronto porque é um projeto do IPAC. Ou seja, a área de Turismo não fez absolutamente nada, não avançou…
Aeroportos baianos
Outro ponto importante é o problema do aeroporto, que chegou ao que chegou. Porque houve desinteresse do governo federal, da Infraero, mas o governo da Bahia, que era aliado do governo federal durante dez anos, poderia ter interferido, e fortemente, pra que nós não fôssemos prejudicados e chegar ao ponto em que chegou. As 12 cidades que foram sedes da Copa, quase todas elas tiveram melhorias nos seus aeroportos. Se for analisar isso, os números que couberam à Bahia foram os menores e a nossa reforma, o que era importante não apareceu, nem estava incluído nisso que era a ampliação da estação de passageiros. Eu não estou nem falando na segunda pista, pra que Salvador se torne um grande e funcional hub – plataforma giratória de voos- – de distribuição de voos, o que seria importantíssimo pra cidade de Salvador.
Em 2007 ainda éramos o quinto aeroporto brasileiro em movimento geral, hoje já somos o nono e vamos cair mais. Isso é a nossa situação, dez anos e esse governo, alinhado com o governo federal, não soube ou não foi competente, ou não teve interesse em fazer com que a Infraero ( Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) revisse a sua ação com relação ao aeroporto de Salvador. Ah, não é possível! Depois, também não houve uma luta sistemática para se resolver o problema da segunda pista”, enfatiza Gaudenzi, sobre o que considera “os quatro grande gargalos, para o turismo da Bahia”.
A construção de um novo aeroporto para Porto Seguro, “uma joia da coroa”, atenção com o aeroporto de Ilhéus, que considera um dos piores do País, com o aeroporto de Vitória da Conquista, um futuro aeroporto para a região norte do estado, resolver definitivamente os problemas que afetam o aeroporto de Barreiras, avançar com outros projetos ligados ao Prodetur em outras áreas, incrementar o crescimento das redes hoteleiras do Litoral Norte da Bahia, são sugestões de Paulo Gaudenzi para “movimentar a economia baiana e, seguramente, auxiliar muito o seu turismo”.
Orçamento estadual para o setor
Para Gaudenzi, a proposta orçamentária do governo estadual para a Secretaria de Turismo em 2017, de 0,28%, aprovada pela Assembleia Legislativa, “é quase a metade do pouquíssimo que já foi este ano. É difícil fazer turismo na Bahia, porque não há uma definição clara, de prioridade à atividade econômica do turismo. Não se entendeu, nestes últimos momentos, que 7,5% da atividade do PIB da Bahia está voltada para a atividade do turismo, não se entendeu os milhares de mão de obra empregada, e tanto não se entendeu, que nós temos nestes últimos dois anos, mais de 12 hotéis fechados na cidade do Salvador”.
Paulo Gaudenzi diz só acreditar em avanços no estado para o setor em 2017 se o governo revir o orçamento. Com relação à Salvador, o executivo considera estar a primeira capital do Brasil se beneficiando com o tratamento que a prefeitura da cidade vem dando à população local, reformando e ampliando áreas de lazer. “O turista é o habitante temporário da cidade e ele chegando a Salvador e encontrando onde a população está brincando, se distraindo, isso fortalece a atividade do turismo e lhe dar força, segurança, de que aquele é um bom lugar para estar. Então é importante que a população viva a cidade, através dos parques, jardins, movimentos das feiras gastronômicas, de antiguidades, etc, nas praças da cidade. O calendário de eventos da cidade é fundamental e hoje nós já temos, além do Carnaval, um grade Réveillon que deu um reflexo altíssimo pra hotelaria, com todas as dificuldades que nós tivemos no ano de 2016. Vamos ter em dezembro um belo final de ano graças ao Réveillon, de resto nós estaremos em dificuldades, até pela própria crise nacional”, avalia, acrescentando a sugestão de um grande evento na cidade a cada dois meses, para dar sustentabilidade a atividade turística.
Salvador Destination
No bojo do desenvolvimento do setor na capital, Gaudenzi destaca o trabalho do Salvador Destination na captação de fluxo de turismo, disputando para atrair muitos dos 83 congressos programados no país até o ano 2022. “Conseguimos montar um banco de dados que não existia e estamos restritos a trabalhar com congressos de 1.500 pessoas, no máximo 2 mil, porque não temos um grande Centro de Convenções”. Para finalizar, Paulo Gaudenzi diz que continuará trabalhando para trazer quem decide eventos corporativos de empresas, assim como jornalistas, formadores de opinião, para mostrar a nova Salvador.