É difícil resumir em poucas palavras o turbilhão de emoções que senti quando cheguei às Pirâmides de Gizé (foto). A imponência dos edifícios, construídos quase três mil anos antes de Cristo, deixa-nos sem palavras, principalmente porque sabemos que foram edificados sem recurso às tecnologias de que, hoje, dispomos, e que cada um dos blocos de pedra que os formam – e são quase cinco milhões só na Grande Pirâmide – pesa mais de 2,5 toneladas. Como foi possível? É a pergunta que não conseguimos conter em frente às Pirâmides de Gizé, o monumento egípcio mais conhecido e a única das sete maravilhas do mundo antigo que ainda pode ser apreciada.
Visitar o Egito é um daqueles sonhos que vamos alimentando desde crianças, desde as aulas de História passadas a ouvir falar sobre os avanços deixados por esta civilização, sobre as pirâmides e sobre os faraós que governaram o Egito, um país que nasceu à beira do Nilo, o mais extenso rio do mundo e o único que corre de sul para norte e onde 95% do território é deserto. Mas nada nos prepara para lidar com todas as emoções que sentimos quando estamos de frente para os edifícios que nos habituamos a ver nos livros da escola.
Foi assim que me senti quando, em fevereiro, a Soltrópico e a Solférias convidaram o Publituris a visitar o Egito, destino que vai estar em destaque na programação de ambos os operadores turísticos este verão, num regresso há muito aguardado, depois de oito anos de ausência. É que o Egito foi um dos destinos que, até 2011, esteve presente, de forma quase permanente, na programação dos operadores nacionais. Depois, chegou a Primavera Árabe, que trouxe um extenso período de instabilidade e insegurança, que afastaram os portugueses. Mas, 2019 promete ser um ano da mudança e do regresso do país dos faraós ao mercado nacional.
Aceite o convite e embarque connosco nesta viagem ao mundo dos faraós, mas onde também houve tempo para experimentar as águas quentes e cristalinas do Mar Vermelho, assim como atividades mais radicais no deserto.
Excitante Cairo
Era já noite quando o grupo de nove jornalistas chegou ao Cairo, capital do Egito e cidade que, como cantavam os Táxi nos anos 80, é excitante, vibrante e apaixonante. Apesar do adiantado da hora, a viagem entre o aeroporto e o Conrad Cairo, hotel que nos acolheu nas primeiras noites, serviu para perceber que esta cidade não dorme. Por todo o lado, havia lojas abertas, pessoas na rua e muito trânsito. O trânsito é, aliás, umas das imagens de marca do Cairo, é caótico e as regras parecem inexistentes, mas lá vai fluindo, ao som de buzinadelas constantes.
A primeira impressão sobre o Cairo foi confirmada no dia seguinte, quando atravessamos a cidade para chegar a Gizé, zona onde se encontram as pirâmides e que, nos dias de hoje, foi praticamente engolida pela capital, que não tem parado de crescer, acolhendo, atualmente, 20 milhões de habitantes. É verdade, as pirâmides estão praticamente dentro da cidade e isso pode ser motivo de desilusão. Não foi meu caso, que já estava preparada para essa realidade.
As três pirâmides de Gizé – Queóps, Quéfren e Miquerinos – avistam-se ao longe, tal a sua imponência, e foram construídas entre a terceira e a sexta dinastias faraônicas, a partir de 2.550 a.C., para acolherem os reis do Egito depois da morte. São parte de uma vasta necrópole que inclui também a Grande Esfinge, cemitérios e diversos templos funerários e de mumificação, o que permite ter uma ideia da importância que a morte tinha no Antigo Egito.
Começamos pela maior, a Pirâmide de Quéops, que contava com 146 metros de altura – equivalente a um prédio de 49 andares. Contava, porque devido ao peso do edifício e por ter sido construído sobre areia, já afundou uns bons metros e, hoje, tem apenas 137 metros. As outras duas são mais pequenas, já que, explicou Benjamin Talaat, guia do receptivo Travel Ways que nos acompanhou no Cairo, foram construídas pelo filho e neto de Queóps, que não queriam afrontar o antepassado, daí as dimensões mais modestas.
A entrada na Pirâmide de Quéops custa 18 euros e permite visitar as câmaras que acolheram o faraó e os seus tesouros, ainda que os artefatos tenham sido mudados para o Museu Egípcio, no centro do Cairo, daí que as pirâmides estejam completamente vazias.
Faltava a Grande Esfinge, símbolo de poder, força e inteligência. Reza a história que esta criatura mítica, com corpo de leão e cabeça humana, é uma representação do faraó Quéfren, ainda que seja impossível ter certeza, até porque o seu nariz há muito desapareceu, o que deu origem a várias teorias sobre a sua destruição, sendo as culpas atribuídas tanto a Napoleão como aos britânicos, que usariam o monumento para tiro ao alvo.
Depois das pirâmides, seguimos para o Museu Egípcio do Cairo, no centro da capital, na famosa praça Tahrir, o melhor local para se compreender a antiga civilização egípcia.
Museu Egípcio do Cairo
Com um espólio de mais de 120 mil peças, o Museu Egípcio do Cairo foi inaugurado em 1902, é o mais importante do país e leva-nos numa autêntica viagem no tempo. Logo à entrada, deparamo-nos com as estátuas de Ramsés II, um dos mais importantes faraós do Egito depois da unificação do país e cujo reinado foi um dos mais longos, que se destacam pela imponente dimensão e que se encontram bem perto da réplica da Pedra de Roseta, descoberta em 1798 e a partir da qual foi possível decifrar a língua dos faraós.
No andar térreo, o Museu Egípcio conta com 42 salas, onde é possível apreciar milhares de estátuas e sarcófagos, mas é no andar de cima, com mais 47 salas, que se encontram as maiores relíquias, a começar no espólio de Yuya e Thuya, pais da rainha Tiye, cujos túmulos foram descobertos em 1905 praticamente intactos.
Além dos chinelos de papiro e que calçariam os monarcas na outra vida, em exposição estão também as múmias de Yuya e Thuya, assim como os seus sarcófagos e máscaras mortuárias, entre vários outros artefatos, que seriam úteis na viagem até ao paraíso.
Essa viagem está, aliás, relatada num papiro com 20 metros, o maior alguma vez recuperado e que foi encontrado nos túmulos de Yuya e Thuya.
Os tesouros do Museu Egípcio são inúmeros e de valor incalculável, mas nenhum se compara ao espólio de Tutankamon, o faraó-menino, que terá subido ao trono antes dos 10 anos de idade e morreu com 18. Tutankamon não ficou para a posteridade por ter sido um dos grandes faraós egípcios, nem o seu tesouro seria o mais deslumbrante, mas o seu túmulo, descoberto em 1922, estava completamente intacto, ao contrário da maioria, que foi pilhada por saqueadores atraídos pelas riquezas que os faraós levavam para a outra vida, o que contribuiu para criar o mito que, ainda hoje, existe em torno deste faraó.
A máscara de Tutankamon, assim como muitas das mais de oito mil peças encontradas no seu túmulo, ainda podem ser apreciadas no Museu Egípcio do Cairo, mas, em breve, vão ser mudadas para um novo museu que está a ser construído perto das pirâmides e que é maior que o Louvre, permitindo acolher, de forma mais organizada e com a merecida dignidade, todas as peças que se começam a amontoar no edifício atual.
Luxor e Vale dos Reis
Depois do Cairo, o plano era seguirmos para Luxor, antiga Tebas e cidade que é considerada um museu ao ar livre, cujo nome significa ‘palácios’ em árabe, já que, quando chegaram ao país, os muçulmanos terão confundido os túmulos dos faraós com palácios. Digo que o plano era seguirmos para Luxor, porque não foi isso que aconteceu devido à meteorologia. À chuva do Cairo, juntou-se uma tempestade de areia em Luxor, que nos reteve na capital mais uma noite e nos obrigou voar diretamente para Hurghada, de onde fizemos o trajeto em autocarro até Luxor. A viagem revelou-se bem interessante, pois começou no deserto de Hurghada e só terminou nas verdes planícies de Luxor, onde seguimos de imediato para o Templo de Karnak, um complexo de santuários com 50 hectares, dedicado ao deus Amon-Rá e que é conhecido pelos obeliscos de 22 metros de altura, esculpidos numa única pedra, e por possuir a maior sala colunada do mundo, com 134 colunas de 22 metros.
Depois do templo, o destino foi o Vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo e local onde passaram a ser sepultados os faraós entre a XVIII e a XX dinastias, quando se decidiu abandonar os túmulos em forma de pirâmide, que eram frequentemente saqueados.
O Vale dos Reis, tal como as pirâmides, é um local incontornável. No total, existem mais de 100 túmulos, entre os quais 20 reais, mas só 10 estão abertos ao público, incluindo o de Tutankamon, que obriga a um bilhete extra. O bilhete normal custa oito euros e permite visitar três outros túmulos. Optamos pelos de Ramsés VI, Ramsés IX e Ramsés IV, considera dos dos mais belos, estando o primeiro a 85 metros de profundidade.
O dia passado em Luxor permitiu ainda visitar uma fábrica de papiro e perceber como esta planta é transformada numa espécie de papel, e outra de alabastro, pedra que é usada desde a antiga civilização. Antes do regresso a Hurghada, houve ainda tempo para visitar o Templo Mortuário de Hatshepsut, parte do complexo de Deir el-Bahari, perto do Vale dos Reis, que tem a particularidade de ter sido construído pela faraó Hatshepsut, a primeira mulher a usar o título, mas cuja história foi parcialmente apagada pelo seu enteado, Tutmés III.
Antes da despedida, houve tempo para ver os Colossos de Mêmnon, duas impressionantes estátuas do faraó Amenófis III, com 18 metros de altura, localizadas perto da necrópole da antiga Tebas.
Deserto e Mar Vermelho
De regresso a Hurghada, e ao Prima Life Makadi Resort, onde ficamos alojados nos últimos dias, o tempo foi passado entre as águas quentes e cristalinas do Mar Vermelho e atividades mais radicais no deserto.
No primeiro dia completo em Hurghada, a opção foi a Giftun Island, também conhecida como Paradise Island ou ilha do paraíso, nome apropriado tendo em conta as praias paradisíacas que oferece. Aqui, passamos um dia relaxante, entre mergulhos no mar e a oportunidade de fazer snorkelig num local onde a biodiversidade marinha é impressionante, e que contou ainda com almoço, além de espetáculo de dança do ventre e dança sufi, um tipo de dança associado à religião e que é praticada por homens que usam uma saia típica.
Mas ir ao Egito e não realizar um passeio no deserto é quase como ir a Roma e não ver o Papa. Por isso, o último dia pelo país dos faraós foi vivido com muita adrenalina, já que nos esperava um passeio em moto4 pelo deserto, que teve tanto de divertido como de desafiante. Devo dizer que conduzir um veículo deste gênero deserto a fora parece bem mais fácil do que aquilo que, na realidade, se revela, já que é necessária alguma força de braços para manter a mota no trilho, mesmo quando a areia do deserto forma lombas que parecem de pedra quando as atravessamos. O corpo fica dorido, mas a adrenalina e toda a diversão associada a esta atividade fizeram esquecer todas as maleitas.
Depois do passeio no deserto, eram novamente as águas do Mar Vermelho que nos esperavam em Sharm El Naga, estância a 60 quilômetros de Hurghada e onde a diversidade marinha é ainda mais exuberante, o que nos fez entrar novamente na água com óculos e barbatanas. Foi o último mergulho no Mar Vermelho e, como qualquer despedida, deixou saudades.
Fonte: Publituris