Por Janize Colaço
Com a alta do dólar, o turismo doméstico se tornou a única opção viável para muita gente com sede de viagem. Dentre os potenciais turistas brasileiros, cerca de 83% desejam visitar destinos turísticos nacionais, segundo aponta a última Sondagem de Expectativas do Consumidor, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas.
No entanto, ainda que economicamente atrativos, os principais destinos do País ainda precisam enfrentar fatores negativos para manter o interesse de seus visitantes. Durante o verão, a ameaça de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti é temida por turistas estrangeiros e pelos nacionais. Além disso, a precariedade da segurança pública em alguns Estados e cidades também costuma ser apontada como um dos principais pontos negativos que afastam o público.
Apesar disso, conforme explica o diretor de Produtos Nacionais e Operações da Flytour, Daniel Firmino, cidades do Nordeste, ricas em belezas naturais e paisagens exuberantes, e até mesmo destinos nacionais com tradição no Turismo, como é o caso do Rio de Janeiro, tiveram apenas cancelamentos pontuais, pois “ainda representam um sinônimo de custo e benefício aos turistas domésticos”.
Consultados pelo Portal PANROTAS, de maneira quase unânime, profissionais do setor, e de diferentes destinos do Brasil, apontam um dos principais fatores negativos não são as adversidades que atingem as localidades, mas a maneira generalizada com que o assunto é tratado, gerando uma imagem negativa perante a população.
ZIKA E OUTROS PERIGOS
Tido como um dos principais destinos de lazer do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro, no ano passado, despertou a atenção do mundo com o Zika vírus. Em todo o Estado fluminense o Ministério da Saúde contabilizou um total de 67.481 casos. Entretanto, apesar de ter despertado o temor de inúmeros turistas – sobretudo aos que assistiriam aos Jogos Olímpicos – a cidade carioca continuou a atrair um número elevado de visitantes de todo o País.
“A exposição que a mídia faz, tanto em relação a saúde pública quanto a violência, não condiz completamente com a realidade”, aponta o diretor financeiro da Rio Máximo Tur, Diego Penades. A agência, especializada em Turismo receptivo, destaca que a imagem negativa é muitas vezes mais associada pelo turista brasileiro do que pelo internacional.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o gerente de Vendas da Império Turismo, Marcelo Fagundes, destaca que o recente surto de febre amarela, também transmitida pelo Aedes aegypti, em Minas Gerais, com 138 casos confirmados, também influencia o setor. “Porém nem todas as cidades afetadas têm o Turismo como o seu ‘carro-chefe’”, salienta Fagundes.
No entanto, ainda que a febre amarela ainda não esteja espantando os turistas, o gerente afirma que em 2016 houve uma acentuada queda no número de visitantes. Naquele ano, o responsável também foi o mosquito, porém a doença que afastou os turistas foi a dengue. Minas Gerais e Belo Horizontes foram o Estado e capital que registraram os maiores números de casos do vírus no Brasil – 527,8 mil e 157,1 mil, respectivamente, segundo aponta o Ministério da Saúde.
“Nós orientamos os turistas a passarem repelente durante o ano todo, e no caso da febre amarela, a tomarem a vacina antes de viajarem”, afirma Fagundes. Para ele, porém, o Turismo acaba sendo prejudicado pela falha de outros setores público. “Não adianta a gente conscientizar quando as entidades responsáveis só agem quando [as doenças] viram epidemias e ficam fora de controle”, acrescentou.
SEGURANÇA PÚBLICA
Ainda de acordo com a última sondagem feita pela FGV, pelo menos 49% dos brasileiros têm a intenção de escolher destinos da região Nordeste para visitar. Apontado como o terceiro melhor destino da região no Travellers’ Choice, Natal ganhou as manchetes recentemente, porém, não por suas belezas naturais. A rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz deixou 26 detentos mortos e 54 fugitivos. De acordo com os noticiários, ondas de violência teriam atingido a Grande Natal.
Apesar disso, para o trade, os turistas seguem alheios e, mesmo com a repercussão negativa, poucos cancelamentos foram feitos. “O destino Natal é vendido sempre com antecedência”, afirma o diretor do Best Western Premier Majestic e presidente da Abav-RN, Abdon Gosson. Segundo ele, com pacotes geralmente vendidos durante a baixa temporada, o verão em Natal já é responsável pela ocupação hoteleira acima de 90%.“Há, sim, conflitos e problemas de ordem da segurança pública atingindo a Grande Natal, porém o corredor turístico da capital permanece intacto e atraindo inúmeros visitantes”, explica.
Também frequentemente lembrado pela violência, os pontos turísticos tradicionais da cidade do Rio de Janeiro, segundo aponta a diretora da Carnaval Turismo e presidente da Abav-RJ, Cristina Fritsch, não oferecem riscos aos visitantes. Ainda segundo ela, a questão da insegurança da capital fluminense não é exclusiva, mas um reflexo do que também acontece em todo o País. “É realmente uma tarefa difícil quando a nossa própria imprensa parece fazer questão de apenas ressaltar os pontos negativos da cidade”, afirma, acrescentando que “assim, não há destino no Brasil que se promova”.
Por ano, a cidade recebe cerca de cinco milhões de visitantes domésticos. E visando aumentar ainda mais a ocupação da cidade, recentemente o ministro do Turismo, Marx Beltrão, se reuniu com as principais entidades do setor. “A questão da segurança foi, sim, uma das pautas debatidas nesse encontro”, porém a presidente ainda destaca que o tema mais relevante foi a promoção do destino – tanto aos visitantes domésticos quanto internacionais.
FUGINDO DAS GENERALIZAÇÕES
Para a diretora da Pires & Associados e presidente do Conselho Consultivo da WTM Latin America, Jeanine Pires, as generalizações de fatores negativos podem afetar o Turismo. Segundo ela, em alguns casos, fatos conjunturais, como questões de violência, podem ter um peso maior na escolha do turista de prosseguir ou não com a viagem planejada.
Embora nem todas as ocorrências realmente afetem o corredor turístico, Jeanine ressalta que cabe ao destino esclarecer e informar que não há perigo aos visitantes. “É preciso trabalhar com mais firmeza as ferramentas permanentes de promoção, como as relações públicas e o marketing, que devem, desde já, estarem preparados para esclarecer a situação de normalidade do destino”, afirma.
Ainda segundo ela, apesar de nem todas as ocorrências negativas divulgadas condizerem com a realidade, os destinos como um todo – trade, entidades municipais e governamentais –, mais do que apenas vender uma imagem positiva aos turistas, devem de fato buscar sempre manter a normalidade para os moradores locais. “Afinal, quem melhor para promover ou derrubar um destino que o seu próprio habitante?”, indaga Jeanine.