Se Miami já pareceu uma espécie de caricatura de si mesma, tudo que tem acontecido nas últimas duas décadas veio para envergonhar os estereótipos. A cidade se renova (quase) na mesma rapidez em que brasileiros aterrissam por lá, com constantes inaugurações de hotéis badalados, alguns dos melhores restaurantes dos Estados Unidos e uma consolidada cena de museus e galeria.s
A Miami clichê das pool partys, das esculturas do Romero Britto e do consumismo desenfreado existe, claro – e nada contra. Mas também cede espaço para uma cidade moderna, referência mundial em gastronomia e arte.
Em Mid-Beach, o Faena
Boa parte dessa recauchutagem pode ser vista logo nos hotéis. Sempre no centro das atenções em Miami, eles entram em uma frenética e salutar disputa para ver qual vai trazer o designer mais badalado, o chef mais bombado, a piscina mais fotogênica, o spa com a melhor grife, o rooftop com a vista mais arrasadora.
O boom recente trouxe uma porção de novos empreendimentos à região de Mid-Beach, o trecho do “meio” da praia de Miami Beach. Ali deu o que falar a abertura do Faena em 2016.
Do empresário argentino Alan Faena (o mesmo cara que reinventou a área de Puerto Madero, em Buenos Aires), o distrito (porque é tão grande que é chamado assim) compreende seis quarteirões com um hotel pequeno nomeado Casa Faena, condomínios residenciais, um shopping, um centro cultural e o tal hotel Faena em si.
Tudo nele é opulento: o trecho da praia com mar azul-clarinho, as banheiras vintage de mármore, as colunas douradas do lobby, a tapeçaria e os lustres estampados, as duas esculturas do artista britânico Damien Hirst (mais especificamente: um mamute e um unicórnio).
Mais hotéis à beira-mar
Além do Faena, um movimento de hotéis bacana já estava rolando por ali. O Miami Edition, por exemplo, esbanja pista de boliche, balada, spa e o restaurante latino do chef Jean-Georges Vongerichten, dono de três estrelas no Michelin em sua casa de Nova York.
O The Confidante, da rede Hyatt, é todo inspirado no estilo art déco da região, com cabanas vintage na piscina e restaurantes. A galera jovem curte o agito do hostel Freehand, cujo bar The Broken Shaker capricha na coqueteleria, e o novo restaurante Twenty-Seven, nos petiscos.
As novidades têm chegado ainda mais ao norte, atingindo Surfside, onde, em março de 2017, a rede Four Seasons abriu sua segunda unidade da cidade. O hotel reviveu um clube dos anos 1930 em que já circularam Frank Sinatra e Elizabeth Taylor e tem três piscinas e um spa de 1.400 metros quadrados.
Brickell
É tentador se hospedar pertinho do mar, mas o novo point onde hotéis se acotovelam por um espaço é a região de Brickell, em Donwtown Miami. Se antes ela remetia a empresários sisudos e apressadinhos, hoje tem um inegável apelo turístico com a inauguração do Brickell City Centre, um projeto ambicioso e bilionário que ficou quatro anos em obras.
Ali tem shopping, claro, porque estamos em Miami, mas, em vez de corredores fechados com ar-condicionado, trata-se de um prédio de arquitetura arrojada, cheio de vãos abertos. As mais de 100 lojas incluem nossas queridas Victoria Secret’s e Apple, e também marcas bem pouco difundidas nos Estados Unidos, como a italiana Baldini.
Para comer, nada de Burguer King, mas sim locais como a lanchonete natureba Dr Smood e uma filial do melhor japa da cidade, o Pubbelly Sushi. Ainda em fevereiro de 2018, deve abrir o La Centrale, um mercadão italiano tipo o Eataly que vai misturar restaurantes com empório gourmet.
E no mesmo complexo está, tcharan, mais um hotel, o East. Fique a postos ali em frente, num sábado à noite, para dar com uma fila de moçoilas bronzeadas de salto alto e carinhas de mocassim prontos para serem encarados pelos seguranças e tentar um espaço no Sugar, o bar, no rooftop do 40º andar. Lá, a brisa do mar sopra de longe e uma espécie de jardim asiático abriga a galera ao som de música lounge.
Igualmente disputado é o restaurante Quinto La Huella, dos mesmos donos de um parador famoso de Punta del Este, com carnes e peixes feitos na parrilla.
Outra recente inauguração de Brickell é o hotel SLS, de dezembro de 2016. Você vai reconhecê-lo na rua graças ao exterior do prédio todo coberto com faixas coloridas, instalação do artista Markus Linnenbrink. O hotel-butique, com 124 quartos, um restaurante do chef José Andrés e um rooftop com piscina, teve décor projetado pelo designer francês Philippe Starck – no lobby, uma instalação multimídia faz com que um par de macacos digitais te acompanhe com o olhar e imite seus movimentos.
Downtown Miami
De fato, o que Miami tem recebido de mais interessante está no Centro, e tudo indica que, na sua próxima ida à cidade, você deve ficar mais tempo fora das areias de South Beach.
E o Museum Park talvez seja o símbolo desse renascimento de Downtown, uma enorme e plana área verde, às margens da Baía de Biscayne, que recebe eventos como o festival de música eletrônica Ultra. Ali está a gigante American Airlines Arena, que sedia shows de Justin Bieber a Paul McCartney e jogos do time de basquete local Miami Heat.
Do lado oposto, o Pérez Art Museum, o melhor museu da cidade, disposto num prédio diferentão, com plantas pendentes, pensado pela empresa suíça Herzog & De Meuron. Ali estão mais de 2 mil obras de artistas latinos e americanos expostas de forma rotativa.
Aberto em 2012, o lugar caiu no gosto dos locais e turistas, vide as filas que se instalam ali no primeiro sábado de cada mês, quando a entrada é gratuita. Depois da visita, todo mundo se ajeita nos banquinhos e degraus do parque, virados para o mar.
Em maio de 2017, chegou coisa nova na área: foi aberto o Phillip and Patricia Frost Museum of Science, um gigante de 20 mil metros quadrados. Daqueles museus de ciência cheios de coisinhas para apertar, cheirar e assistir, ele tem instalações de respeito, como um planetário com tela de 8K e imagens em 3D, um aquário de três andares cheio de tubarões e uma exposição sobre o corpo humano em que você cria seu próprio personagem virtual.
Grafites em Wynwood
A menos de 3 quilômetros ao norte dali já adentramos Wynwood, cujos grafites você já viu no Instagram de algum amigo. Mas todo o alarde em volta do bairro se justifica: seus quarteirões, que poderiam estar em algum bairro hipster de Berlim ou Londres, estão sendo rapidamente tomados por tudo o que tem de mais cool.
Wynwood viveu a história clássica de gentrificação das cidades grandes: era uma região operária com muitos imigrantes que sofria com o tráfico de drogas nos anos 1980 até que grupos de artistas começaram a ocupá-la em busca de aluguéis mais baratos.
Já nos anos 2000, o empresário americano Tony Goldman começou a comprar imóveis na área e idealizou as Wynwood Walls, um circuito de murais pintados por vários artistas convidados (os brasileiros Osgêmeos estão lá), hoje possivelmente o lugar mais fotografado da cidade.
A partir daí, os galpões decrépitos passaram a ser ocupados e agora tem coisa pra caramba ali. Quer tomar uma cerveja em arquibancadas ao ar livre? Vá ao Wood Tavern. Comer guacamole e quesadillas e depois dançar numa pista oculta com mais de 30 tipos de tequila? Chegue a Coyo Taco de noite. Tomar sorvete artesanal feito com bebidas alcoólicas? No Serendipity tem. Provar alta gastronomia em ambiente despojado? O lugar é o restaurante Alter.
A rua principal de Wynwood é a NW 2nd Avenue, o melhor lugar para bater perna, com alguns desvios nas transversais. Se conseguir se programar, esteja lá no segundo sábado do mês, quando acontece a Wynwood Art Walk, uma feira com designers locais e food trucks que vai até altas horas da madrugada. Um epítome de Wynwood hoje.
Design District
O braço mais sofisticado de Wynwood é o Design District, um pouco mais ao norte. A princípio, ali se instalaram galerias de arte – não perca a De La Cruz Colecction, de arte contemporânea, e a Elastika, uma instalação da arquiteta iraniana Zaha Hadid, que ocupou um prédio de 1921 com umas formas brancas que parecem chiclete.
Depois, chegaram as lojas de móveis e decoração, como a Oggetti, com objetos de design. E aí uma coleção de grifes de moda que tornou o lugar uma espécie de Quinta Avenida de Miami, com Burberry, Cartier, Dior, Louis Vuitton, todas com lojas-conceito com arquitetura bacaninha.
Vale passar lá nem que seja só para olhar as vitrines, tirar fotos com os murais (como o Jungle, que mostra uma floresta com pássaros) e comer em alguns dos restaurantes, como no Mandolin Aegean, um bistrô que parece saído do Pinterest com comida da Grécia e da Turquia, e na filial da lojas de macarons parisienses Ladurée.
Porque Miami, hoje, is all about sair da mesmice.
Quando ir: A temperatura é relativamente amena o ano todo; evite junho e julho, quando chove mais
Dinheiro: O dólar Língua: O inglês Comunicação: A empresa EasySim4u vende chips pré-pagos da T-Mobile com atendimento em português e entrega no Brasil. O plano de dados que dura dez dias com 4G ilimitado custa US$ 50 Fuso: – 1h (no verão dos EUA) Documentos: Brasileiros precisam de visto Como circular: Não precisa mais alugar carro: os aplicativos Uber e Lyft quebram o galho nos deslocamentos |
- Fonte: Revista Viagem e Turismo