Por Paulo Roberto Sampaio e Osvaldo Lyra
O novo titular da Secretaria de Turismo da Bahia, Fausto Franco (PR), defendeu uma maior organização da comunicação para atenuar a grave crise que o trade turístico enfrenta em Salvador. “As pessoas questionam que é preciso ter mais voos para cá. Mas isso não é uma decisão somente da linha aérea ou do governo. Existe uma série de estudos e etapas que precisam ser vencidas com o tempo. A gente precisa fazer um turismo transformador e não emergencial”, destaca, em entrevista à Tribuna. Entre os principais desafios, ele destaca que é preciso fomentar o turismo durante o ano inteiro e não apenas no verão e no Carnaval. Indicado pelo PR ainda destaca o potencial turístico que a Baía de Todos-Os-Santos têm. “É uma baía completamente navegável, águas em temperaturas agradáveis e muito pouco explorada. Com esse projeto, você vai poder se deslocar entre ilhas e cidades, coisa que não existia. Então, a ideia é viabilizar para que o privado execute. Não é função do Estado ser dono de hotel, pousada e barco. Vamos viabilizar para que o privado faça. Vamos criar um roteiro turístico, cultural e gastronômico”, avisa.
Tribuna da Bahia – Qual a avaliação o senhor faz do turismo hoje na Bahia?
Fausto Franco – A gente está em um momento hoje muito positivo. Esse verão maior ajudou. As ações do governo do Estado têm tido um efeito positivo. Agora o desafio é tornar isso atrativo o ano inteiro, e não somente nos meses de verão e Carnaval. A gente é muito privilegiado. Deus foi muito generoso conosco, porque as belezas naturais que a gente tem em nosso estado, aliado a questão do Centro Histórico… Se você pegar o mapa do Estado, em todas as regiões você consegue fazer turismo. Nós temos o maior litoral do Brasil. Temos a maior baía navegável do mundo. Tem o turismo da chapada que cresce a todo ano de forma intensa. Tem o turismo do Rio São Francisco, em Paulo Afonso, tem o turismo em Juazeiro que está crescendo muito, tem o turismo religioso em Bom Jesus da Lapa… O governo do Estado está fazendo investimento pesado na revitalização do Centro Histórico de Salvador. Temos dois grandes hotéis cinco estrelas inaugurados e casas sendo revitalizadas. Tem o projeto do Prodetur muito interessante de fomentar emprego e renda através do turismo na Baía de Todos-os-Santos. Não adianta somente colocar um cais se você não dá informação para as pessoas. Você tem que envolver o entorno.
Tribuna – O que fazer para tornar o Estado mais atrativo, mais conhecido e mais requisitado?
Franco – Acho que a gente tem que fazer um planejamento, acima de tudo. Percebo que as coisas, às vezes, saem de forma muito empírica. Percebo que a gente tem que se antecipar aos problemas. Se a gente fizer isso, conseguimos fazer as coisas com mais tranquilidade e assertividade. A gente tem um grande potencial também que é a questão da cultura. A nossa música é muito forte. Nossos artistas cantam e encantam o nosso estado e a gente tem que melhorar a questão da comunicação. Falo muito sobre a questão das redes sociais. É um mundo sem volta. Todo mundo hoje tem smartphone. Acho que temos que fazer ações no Google, nas redes sociais com hashtags, temos que ter um site interativo e aplicativos.
Tribuna – Quais são os destinos que o senhor pretende colocar como prioridade e incentivar?
Franco – Sem dúvida a Baía de Todos-Os-Santos, por causa das 56 ilhas que ela tem. É uma baía completamente navegável, águas em temperaturas agradáveis e muito pouco explorada. Com esse projeto, você vai poder se deslocar entre ilhas e cidades, coisa que não existia. Então, a ideia é viabilizar para que o privado execute. Não é função do Estado ser dono de hotel, pousada e barco. Vamos viabilizar para que o privado faça. Vamos criar um roteiro turístico, cultural e gastronômico. O turismo está em todas as áreas. Planejamento, cultura, segurança… Tudo bate com o turismo.
Tribuna – Além da Baía de Todos-Os-Santos, existe algum outro produto que mereça alguma aposta maior ou o foco será o fortalecimento do destino Bahia?
Franco – Acho que o destino Bahia é muito forte. Tanto é que as pessoas em São Paulo dizem comumente que estão vindo para a Bahia. Não dizem que estão vindo para Salvador. O nome Bahia é muito forte, está presente em diversas expressões. A gente tem um turismo muito consolidado no Extremo Sul, ali na região de Porto Seguro, Trancoso e tem o turismo da Chapada, que tem potencial para crescer.
Tribuna – A gente vê uma crise hoteleira em Salvador muito grande. Como o senhor vê esse cenário, aonde vários estabelecimentos foram fechados? O que pode ser feito para mudar essa realidade?
Franco – A gente precisa criar uma agenda positiva para a cidade. O turista chega aqui e fica meio perdido. Um dia vai no Pelourinho, no outro Igreja do Bonfim, no outro escuna… E no quarto dia? Você vai em Buenos Aires e vê o mesmo show de tango e cria mais um motivo de ficar na cidade durante a noite. Temos que criar um show folclórico, com o Balé Folclórico da Bahia. Algo ligado também com culinária, para que a pessoa fique mais um dia na semana na cidade. Ações para que as pessoas fiquem na cidade durante uma semana. Salvador tem um paradoxo: é cercada por mar pelos dois lados, mas tem poucas praias efetivamente para se mergulhar. Então, temos que fazer de outra forma. Fortalecer o patrimônio histórico, fazer roteiro das igrejas, de museus, para que as pessoas passem uma semana aqui e diga que não conseguiu ver metade do guia oficial da cidade. As pessoas ficam meio soltas aqui. Temos opções, mas as coisas ficam meio pulverizadas. Se a gente criar um guia de uma semana em Salvador, você comunica isso muito melhor.
Tribuna – Mas voltando ao problema da rede hoteleira de Salvador, a gente tem a chegada de dois novos empreendimentos: o Fera Palace e o Fasano. Mas temos hoteis na área litorânea que estão em decadência. De que forma a Secretaria de Turismo vai se posicionar diante desses fatos?
Franco – O Governo do Estado está muito atento a essa questão. Inclusive, o governador já falou sobre isso mais de uma vez, que tem todo o interesse que bandeiras internacionais estejam na cidade. Principalmente no Centro Histórico, Cidade Baixa e Bahia de Todos-Os-Santos. Tiveram alguns hoteis fechados, mas muitos por motivos alheios a nós. O Othon, por exemplo, fechou no Brasil inteiro. Não foi apenas em Salvador. Na mesma medida que tivemos fechamentos, tivemos aberturas de hoteis. Isso é normal no cenário econômico. A gente passou por uma crise muito intensa em todos os estados. Não foi somente a Bahia que foi pega por essa crise. Mas o trabalho que já tem sido feito com a captação desses novos hoteis, com os novos voos e chegadas de turistas para cá, não é um trabalho do dia para a noite. As pessoas questionam que é preciso ter mais voos para cá. Mas isso não é uma decisão somente da linha aérea ou do governo. Existe uma série de estudos e etapas que precisam ser vencidas com o tempo. A gente vai fazer um turismo transformador e não emergencial.
Tribuna – Como é que acontece “turismo transformador” diante desse cenário que o senhor desenha para o Estado?
Franco – Primeiro, quando você monta um roteiro de uma semana, o cara que vai comprar um pacote, ele fica uma semana e não mais dois dias. Como não existia uma programação, ele ficava dois dias aqui e ia para o Litoral Norte ou outra cidade. Passava por aqui, mas não ficava por aqui. Outra coisa: os navios. A gente está trabalhando para que Salvador se torne um ponto de chegada e saída de navios e não somente de passagem. Você gera turismo, mas não gera o turismo 100%.
Tribuna – Um dos fatos que o trade aponta como problema para o setor turístico é a falta de um Centro de Convenções. Qual o posicionamento do senhor e da secretaria diante desse assunto? Qual destino aquele equipamento terá? O senhor defende que o Estado também faça um novo Centro, já que a Prefeitura iniciou do Centro de Convenções municipal?
Franco – Já conversei com o governador algumas vezes sobre esse assunto do Centro de Convenções. Ele entende que a gente tem que estar no viés que a cidade está indo, que é o processo de revitalização do Centro Histórico e da Cidade Baixa. Então, a gente está indo nessa direção para fazer um Centro de Convenções na Cidade Baixa. Não consigo dizer o local, porque estamos em estágio embrionário. Mas o governador sabe da importância. O investimento não é baixo. Estamos estudando fazer o modelo de PPP [Parceria Público-Privada] para que seja feito em um prazo exeqüível e com tamanho razoável. Vamos fazer um Centro que a gente consiga comportar evento e que atenda as necessidades do trade, sobretudo na baixa estação.
Tribuna – O governo já teve posicionamentos diferentes sobre o Centro de Convenções. Já defendeu que continuasse no local que estava, já se falou em construir na região do Parque de Exposições da Bahia e também na região da Marinha, da Cidade Baixa. O governo vai insistir na construção de um novo Centro de Convenções ou vai chegar em um consenso com a Prefeitura de Salvador de que um Centro atende a demanda?
Franco – Não, o governo do Estado vai continuar entendendo que existe a demanda para mais um Centro de Convenções. Aquela região do Centro de Convenções atual não é o melhor local, não de acesso, mas de salinidade altíssima. Tanto é que o Centro de Convenções acabou se deteriorando por causa disso. A gente entende que é melhor ele estar na região de Baía, que é a partir do Farol da Barra para dentro, onde o índice de salinidade é quase zero em relação a área do Atlântico.
Tribuna – O senhor está em uma área onde o Carnaval sempre foi o grande filão. O que pretende mudar para o Carnaval desse ano ou não há mais condições de mudar muita coisa?
Franco – O Carnaval já está aí na boca. Sempre fui um entusiasta do Carnaval. Não só trabalhando, mas também como folião. Acho que o Carnaval passa por ciclos, que são o povo que faz. Na década de 70, você tinha a pipoca e os blocos. Nos anos 90, pensaram em colocar o trio na Barra porque era bonito. Daniela Mercury foi pioneira nisso. A televisão veio junto e as pessoas começaram a ir na Barra. Depois vieram os camarotes e assim foi se construindo esse modelo. Não houve um planejamento. Foi um processo natural de construção. Hoje, as pessoas querem ficar nos camarotes, nos blocos de pipoca ou nos blocos com bandas de percussão. A quarta-feira de Carnaval é um dos dias que hoje é mais disputado, com os bloquinhos. É uma tendência. É normal essas oscilações.
Tribuna – Dentro desse contexto de Carnaval, existe um projeto para fortalecer uma micareta, uma festa indoor, em outubro. Tem como se trabalhar esse produto como um produto que atraia o turista de fora da Bahia?
Franco – Sem dúvida nenhuma. É muito orgânico. A Bahia com artistas, shows. A cidade merece estar sempre cheia. O turismo gera muita renda e outubro é uma época de baixa estação. Acho que esses projetos são interessantes, sim.
Tribuna – O senhor tem ideia de eventos que possam ser realizados como forma de garantir o fluxo mais regular de turistas para a Bahia?
Franco – Sem dúvida. Esse ano vamos ter no mês que é mais baixo de ocupação hoteleira, que é a Copa América. Não é um evento do governo, mas vamos dar todo o apoio. Estamos buscando trazer eventos, principalmente náuticos, em períodos de baixa estação. Vamos trazer esses competidores, com seu staff e mídia, sempre em época de baixa ocupação hoteleira. Sempre promovendo eventos em momentos em que tradicionalmente existe baixa ocupação hoteleira.
Tribuna – Por que o turismo é tão mal administrado no país e não vira uma prioridade?
Franco – É uma pergunta muito complexa de ser respondida. Já tive a oportunidade de viajar por muitos países do mundo e, quanto mais eu viajo, mais eu quero estar aqui. Temos um povo hospitaleiro, não temos problemas de terremotos, tsunamis, furacões e etc. A temperatura é agradável durante o ano inteiro. Mas a gente está longe geograficamente da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia. Temos um problema também de reciprocidade de vistos. Me parece que o Governo Federal está trabalhado isso. Hoje, se o país exige o visto para nós, nós somos obrigados a exigir visto para esse país também. Me parece que nos Estados Unidos isso vai acabar em breve. Se isso acontecer, vamos ser beneficiados.
Tribuna – Como você espera manter a relação com a gestão do prefeito ACM Neto? De vez enquando a gente vê muita rusga entre o Governo do Estado e a Prefeitura?
Franco – Tenho uma relação cordial com o secretário Cláudio Tinoco. Ele foi um dos primeiros a me ligar me desejando boa sorte. Tenho uma relação muito cordial também com o prefeito ACM Neto, com o vice-prefeito Bruno Reis e vários secretários. Tenho certeza que as diferenças políticas não serão impedimento para que estejamos juntos quando for necessário em um projeto que vise o turismo.
Tribuna – A sua indicação entrou na cota do PR. Como se deu essa articulação?
Franco – Sou uma pessoa que transito bem em vários setores. Tenho uma relação muito amistosa com o presidente do partido na Bahia, José Carlos Araújo, e com o deputado federal José Rocha. Já tinha uma relação com o governador Rui Costa. O perfil que ele queria batia comigo. Então, foi o momento certo e a hora certa de ser nomeado. É algo que muito me honra. Sempre vendi a Bahia no mundo inteiro e muito me honra trabalhar por ela no turismo.
Tribuna – De onde partiu a sua indicação?
Franco – A indicação é algo consensual. Foi uma indicação do PR com o governador Rui Costa.
Tribuna – O PR está pacificado com a sua indicação? Houve uma disputa interna antes da sua nomeação…
Franco – Sem dúvida. O deputado José Rocha, inclusive, está viabilizando uma audiência minha com o ministro do Turismo em Brasília. Tenho um relacionamento muito cordial e antigo com José Carlos Araújo. O deputado José Rocha é líder do partido e está disposto a nos ajudar. Estive com os senadores Otto Alencar e Jaques Wagner, que prometeram nos ajudar a trazer recursos. Então, vamos trabalhar juntos.
Tribuna – Teme algum tipo de retaliação do governo Bolsonaro?
Franco – Não vejo. Falei com o ministro do turismo por telefone e o convidei para vir aqui no Carnaval. Ele se colocou à disposição para nos ajudar. Entendo a questão política, mas a eleição já passou.
Tribuna – Um dos objetivos do senhor é tornar a Bahia um produto mais atrativo para as pessoas de fora?
Franco – Quero dizer muito em breve que a Bahia não tem baixa estação. Acho que o exercício é tornar perene a frequência de turistas no Estado. Todas as secretarias estão muito próximas. Uma coisa que o governador Rui Costa nos pediu é que as pastas trabalhem em parceria. Todo mundo trabalhando em unidade vai ajudar muito no processo. Fonte: Tribuna da Bahia.