Quando a FIFA anunciou que o Qatar seria o anfitrião do Mundial de Futebol de 2022, houve uma explosão de alegria por todo o Médio Oriente. É que, pela primeira vez, a grande prova mundial de futebol vai ter lugar na região e num país muçulmano, sendo vista como uma oportunidade para unir o ocidente e o oriente, tantas vezes desavindos, através daquilo que o futebol tem de melhor, a festa que contagia e aproxima adeptos de todo o mundo.
Mas, se o momento foi vivido com euforia, pouco depois começavam as dúvidas. É que o Qatar tem pouca tradição de futebol e ainda por cima é um país que obedece às leis islâmicas, onde, por exemplo, o álcool fica de fora. Como seria possível fazer um Mundial sem álcool? E, pior, com temperaturas que facilmente ultrapassam os 40 graus Celcius?
Mas, o que podia ser problemático, tem vindo a funcionar exatamente ao contrário, ajudando a chamar a atenção e a promover o evento. É que para combater as altas temperaturas, não só foi decidido atrasar o Mundial – que, pela primeira vez, vai ter lugar no inverno, em novembro e de- zembro -, como se partiu para a construção de estádios inovadores, totalmente fechados e com refrigeração, que se destacam por serem amigos do ambiente e sustentáveis. As inovações, aliadas ao design vanguardista, têm chamado à atenção dos adeptos do futebol, que já contam os dias para o pontapé de saída da competição. Já nem o álcool importa, apesar de também para isso se ter encontrado solução. Mas já lá vamos.
Foi sob o pretexto do Mundial’22, e porque a Qatar Airways abriu uma nova rota diária para Lisboa, que um grupo de seis jornalistas portugueses foi convidado pela companhia aérea de bandeira do Qatar a visitar o país, de forma a ver de perto, não só o avanço dos preparativos para a competição, como tudo o mais que o Qatar tem para oferecer. E é bem mais do que se poderia pensar, já que este pequeno emirado do golfo pérsico, com 2,6 milhões de habitantes – a grande maioria estrangeiros, que se mudaram para o Qatar aliciados pelos altos salários e isenção fiscal -, tem uma oferta diversificada, que vai da praia ao turismo de luxo, sem esquecer as aventuras no deserto, a cultura e gastronomia únicas, além de uma vasta história e uma hospitalidade difícil de igualar.
Venha com o Publituris descobrir o emirado do Qatar, um país moderno, longe da imagem fechada que, muitas vezes, é passada no ocidente e que se prepara para receber o mundo na maior prova de futebol do planeta.
Legado do futebol
Chegamos a Doha a 24 de junho, a bordo do voo inaugural da Qatar Ai- rways, que passou a ligar Lisboa à capital do país. E assim que saímos do avião, percebemos que estávamos, de fato, no Qatar, é que o termômetro marcava 45 graus e a umidade ultrapassava os 90%. Não precisei de mais explicações para perceber porque é que o Mundial’22 vai ser no inverno.
O trajeto entre o Aeroporto Internacional de Hamad – assim batizado em homenagem ao anterior emir do Qatar e pai do atual – e o Mondrian Doha Hotel, a unidade de cinco estrelas que nos acolheu, foi curto, mas deu para confirmar uma das ideias que tinha sobre a cidade: Doha é formada por uma sucessão de arranha-céus e edifícios modernos, que se impõem na paisagem, como é, aliás, comum também nos outros emirados do golfo pérsico, onde a riqueza do petróleo e gás natural tem levado ao desenvolvimento de infraestruturas impressionantes.
Mas a aventura em terras qataris só começou a sério no dia seguinte e a primeira paragem foi o Legacy Pavillion, um museu criado pela FIFA, que explica o percurso do Qatar no futebol – para quem achava que o país não tinha tradição na modalidade -, assim como o caminho até ao Mundial’22, o segundo organizado na Ásia.
O museu é interessante e merece uma visita, já que recorre a tecnologia que o torna interativo e, por isso, mais apelativo para os visitantes.
Mas a parte que merece maior destaque é a que apresenta os estádios do Mundial’22 e onde ficamos a saber que, das oito infraestruturas – a maior com 80 mil lugares e que vai receber os jogos de abertura e final da competição -, apenas uma vai ficar para a posteridade, já que, entre outras inovações, como ar condicionado e painéis solares, os estádios foram construídos por módulos, o que permite a sua desmontagem após a competição.
Além dos estádios, o Qatar está a desenvolver uma nova linha de metro e outra de comboio, bem como a construir 100 quilômetros de novas estra das, para que não existam entraves na mobilidade dos adeptos. Já para acolher os entusiastas do futebol, vão estar disponíveis oito mil quartos de hotel, vários navios de cruzeiro e até acampamentos no deserto.
Mais sensível tem sido a questão do álcool, cujo consumo apenas é permitido em hotéis de quatro e cinco estrelas e unicamente por estrangeiros, pois os muçulmanos estão proibidos de consumir álcool pela lei islâmica. E o Qatar leva estas restrições muito a sério. Mas, ao que parece, vai ser aberta uma exceção para o Mundial’22, já que o consumo deverá ser permitido nos locais destinados aos adeptos, as ‘fan zones’. A má notícia é que ninguém poderá sair destes recintos alcoolizado, de forma a não ofender os costumes locais. Por isso, quem passar das marcas, deve preparar-se para ficar retido algumas horas nestes locais.
Da Mesopotânia aos dias atuais
O futebol esteve em evidência durante a viagem, mas esteve longe de dominar, já que houve tempo para descobrir também a história do país. E foi justamente por isso que a visita seguinte foi ao Museu Nacional do Qatar, outro edifício impressionante.
Aberto apenas desde março, foi desenhado pelo arquiteto vencedor de um Pritzker Jean Nouvel e foi buscar inspiração à ‘rosa do deserto’. Lá dentro, a história do país está em evidência, num relato que começa há mais de 50 mil anos, no início da ocupação humana da península do Qatar, e que abrange também o período da Mesopotâmia, cuja origem se encontra nesta região do Médio Oriente.
Mas a parte mais interessante do museu talvez seja a história mais recente do país e a comparação que é possível fazer entre a realidade do Qatar no início do século XX, quando ainda era um protetorado britânico – estatuto que apresentou até à independência, em 1971 – e se dedicava à extração de pérolas e à pesca, e o país atual, dono da terceira maior reserva do mundo de gás natural e outro tanto de petróleo, e onde a modernidade domina.
Não foi assim há tanto tempo, mas a diferença é abismal. E foi também isso que pudemos comprovar à noite, num cruzeiro noturno pelas águas do golfo pérsico, realizado a bordo de um típico barco local, o dhow, e que teve início junto ao moderno Museu de Arte Islâmica de Doha, outro exuberante edifício, neste caso da autoria do arquiteto de origem chinesa I. M. Pei e que se localiza num dos extremos da avenida Cornish, a maior do país, que se estende por sete quilômetros ao longo da costa de Doha. O museu ocupa 45 mil metros quadrados, está instalado numa ilha e acolhe mais de 800 peças que retratam o islão, a religião dominante no país e em toda a região do golfe pérsico.
Durante o relaxante passeio, que permite apreciar as luzes coloridas dos arranha-céus refletidas na água do golfo, tivemos ainda oportunidade de visitar a Pearl, uma ilha artificial que é o símbolo extremo do luxo no Qatar e onde o preço do metro quadrado é dos mais elevados do mundo. É o único local no Qatar onde os estrangeiros podem adquirir residência e abriga também galerias comerciais de luxo, hotéis, quatro marinas e diversos restaurantes, além de um sem fim de facilidades de lazer. Vale a pena a visita, já que funciona como uma cidade, dentro da cidade de Doha.
Artesanato e deserto
Apesar da modernidade que o país respira, ainda há locais que permanecem inalterados, quase como se os séculos não tivessem passado por eles. É o caso do Souq Waqif, um mercado no centro de Doha, que data do século XVIII e que foi recuperado em 2006, mantendo-se, no entanto, fiel à arquitetura qatari. É o melhor local para adquirir souvenirs, já que tem de tudo um pouco, de especiarias a artesanato, passando pelas roupas típicas e pelos melhores petiscos, pois inclui diversos restaurantes e bares de shisha.
Visitamos o Souq Waqif na manhã do segundo dia, mas mesmo assim eram poucos os clientes que circulavam pelo recinto, já que o calor abrasador faz-se sentir desde cedo. Ainda assim, percebemos que as maravi lhas do ar condicionado – do qual os qataris são reféns, assim como qualquer turista que visite o país no verão – eram dispensáveis na época em que o mercado nasceu, já que a arquitetura do espaço contribui para que a temperatura nas ruas cobertas seja bastante agradável. Difícil é suportar o calor das zonas abertas, onde o sol não perdoa.
Já que estávamos pelo mercado, decidimos experimentar o típico pequeno-almoço árabe, que garante energia toda a manhã e onde não faltam azeitonas, queijo e pão árabe. Coincidência das coincidências, acabamos num dos hotéis boutique que a Tivoli Hotels & Resorts abriu no país, o Al Mirqab Boutique Hotel. O mundo é mesmo pequenino.
Depois do Souq Waqif, seguimos para uma das atividades que mais me entusiasmaram: um safari no deserto. O percurso foi feito em veículos 4X4 da Discover Qatar, com o receptivo da Qatar Airways, ar condicionado incluído, e demorou cerca de uma hora. Mas assim que deixamos Doha notamos a diferença na paisagem, já que grande parte dos 160 quilômetros da península do Qatar são uma planície árida, coberta de areia. Talvez por isso se perceba porque é que o Orix é um animal tão adorado, sendo um dos símbolos do país. É que este animal consegue encontrar água onde ela parece não existir, algo fundamental num território desértico, principalmente no passado, quando a água canalizada era uma miragem.
Foi essa a paisagem que encontramos ao longo de quase toda a viagem, até chegarmos a uma área de serviço improvisada, onde os pneus dos veículos todo-o-terreno foram esvaziados e travamos conhecimento com os camelos, dromedários e falcões que ali estão a animar os turistas.
A paragem foi curta e, a partir daí, fomos tomados pela adrenalina, pois as dunas no deserto do Qatar são imponentes – chegam a atingir 40 metros de altura – e descê-las de todo-o-terreno é uma emoção. Ao longo do caminho, encontramos acampamentos e lagos diversos, que se formam por infiltração do mar, que fica ali ao lado e permite ver a Arábia Saudita do outro lado. Foi a primeira vez que estive num deserto com praia e adorei, já que as águas do golfo são quentes e cristalinas, convidando-nos a um mergulho. Infelizmente, não aconteceu, talvez fique para 2022, quando o mundo do futebol rumar ao Qatar.
* A jornalista viajou a convite da Qatar Airways
Fonte: Presstur