Festa da Boa Morte completa 238 anos e atrai turistas de várias partes do país para Cachoeira

As ruas de Cachoeira, no coração do Recôncavo baiano, foram tomadas por turistas e devotos para acompanhar a Festa da Boa Morte. A celebração é realizada há 238 anos pela Irmandade da Boa Morte, uma das primeiras entidades do país formadas exclusivamente por mulheres. Desde 2010, a festa é considerada patrimônio imaterial da Bahia. A programação dos festejos foi iniciada na segunda-feira e segue até esta sexta-feira, dia 17.

Na manhã desta quarta-feira (15), as 22 mulheres que fazem parte da Irmandade deixaram a sede da entidade em cortejo até a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. No templo religioso foi realizada uma missa de assunção de Nossa Senhora, presidida pelo bispo Dom Antônio Moutinho Teixeira. Em seguida, integrantes da irmandade, membros da Igreja Católica, turistas e moradores acompanharam a procissão em homenagem a Nossa Senhora da Glória. A imagem de Nossa Senhora percorreu as principiais ruas do município.
Tradicional cortejo percorreu as ruas de Cachoeira com integrantes  da irmandade, católicos, moradores e turistas. Foto: Elói Corrêa/GOVBA

Com lotação máxima no setor hoteleiro de Cachoeira e municípios vizinhos, a Festa da Boa Morte já figura entres os principais eventos do turismo religioso na Bahia, gerando emprego e renda, a partir da união da cultura, religiosidade e gastronomia. De acordo com o secretário estadual de Turismo, José Alves, a festa atrai pessoas de diversos lugares, que vão até Cachoeira para conhecer mais sobre a tradição e o sincretismo religioso.

Aos 91 anos, uma das mais antigas integrantes da Irmandade, Dalva Freitas, revelou que a devoção foi herdada de sua avó. “É com muito amor, muito respeito que devoto minha fé a Nossa Senhora e já acompanho desde criança. Eu vim acompanhando minha avó e, na irmandade, já exerci as funções de tesoureira, provedora, escrivã e continuo aqui firme para a próxima função que vier. Essa fé só se acaba quando Deus me chamar para perto dele”, revelou.

História

A Irmandade da Boa Morte é uma das maiores manifestações culturais do Recôncavo Baiano, passada de mãe para filha por 22 mulheres negras. Até pouco tempo, para fazer parte da Irmandade, as irmãs precisavam ter mais de 50 anos e serem descendentes de africanos.

O culto à Nossa Senhora foi difundida pelo mundo ocidental, desde o século IX, através da expansão católica. As festividades têm forte tradição portuguesa, mas sofreu influência do catolicismo afro-brasileiro.

A Festa da Boa Morte representa a força de mulheres negras que conquistaram espaço na sociedade e decidiram se unir para comprar a liberdade dos homens e mulheres que ainda estavam submetido ao modelo escravagista. Com força, perseverança e fé, elas criaram a Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte, confraria religiosa afro-católica responsável pela alforria de inúmeros escravos.

 

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