Fechamento do Othon é um duro golpe no turismo baiano

Por Lício Ferreira

O turismo baiano acaba de sofrer um duro golpe, no momento em que a sua rede hoteleira começava a usufruir dos bons ventos da bonança com  a ocupação dos leitos em torno de 65 a 80% nos feriados e finais de semana.  Neste feriadão, a companhia Hotéis Othon anunciou que, já no próximo dia 19 de novembro vai fechar as portas do Bahia Othon Palace, localizado no bairro de Ondina, em Salvador, inaugurado em 1975.

A Rede Othon teve no segundo trimestre deste ano um prejuízo de R$18,53 mi, valor 39,97% superior ao ano passado. Foto: Divulgação

Segundo o último balanço da companhia, a rede de hotéis teve no segundo trimestre deste ano um prejuízo líquido de R$ 18.53 milhões, valor 39,97% superior ao de R$ 13.24 milhões apurado no mesmo período do ano passado. Na comparação com o 1º trimestre (prejuízo líquido de R$ 15.75 milhões), houve um aumento de 17,64% nas perdas da empresa. Nos últimos doze meses, a companhia Hotéis Othon acumulou um prejuízo líquido de R$ 60.13 milhões.

A dívida líquida da companhia Othon Hotéis ficou em R$ 4.53 milhões no encerramento do 2º trimestre, com uma queda de 37,51% ante os R$ 7.25 milhões registrados no ano anterior. Os ativos da companhia totalizaram R$ 521.33 milhões no 2º trimestre, uma soma 8,57% menor que o saldo de R$ 570.2 milhões registrados no encerramento do mesmo período do ano passado.

SUPRESA

O fechamento do Othon surpreendeu a todos. Especialmente ao trade baiano e, principalmente, aos que gravitam em entorno do hotel, que  oferecia o melhor e mais completo Centro de Convenções (CC) da capital baiana, na atualidade. O espaço privilegiado tem capacidade para receber até 2.500 pessoas nas suas estruturas modulares, que se adaptam às necessidades dos contratantes. O Centro de Convenções do Othon é considerado como o que oferece a solução ideal para eventos sociais, corporativos, celebrações e congressos, graças aos equipamentos modernos que disponibiliza.

Para o secretário estadual de Turismo, José Alves o fechamento penaliza a Bahia de uma maneira geral. “O hotel estava com o seu Reveillon praticamente vendido e agora terá que deslocar vários eventos já contratados para outros estabelecimentos. Nós, do Governo do Estado, vamos buscar alternativas para não perder de atender aos turistas. Nesta semana, que se inicia, teremos reuniões com a diretoria do grupo Bezerra de Mello para encontrar soluções. Poderemos, inclusive, negociar impostos e procurar parceiros que venham a assumir o hotel. Estamos vivendo um momento ascendente de turistas no nosso Estado e queremos viabilizar a todo custo, a manutenção do Othon”, sinalizou.

Secretário estadual de Turismo disse, ainda, que apesar do fechamento de alguns hotéis – o Othon é o 22º nos últimos anos – surgiram recentemente outros de grande importância para o setor. E cita o Hotel Fasano, na Praça Castro Alves e o Fera Palace Hotel, na Rua Chile, Centro Histórico da capital. Lembrou da nova rede de hotéis, que está investindo muito em Sauípe. E antecipou que o grupo Pestana, que explorava o antigo Meridien, no Rio Vermelho, está em tentativa de reabertura. “Estamos em negociações com grupos nacionais e internacionais”, comenta.

RECLAMAÇÕES

Direto do exterior, onde se encontra, o coordenador da Câmara Empresarial do Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio-BA), José Manoel Garrido disse que a notícia é ruim para o trade e o turismo em geral. “O Othon não era apenas um hotel.  O Centro de Convenções que tem, recebia vários eventos da cidade. Seu fechamento ceifa um espaço vital para o desenvolvimento econômico da cidade e do Estado. A notícia, também, é mais triste pela perda de 248 empregos. Um número que abala ainda mais a pobre economia do Estado, campeão de desemprego em relação ao país. Daí que, este fato merecia uma atenção toda especial das autoridades para tentar rever a situação”, dispara.

Presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), Sílvio Pessoa falou que o fechamento do Othon é um reflexo de tudo que está ocorrendo no turismo baiano. “São quatro anos de crise. E logo agora, quando estamos atingindo o ponto de equilíbrio, sofremos este duro golpe. Além de datas especiais e eventos temos que ter constância na ocupação dos leitos”, relata. Em seguida, desabafa: “A construção do Centro de Convenções da Bahia é algo essencial para o turismo. Sem ele, estamos perdemos eventos para outras cidades brasileiras”.

Silvio Pessoa lembra, ainda, que nos últimos cinco anos foram mais de 40 hotéis fechados no Estado. “A rede Othon vem sofrendo há anos. E, no caso daqui, o último ano foi problemático. O Centro de Convenções dele fará muita falta para nossa cidade”. Questionado sobre  como o trade poderia dar as mãos para minorar o problema foi taxativo:”Cobrando mais ações dos governos, principalmente do Estadual, que abandonou o turismo. Infelizmente, os governos federal e Estadual não tiveram o devido cuidado em um setor extremamente sensível como o nosso”, lamenta.

CRISE GERAL

A capital baiana é hoje a 2ª cidade que recebeu Copa do Mundo e Olimpíadas com mais hospedarias fechadas nos últimos quatro anos. Já foram 21 unidades fechadas, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih Nacional). Além da hospedagem, houve redução ainda no número de agências de viagens. Antes da Copa do Mundo de 2014, elas somavam em Salvador pouco mais de 200; hoje são, no máximo, 150, segundo informações da representação baiana da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav).

Na avaliação de Manoel Garrido, o fechamento dos hotéis depois da Copa é consequência também da falta de investimento desses estabelecimentos em modernização.“Muita gente achou que, com a Copa, os problemas do turismo estariam resolvidos, pensaram que o fluxo de turistas iria se manter, mas veio a crise, que afetou muita gente, principalmente os pequenos estabelecimentos”, declara.

Para Sílvio Pessoa a crise que o setor da hotelaria vem enfrentando na Bahia é fruto da falta do Centro de Convenções da Bahia e da necessidade de mais promoção dos órgãos a nível federal, estadual e municipal. Salvador é um destino apaixonante, que reúne diversidade cultural, história e belezas naturais que encantam moradores e turistas. Ao visitar a capital da Bahia todos querem programar um passeio pelo Centro Histórico, incluindo uma visita ao Pelourinho, ao Mercado Modelo e ao Elevador Lacerda. Fazer uma visita à Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, para garantir uma das tradicionais fitinhas de lembrança e especialmente ir no Farol da Barra”, finaliza.

DEMISSÕES PREOCUPAM

Neste domingo 14, circulamos pelos ambientes do Bahia Othon Palace para sentir o clima entre funcionários, turistas e prestadores de serviços sobre o fechamento da unidade hoteleira. Discretos, os funcionários disseram desconhecer, oficialmente, a decisão dos proprietários, assim como alguns hóspedes, que aguardavam transporte para os tradicionais passeios turísticos. “Imagina você. Tem gente que trabalha aqui, desde a fundação. E agora: como é que esse pessoal vai ficar?, disse um funcionário que não quis se identificar.

Para o presidente da ABIH-Bahia, Glicério Lemos as demissões tem sido a primeira preocupação da sua entidade. “Serão mais de 200 pessoas desempregadas. Vamos aproveitar a expertise desse pessoal e ver como poderemos recolocar em outros estabelecimentos do setor. A nossa entidade lamenta muito o fechamento desse hotel, que ajudava aos demais ao receber grandes eventos no seu Centro de Convenções. O público, em excesso, era aproveitado pelos hotéis do entorno e até do Centro Histórico”.

Igualmente surpreso, mas também triste, o motorista da cooperativa Coometas, Gilson Rangel, 54 anos,  afirma:  “Nossa cooperativa nasceu aqui, em 1975. Somos transportadores exclusivos dos hospedes do hotel.  E diariamente faço uma média de cinco corridas e não gostaria de perder esta renda quase garantida”, comenta. Para acrescentar em seguida: “Em especial, é uma grande surpresa para mim. Uma vez que o hotel sempre teve uma ocupação de regular a boa. Com certeza, será uma baixa significativa para o turismo baiano. Espero que o governo encontre um jeito de manter ele funcionando para atender aos turistas e não deixar aumentar o desemprego no estado”, diz resignado.

Empresário do setor de transporte executivo, Denis Costa Carvalho, 54 anos, confessa que não sabia do fechamento do hotel “Tenho dez carros lotados aqui. Diariamente transporto turistas para os locais preferidos da cidade,inclyuindo o Centro Histórico, e também do Litoral Norte. Pelo passeio, em Salvador, durante quatro horas de duração,  cobro R$250,00; enquanto até a Praia do Forte, com seis horas, o valor é de R$360,00”, anuncia.

Acompanhado da esposa Célia, o ex-analista de sistemas, hoje aposentado, Edson Santos, 55 anos, disse que ficou surpreso, quando abriu os sites de noticias e tomou conhecimento do fechamento do hotel. “Mas como é que pode, um hotel desta categoria, com localização privilegiada,  boa hospedagem, fechar as portas? Só pode ser fruto de uma má administração. Aqui, é um lugar bacana, que tem conforto e qualidade na hospedagem  entre outros bons requisitos. Por isso, entendo que não há motivos que justifiquem o seu fechamento”, lamenta.  Fonte: Tribuna da Bahia.

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