Por Zaqueu Fogaça
Para entender os desafios enfrentados pela hotelaria brasileira, o DIÁRIO DO TURISMO, parceiro do PORTAL TURISMO TOTAL, conversou com hoteleiros dos principais estados do país durante o 61º Conotel. Do transporte aéreo à carga tributária, saiba o que trava o setor.
O DIÁRIO ouviu vários hoteleiros durante o 61º Conotel que acontece no Centro de Convenções, em Goiânia (Crédito das fotos: DT)
No Rio de Janeiro, a violência é o maior problema para o desenvolvimento da hotelaria, aponta o presidente da ABIH/RJ Alfredo Lopes. “Sem segurança não há negócio, não tem turismo. A nossa expectativa é que esse cenário melhore com o novo governador do estado [Wilson Witzel]”.
Se o cenário parece desolador por um lado, por outro ele é diferente. Lopes se anima ao ver o turismo alcançar destaque na agenda política do país. “Hoje ele está sendo falado pelo presidente, algo que não víamos acontecer anteriormente. A eliminação da exigência de vistos para turistas de alguns países e a prevista aprovação da Lei Geral do Turismo ampliam as boas perspectivas”, considera.
O papel da iniciativa privada neste atual momento, prossegue Lopes, é ir ao encontro dos países emissores e firmar parcerias com empresas aéreas e operadoras.“Hoje temos tecnologia e um poder de comunicação gigantesco, mas não podemos nos esquecer da razão de tudo: o cliente”.
AMPLIAÇÃO DA MALHA AÉREA
No Rio Grande do Norte, o presidente da ABIH/Rio Grande do Norte José Rodrigues Junior revela que o maior desafio é ampliar a malha aérea. “A nossa malha aérea é muito restrita e as passagens são muito caras. Essa situação não prejudica apenas a hotelaria, mas o turismo como um todo”.
Para Rodrigues, a retomada do turismo no estado passa pela redução da carga tributária, que está sufocando os hoteleiros “Ela pesa muito para o hoteleiro, que precisa ainda competir com o Arbnb, que por sua vez não paga tributos e permanece isento das legislações que engessam o nosso setor”.
CENTRO DE CONVENÇÕES
Em terras baianas, o cenário encontrado pelos hoteleiros é igualmente desafiador e foi agravado com o fechamento do Centro de Convenções, diz oPresidente da ABIH Bahia, Glicério Lemos. “A hotelaria da Bahia é quem mais sofreu com o fechamento do Centro de Convenções; mais de 30 hotéis fecharam as suas portas”.
Glicério Lemos, presidente da ABIH Bahia
Baixa Ocupação
Lemos diz que a ocupação hoteleira está muito baixa no estado. “Temos uma ociosidade de mais de 18 mil leitos. Salvador precisa recuperar a diária média urgentemente”, avalia ele, que busca o apoio do governo do estado para elaborar um plano de retomada do turismo da Bahia e Salvador”.
Entre as medidas que precisam ser adotadas para impulsionar essa recuperação, Lemos cita a redução do ICMS, que atrairá empresas aéreas e a criação de novas rotas. “Acabamos de perder voos da Avinca”, justifica.
REDUÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA
Nas palavras do Presidente da ABIH Rio Grande do Sul, José Reinaldo Ritter, “a hotelaria do Rio Grande do Sul não pode ficar pior”. A trágica constatação resulta de uma profunda crise que se arrasta desde 2013. “Enquanto a economia não crescer, não teremos resultados positivos”, afirma Ritter.
Entre as medidas mais urgentes, Ritter também destaca a redução da carga tributária. “Hoje, 30% vai para o bolso do governo. Em Gramado, na Serra Gaúcha, a realidade é outra, tem mais procura. Já Porto Alegre tem um grande perfil corporativo. Queremos incentivar o turismo nesse nicho”, diz ele, que comemora a escolha de Gramado como sede do Conotel 2021.
Para Osmar José Vailatti, presidente da ABIH/Santa Catarina, o momento exige uma grande reflexão sobre o mercado hoteleiro. “O segmento hoteleiro passou e passa por momentos difíceis. Hoje, a hotelaria brasileira tem tudo para ser o carro chefe na recuperação econômica e precisamos lutar por isso”, acredita.
Para Vailate, é preciso inovar para permanecer. “O mercado está em plena transformação e o hoteleiro precisa abraçar muitas nuances para sobreviver. E isso compreende desde a capacitação de seus colaboradores até o uso de novas ferramentas tecnológicas. “Precisamos estimular o hoteleiro a inovar”, enfatiza.
TURISMO DE LAZER
Já o Presidente da ABIH/Espirito Santo, Gustavo Guimarães, afirma que o turismo corporativo reinou absoluto em Vitória até 2014. “Muitos empreendimentos hoteleiros foram inaugurados de olho nessa demanda”. Esse cenário, porém, foi atropelado pela crise econômica.
Nos últimos anos o mercado hoteleiro de Vitória iniciou um período de renovação puxado pelo turismo de lazer. Em janeiro deste ano alcançou a marca histórica de 78%. “O Lazer é determinante para o turismo capixaba”.
Das grandes redes hoteleiras aos pequenos hotéis independentes de perfil familiar, a ordem da vez é inovar a experiência de hospedagem do cliente.
EXPERIÊNCIA INTEGRATIVA
Nessa toada, o grupo Nobile investe em um novo conceito visual. “O Nobile está inovando também na área de projetos e de implantações. A proposta é oferecer uma experiência mais integrativa nos ambientes do hotel”, explica o Diretor de Projetos e implantações, Michel Otero.
Espaços tradicionais como o Lobby serão repaginados, afirma Otero.“O novo conceito a ser adotado por todas as unidades da rede apresenta um Lobby aberto, sem paredes e vidros, e que integra recepção, área de estar e bar. Os ambientes estimulam as relações entre os hóspedes”.
TRABALHAR COM AMOR
A hotelaria é uma herança familiar e grande paixão da empresária Rosana Ferraz, que administra quatro hotéis em Pouso Alegre, no Sul de Minas. O cenário é de muitas batalhas, diz ela. “95% dos hotéis brasileiros são iguais aos meus, familiares e independentes, e estão em busca da atenção do governo”.
Enquanto anseia por mais políticas que atendam às demandas dos hoteleiros independentes, Rosana também investe na personalização da estadia da clientela. Além de melhorias nas estruturas, o segredo para superar a crise e manter viva a tradição hoteleira familiar é um só, ensina ela: “Trabalhar com amor”.
Rosana Ferraz, hoteleira de Pouso Alegre, Minas Gerais
*O DIÁRIO viajou a Goiânia convidado pela ABIH Nacional