“Quem chega na Praça Cayru/ Olha pra cima, o que é que vê?”. A figura citada nos versos iniciais da canção Retrato da Bahia, conhecida na versão do Trio Nordestino e de autoria do compositor Riachão, não deixa mentir: o retrato fiel da Bahia tem a presença de um dos equipamentos mais queridos, visitados e fotografados de Salvador. E justamente neste mesmo 8 de dezembro, dia da padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição, o Elevador Lacerda comemora exatos 144 anos de inauguração.
“É através dele que milhares de pessoas se deslocam para as cidades Alta e Baixa. O belíssimo Elevador Lacerda nos proporciona uma vista da Baía de Todos-os-Santos e o acesso à rica cultura do Pelourinho”, enfatiza a baiana de acarajé Solange dos Santos, 64 anos.
Com construção iniciada em 1869 e inaugurado em 8 de dezembro de 1873, o cartão-postal da capital baiana foi o mais alto elevador urbano do mundo e o primeiro edifício público modernista no Brasil. Concebido pelo engenheiro Antonio de Lacerda e construído pelo irmão Augusto de Lacerda, inicialmente foi denominado Elevador Hidráulico da Conceição. Isso porque o maquinário contava com uma bomba a óleo movida originalmente por uma máquina a vapor para fazer o transporte de pessoas entre 63 metros de altura. O nome Lacerda – em homenagem ao idealizador – foi concretizado em 1896.
Em 1906, o sistema foi modificado para tração elétrica e, 21 anos depois, a Companhia Linha Circular de Carris da Bahia, empresa concessionária do elevador, passou a ser controlada pela General Eletric. Com isso, uma nova mudança foi realizada: a ampliação do equipamento com a construção de uma nova torre de 73,5m, mais duas cabines e ponte superior de acesso. A inauguração da estrutura atual ocorreu em 1º de janeiro de 1930. Devido à importância, o ascensor foi tombado como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 7 de dezembro de 2006.
O guia turístico Jorge Gomes, 42 anos, reforça o relato ao afirmar que, antes, o Elevador Lacerda também era utilizado como transporte de cargas e serviu para muitos comerciantes naquela época. “Continua sendo um ponto turístico muito importante para a nossa cidade. Baianos e turistas utilizam todos os dias e percebem que é um meio de transporte com bom custo, rápido e de fácil acesso”.
Meio de transporte – Administrado pela Prefeitura por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), o ascensor transporta cerca de 28 mil pessoas diariamente, entre 6h e 23h, de segunda a sexta-feira, e das 6h às 22h, aos sábados e domingos. A tarifa custa apenas R$ 0,15. A viagem é quase expressa – dura apenas 30s. “Não sabia que era tão rápido para chegar até aqui (Praça Cairu). A vista que podemos contemplar é linda e vale muito a pena”, disse o turista mineiro Marcos Teixeira, 37 anos.
Para se manter em funcionamento durante todo esse tempo, diversas ações de reforma e manutenção já foram realizadas. A ação mais recente nesse sentido foi realizada em 2013, com a substituição de duas cabines e revisão estrutural. Em 2014, uma novidade: a liberação do acesso às cabines para pessoas com bicicletas todos os dias, em parceria com o Movimento Salvador Vai de Bike.
“Este compartilhamento entre pedestres e nós ciclistas foi de grande importância. Ganhei tempo para chegar ao meu destino com o auxílio do Elevador Lacerda”, enfatiza o ciclista e cozinheiro Carlos Carrascosa, 52 anos. Ele ainda complementa que a liberação de acesso fez com que aumentasse a atratividade das ciclofaixas tanto no Comércio quanto no Centro Histórico.