Por Lício Ferreira
A anunciada possibilidade do Palácio Rio Branco vir a ser um novo hotel de luxo, a ocupar o Centro Histórico de Salvador, está deixando, literalmente, em ‘pé de guerra’, o trade turístico da Bahia. “Agora, não é o momento da chegada de mais um ‘player’. A estratégia do Governo do Estado está completamente errada. Ganhamos dois novos hotéis de luxo (Fera e Fasano) e ainda temos o do Convento do Carmo. Fechamos o ano de 2018 com 62% dos leitos ocupados e 18 mil leitos ociosos por dia o ano todo. Temos trinta (30) hotéis fechados e 8 (oito) em situação delicadíssima; e 90 % ainda sofrem a crise instalada a partir de 2015 com o fechamento do Centro de Convenções da Bahia (CCB)”.
Essas palavras, repetidas em uníssono, por telefone, são dos presidentes da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Glicério Lemos e da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa. “Não adianta novos hotéis enquanto a ocupação não subir. Precisamos de incentivos, requalificação do Centro Histórico de Salvador e de políticas públicas para atrair mais público”, declarou Pessoa. Por sua vez, Lemos acrescentou: “a ideia de ter mais um hotel deste porte em Salvador é boa, mas é preciso ter alguns cuidados. Precisamos mais de incentivos para os que já estão sofrendo há oito anos com a crise”.
Palácio Rio Branco, no centro de uma polêmica desde que o governo do estado da Bahia anunciou a possibilidade do histórico imóvel ser transformado em hotel de luxo. Foto: Divulgação.
Nesta terça-feira 16, no seu programa no Youtube “Papo Correria”, o governador Rui Costa tocou, rapidamente, no assunto respondendo ao ouvinte Ivan Doria Filho, de Salvador: “Recebi uma proposta para o Palácio Rio Branco, mas farei uma consulta pública. Queremos disponibilizar vários prédios públicos para alguma atividade comercial, que gere emprego e renda. Pode ser pousadas, hotéis e lojas. Queremos estimular a ocupação do Centro Histórico por que, em qualquer lugar do mundo, só é possível preservar esse tipo de local, quando existe uma atividade econômica”. A Tribuna da Bahia ainda quis ouvir o secretário estadual de Turismo, Fausto Franco, através da sua Assessoria de Comunicação, mas fomos informados de que o mesmo estava em reunião durante toda manhã.
POSIÇÕES REFORÇADAS
Para Glicério Lemos e Sílvio as posições sobre o tema estão mantidas: “Não precisamos agora de novos hotéis na cidade de Salvador porque temos mais de 40 mil leitos espalhados pela cidade e o foco seria o de aumentar a diária media. Precisamos, sim, atingir um ponto de equilíbrio financeiro com os hotéis já existentes e de políticas públicas que tragam mais turistas à cidade para ocupar os leitos ociosos. Queremos qualificação profissional dos trabalhadores do setor; aumento nos níveis de segurança dos locais visitados pelos turistas; e mais infraestrutura nos locais visitados, além da requalificação das ruas Chile e Carlos Gomes;
Sobre as preferências, para o aproveitamento futuro do Palácio Rio Branco, tanto um quanto outro, são unânimes em afirmar que o prédio seja transformado em museu. Glicério sugere que ele seja o Museu do Descobrimento – que não temos por aqui -. e que o equipamento seja usado, também, pelo próprio Governo do Estado para realizar grandes eventos e solenidades públicas.
REVELAÇÕES NOVAS
O presidente da ABIH-Ba revela que os novos hotéis de luxo (Fera e Fasano) estão ainda com baixa ocupação. “Eles precisam primeiro se estabilizar financeiramente”. O dirigente reconhece que o excesso de hotéis de luxo, numa mesma área, pode provocar ‘canibalismo’ entre grupos. “A expansão será bem-vinda, quando atingirmos 90 % de ocupação por ano dos leitos disponíveis”, justifica.
Silvio Pessoa diz que a expectativa do trade turístico da Bahia é pela chegada, em novembro próximo, do Centro de Convenções da Prefeitura, que está sendo construído – com obras bem avançadas – no antigo A|eroclube, no bairro da Boca do Rio. “Mas mesmo assim, ele terá dois anos para captar grandes eventos e mais cinco anos para se estabelecer como ponto de negócios a a nível nacional e internacional”.
SOCIEDADE REVOLTADA
“Transformar um prédio público, que foi o primeiro palácio do Brasil, em hotel de luxo, é um exagero. O mais adequado seria transformá-lo em um efetivo museu. Lá, já tem o Memorial dos Governadores. E ampliar este material, dando aos espaços que são belíssimos, especialmente os do lado direito com vista para o mar, seria ideal. Sabemos que é muito comum, principalmente no exterior, que prédios públicos sejam aproveitados como pontos turísticos. Aqu na Bahia, por exemplo, conventos religiosos como o do Carmo e os de Cachoeira (Recôncavo) já foram transformados em hotéis e pousadas. Mas utilizar o Rio Branco como museu é o mais adequado”, afirma o presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Eduardo Morais de Castro.
Uma pessoa, de alta representatividade, na sociedade baiana, procurou a redação revoltada com a realização desse negócio. “Fico profundamente triste e indignada de ver o nosso patrimônio histórico e arquitetônico deteriorar-se, devido ao descaso e abandono por parte dos poderes públicos. É absolutamente incompreensível passar o que é público para mãos de empreendedores privados, como é o caso do precioso Palácio Rio Branco, quando este é um patrimônio da Bahia. Um patrimônio da cidade de Salvador. Do povo soteropolitano. Do povo baiano. Um patrimônio nosso”, disse um interlocutor que pediu para não se identificar.
E acrescentou: “Um Palácio que guarda uma memória, uma história, um acervo de valor inestimável não pode ser transformado num hotel para turistas estrangeiros e sim num Museu que nos dignifique, que nos represente. Como permitem tamanha barbaridade? De quem é o interesse? Quem ganhará com isso? “
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Vila Galé é o grupo interessado
As primeiras notícias disparadas pela mídia local informam que representantes do grupo Vila Galé – um dos principais grupos hoteleiros portugueses que integra o ranking das 198 maiores empresas hoteleiras a nível mundial – esteve visitando o Palácio Rio Branco. Outras informações, por sua vez, garantem que houve apenas estudos do local e o início das tratativas para aquisição do imóvel junto ao Governo do Estado.
Composto por diversas sociedades, das quais se destaca pela sua dimensão e importância, a Vila Galé – Sociedade de Empreendimentos Turísticos, S.A., faz parte do Rating 1 das empresas portuguesas. Constituída em 1986,esta sociedade dedica-se à exploração e gestão de todas as unidades hoteleiras que integram o grupo e, ainda, à realização de projetos e à construção de novos empreendimentos turísticos. Fonte: Tribuna da Bahia.
Atualmente, o grupo Vila Galé é responsável pela gestão de 33 unidades hoteleiras, sendo 24 em Portugal (Algarve, Beja, Évora, Oeiras, Cascais, Sintra, Ericeira, Estoril, Lisboa, Coimbra, Porto, Braga, Douro e Madeira) e nove no Brasil (Rio de Janeiro, Fortaleza, Caucaia, Salvador, Guarajuba, Pernambuco, Touros e Angra dos Reis), com um total de 7.454 quartos e 15.286 camas.
Contando com cerca de 3.200 funcionários, grande parte do sucesso da Vila Galé deve-se à estreita ligação que existe entre todos, formando uma equipa coesa, que partilha uma enorme paixão pela hotelaria e pelo turismo. O capital da Vila Galé, S.A. é integralmente português e encontra-se dividido por Jorge Rebelo de Almeida, José Silvestre Lavrador e Maria Helena Jorge, sendo o Conselho de Administração presidido pelo primeiro. Fonte: Tribuna da Bahia.