Por Anderson Masetto
Aproximadamente 40 mil voos e capacidade para mais de 7 milhões de passageiros a cada ano. A quarta rota doméstica com maior movimentação do mundo e a maior ocupação média entre as 20 mais movimentadas do planeta. Esta é a Ponte Aérea Rio-São Paulo, que está completando 60 anos neste mês de julho. Protagonista na aviação comercial brasileira, a história dos voos que ligam o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e Congonhas, em São Paulo, ganhou novos e dramáticos capítulos recentemente.
Entre as rotas mais movimentadas do mundo, a Ponte Aérea é que tem o menor número de companhias operando. À época deste levantamento feito pela OAG (2018) eram três: Avianca Brasil, Gol e Latam Brasil (ver quadro abaixo). No entanto, a Avianca Brasil saiu de cena, deixando para trás os cobiçados slots que permitem pousos e decolagens nos dois aeroportos. E a briga por este espolio é grande.
A Azul, terceira maior companhia do País em market share e que atualmente não opera esta rota, foi a primeira a se interessar e fazer uma proposta de compra. Em seguida, Gol e Latam articularam com o Fundo Elliot, maior credor da Avianca Brasil, para a realização de um leilão que dividisse os ativos da companhia em sete. Cada uma se comprometeu a ficar com pelo menos uma das Unidades Produtivas.
Veja quais são as 20 rotas domésticas mais movimentadas do mundo:
CONCORRÊNCIA
Com a Avianca já não operando mais, houve uma diminuição de oferta e, consequentemente, preços maiores. Um levantamento da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp) indica que somente no mês de abril – em comparação com o mesmo período de 2018 – os preços dos bilhetes nesta rota tiveram um salto de 69%. Importantíssima para o corporativo, a ponte-aérea representa 17% de todo o movimento de viagens de negócios no País. Os passageiros de lazer sofreram ainda mais. De acordo com o buscador de viagens Voopter, entre os dias 24 de maio e 4 de junho, os preços desta rota estiveram 86% mais caros do que no mesmo período do ano passado.
POR QUE TODOS QUEREM A PONTE AÉREA?
A rota mais movimentada da América Latina está também entre as mais rentáveis. Embora os números das companhias aéreas não mostrem o desempenho dividido por rota, a alta demanda entre os aeroportos Santos Dumont e Congonhas e a ocupação média superior a 80% demonstra o quanto é vantajoso atuar na Ponte Aérea. Tanto é que mal a Avianca Brasil anunciou a sua recuperação judicial, as demais companhias nacionais já correram para tentar ficar com os slots da companhia nestes dois aeroportos.
A primeira foi a Azul, que fez uma proposta de US$ 105 milhões em março. A ideia era ficar com 70 pares de slots, o que inclui Congonhas e Santos Dumont. Desta forma, a Azul que conta hoje com aproximadamente 12% de participação de mercado e o maior número de decolagens do País, poderia finalmente entrar na rota mais desejada do Brasil.
A investida, no entanto, não deu certo. O Fundo Elliot, maior credor da companhia, propôs o fatiamento da companhia em sete unidades produtivas (UPIs), sendo que Gol e Latam se comprometeram a ficar cada uma com pelo menos uma delas. Isso causou uma guerra generalizada no setor. A Azul deixou a associação que representa as companhias aéreas e acusou Gol e Latam de não quererem a companhia de David Neeleman na Ponte Aérea.
AVIANCA: O QUE ESTÁ EM JOGO
O que todas as companhias querem é ampliar suas participações nesta rota lucrativa e contar com as 81 decolagens de Congonhas e 73 de Santos Dumont que a Avianca operava. Entre elas, horários considerados nobres, como a primeira Ponte Aérea do dia em cada um dos trechos. Historicamente, as companhias que dominam a ponte aérea ganham em market share e em rentabilidade. Atualmente são 302 voos decolando semanalmente do aeroporto de Congonhas com destino ao Santos Dumont. No sentido contrário, são 289 voos por semana. Isso sem a Avianca Brasil, que não está operando desde o dia 24 de maio.
HISTÓRIA
A Ponte Aérea Rio-São Paulo foi criada no dia 5 de julho de 1959. Antes disso, o voo entre Rio de Janeiro e São Paulo já era operado por diversas companhias (desde 1936). No entanto, naquela época Varig, Vasp e Cruzeiro do Sul criaram um consórcio para aproveitar melhor a demanda e batizaram a rota com o nome que ela leva até hoje. A ideia das três companhias era facilitar a vida do passageiro – que embarcaria sempre no próximo voo disponível – e otimizar a ocupação das aeronaves, fazendo frente à Real, que tinha o maior número de frequências na rota.
Comercial da Ponte Aérea:
A TAM Linhas Aéreas, hoje Latam Brasil, ingressou na rota na década de 1990, incluindo mais um equipamento nesta operação, até então operada pelas demais companhias com aeronaves Electra ou Boeing 737. A Tam inseriu o Focker 100, que também ganhou fama voando entre os céus paulista e carioca.
Em fevereiro de 2007 foi a vez da Gol Linhas Aéreas. A companhia passou a utilizar o Boeing 737-800. Aí cabe uma curiosidade. Originalmente, este avião seria muito grande para pousar no Aeroporto Santos Dumont, cuja pista tem 1.350 metros. No entanto, engenheiros da companhia e da fabricante americana desenvolveram, em conjunto, soluções para que o 737-800 fosse adaptado e voasse na rota mais famosa do Brasil.
Hoje, a Gol opera a Ponte Aérea com aeronaves Boeing 737-800, que têm capacidade para 186 passageiros. A Latam Brasil utiliza os Airbus A319, que contam com 144 assentos. A Avianca operava também com Airbus, mas dos modelos A318 e A319. Os A320s raramente pousam no Santos Dumont por conta justamente do tamanho da pista, mas quando aparecem nunca estão totalmente lotados (de carga e passageiros).
A rota já teve aeronaves de diversos modelos, como o Convair, Douglas DC3, Viscount e o mais famoso deles, L-188 Electra, que fez história na Ponte Aérea. Um dos diferenciais era o lounge que possuía na parte de trás. Lá os passageiros podiam sentar e interagir confortavelmente.
Despedida do Electra da rota:
Antes de Avianca, Gol e Latam, a Ponte Aérea já teve outros protagonistas. Na história mais recente, a mais famosa e marcante delas, foi a Varig, mas Vasp, Transbrasil, Real, Cruzeiro e Panair também já operaram nesta rota. A iminente falência da Avianca Brasil abrirá espaço para mais empresas atuarem na Ponte Aérea. Além da Azul, a Passaredo e a Globalia – primeira companhia estrangeira a ganhar autorização para voar em rotas domésticas no Brasil – já demonstraram interesse. Seja após o leilão ou falência da Avianca, a história da rota mais famosa e movimentada do País terá um novo capítulo e ganhará novos personagens em breve.