Por Fábio Steinberg
Alegria de uns, tristeza de outros. Este poderia ser o lema da situação da indústria de turismo do Brasil quando comparada à Argentina. Os dados não mentem: enquanto os hermanos do sul colhem bons resultados por seu trabalho profissional e bem planejado, aqui só nos resta correr atrás do prejuízo.
Tempo perdido
De acordo com a WTTC (Conselho Mundial de Viagens e Turismo) o Brasil ocupou em 2017 a vergonhosa 117ª posição em um ranking de 185 países. Enquanto isto, o turismo da Argentina ficou em 87% lugar. Nesta categoria, só estamos à frente de nulidades turísticas como a Venezuela – e isto porque o país vive uma triste crise político-econômica.
Se considerarmos a participação da indústria do turismo no PIB (Produto Interno Bruto), a Argentina dá banho de desempenho. De acordo com a WTTC, o setor trouxe uma contribuição à economia de 3.7% (direta) e 10.3% (indireta). Aqui, não passou de 2.9% (direta) e 7.9% (indireta). Sem falar nos resultados excepcionais do México, onde o índice chegou a 16%, ou a Costa Rica com quase 13%. Ou a média global, que atingiu 10,4%.
Nada se compara ao México, que com maestra gera com o turismo 16% da renda do país, quando a média mundial é 10.4%
O Brasil patina há décadas nos mesmos seis milhões de visitantes internacionais. É menos que os quase 7 milhões de visitantes da Argentina. E isto apesar do país ser menor e mais distante dos grandes centros emissores de turistas.
Brasil X Argentina
O que distingue os dois países neste quesito? Para começo de conversa, os argentinos trabalham com dados confiáveis, mercadoria inexistente ou rara no Brasil. Planejar nestas condições adversas seria como tentar construir um prédio sólido sobre areias movediças.
O segundo fator do nosso fiasco é a falta de seriedade com que a atividade é tratada pelos sucessivos governos. Por exemplo: os Ministros designados para o cargo não são do ramo. Usam a função como trampolim para saltos políticos mais ambiciosos. Mal aprendem onde fica a porta do banheiro da repartição e já abandonam a função por outra coisa melhor para eles.
Na Argentina a conversa é outra. O atual Ministro, o carismático Gustavo Santos, está no cargo desde 2015. Possui diversificada formação acadêmica em Letras, Turismo, Gestão de Empresas e Políticas de Estado. Além disso, vem de bem-sucedida carreira pública em Turismo durante oito anos, exercidos na província de Córdoba.
Um Ministro ativo
Santos esteve no Brasil recentemente para participar da WTM, a mais importante feira internacional de turismo da América Latina. A sua missão foi alavancar um plano de ação para ampliar o número de brasileiros que viajam à Argentina.
Ele não esteve em São Paulo para fazer discursos ou cortar fitas de inauguração de estande, mas sim para colocar as mãos na massa. Chegou munido de informações precisas sobre os brasileiros que entram em seu país. Por exemplo, ele sabia que são quase 1,3 milhão de viajantes vindos de 16 destinos brasileiros. E que 54% desembarcam de avião, 31% por terra e 15% por cruzeiros. E ainda que 72% entram por Buenos Aires, 8% por Bariloche, e não mais que 1% se destinam a Salta. E por aí vai.
Desfederalização
Gustavo Santos quer mudar isto, em um processo que denomina “desfederalização”. Ou seja, evitar que a maioria das entradas ocorra pela Capital. Quer distribuir as chegadas dos brasileiros através de cinco pontos do país. A meta também é fazer o viajante permanecer mais tempo na Argentina. E também conhecer novos destinos, possível graças à integração entre aeroportos de Buenos Aires, Mendonza, Córdoba, Rosário e Bariloche.
Assim, ao invés de falar apenas sobre a manjada dupla Buenos Aires & Tango, a bola da vez passou a ser, por exemplo, a ascendente região de Jujuy. Com mais 800 mil visitantes por ano, fica próxima à Bolívia e Chile. Ali se concentram em poucos quilômetros de distância colinas multicoloridas, salinas, desertos, selvas, reservas da biosfera, parques nacionais, sítios arqueológicos, gastronomia e atividades ao ar livre.
Lições portenhas
A dinâmica atividade do turismo na Argentina contrasta com o que ocorre no Brasil. Afinal, somos um país de privilegiados recursos naturais, com rica e diversificada cultura, e um povo hospitaleiro. Mas falta priorizar esta indústria como vetor de desenvolvimento. Não é para se ter inveja dos argentinos, mas humildemente aprender a receita do bolo com eles.