Por Zaqueu Rodrigues ( Texto e foto)
“Se alguma empresa do mercado de turismo for preconceituosa, me comuniquem que eu irei compartilhar o nome dela nas redes sociais da Abav”, prometeu a presidente da Abav Nacional Magda Nassar em sua participação no painel Inclusão e Transversalidade, encontro que foi destaque da Vila do Saber neste segundo dia da 47ª Abav Expo Internacional de Turismo, maior feira de turismo da América Latina que aconteceu de 25 a 27 de setembro no Expo Center Norte, em São Paulo.
Na pauta do encontro, que reuniu a jornalista Sylvia Barreto, a diretora do Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro Wescla Vasconcelos e o CEO da agência Diáspora.black Carlos Humberto, estava a inclusão e os novos tempos do turismo brasileiro. A conversa realizada na Arena Gestão expôs alguns dos maiores desafios do trade para dar conta da diversidade de pessoas.
Magda abriu o Painel apontando que o “Brasil está numa retomada galopante do preconceito” e reforçou que “precisamos impedir isso”. “Eu já tinha dito na cerimônia de abertura que esta edição da Abav é de todos as formas de amor”, lembrou ela, cobrando uma participação ativa de toda a cadeia do turismo para se adaptar aos novos tempos e acolher todos os perfis de públicos.
Em comum, os participantes do Painel tinham uma grande familiaridade com o turismo considerado de nicho, que, na maioria das vezes, não é devidamente acolhido pelo trade. Para Carlos Humberto, fundador e CEO da agência Diáspora.black, trabalhar com turismo é trabalhar com sonhos. E apontou: “Às vezes, o mercado não consegue acolher todos os sonhos”.
Já Sylvia Barreto, jornalista e fundadora da revista online Viajar é Simples, relatou que os serviços precisam respeitar as características do viajante para evitar apuros como os quais diz ter sofrido durante as viagens por ser gorda. “Muitos destinos, principalmente os de aventura, não estão preparados para nos acolher. A tirolesa é exemplo clássico. A maioria tem o limite de 100kg. Eu peso 110kg. Em outras ocasiões são os equipamentos que não nos servem”.
Sylvia afirmou ser muito importante o tema ganhar espaço nesta edição da Abav. Durante a conversa, ela apresentou alguns problemas clássicos dos gordos ao viajar. “Poltronas apertas dos aviões e banheiros apertados dos navios em cruzeiros são recorrentes. ”
Há muitos problemas, prosseguiu Sylvia, que podem ser evitados pelo agente de viagem. “O agente precisa estar preparado e antecipar alguns percalços que a cliente poderá encontrar no destino escolhido. O agente precisa ser verdadeiro e mostrar alguns aspectos que poderão representar um obstáculo ou incômodo ao viajante”.
Magda Nassar foi direta ao falar sobre o despreparo de muitas empresas para atender clientes LGBT+. “Quem não sabe atender esse consumidor está perdendo muito dinheiro, pois esse nicho movimenta 3 trilhões de dólares por ano. Não podemos nos esquecer que a parada LGBT+ de São Paulo gera mais retorno do que a Fórmula 1”, dimensionou ela.
Carlos ressaltou que o Brasil ainda é um país machista, racista, homofóbico e gordofóbico. E, na maioria dos casos, desconhece a própria história. Como exemplo, ele citou o bairro da Liberdade, no centro de São Paulo. “Quem aqui sabe a origem do nome do bairro?”, questionou ele à plateia. E completou: “O bairro da Liberdade é um dos principais símbolos da resistência negra de São Paulo. E poucas pessoas sabem disso”.
Para ilustrar a dificuldade de o mercado acolher a diversidade, Carlos relatou uma história verídica transcorrida num hotel luxuoso. “Uma criança negra entrou na piscina e as demais crianças, todas brancas, saíram imediatamente. O hotel, despreparado, não soube o que fazer diante da situação”. E alertou: “Isso acontece porque o mercado insiste em adotar um único padrão, o europeu”.
A transexual Wescla ressaltou que o começo de tudo é oferecer respeito nos serviços. “É simples e, ao mesmo tempo, um desafio muito grandioso. O hotel e a operadora devem adotar o nome social da cliente e deixar em sigilo o nome civil caso ele não tenha sido alterado”, ensinou ela, ressaltando que ainda há uma grande dificuldade do trade para empregar pessoas LGBT+ e mudar o padrão de mentalidade.
Outro ponto abordado na conversa foi a capacitação dos profissionais do trade para acolher a diversidade de clientes. “Pode começar pela contratação de pessoas trans, negras, gordas…”, sinalizou Wescla, que foi completada por Carlos. “Não adianta a empresa contratar e manter o mesmo pensamento preconceituoso. É preciso mudar o padrão e investir em capacitação para que haja realmente a inclusão ”.
A inclusão passa pela acessibilidade, disse Magda, destacando o trabalho para que esta edição da Abav Expo fosse plural. “No cadastro de inscrição no site da feira, criamos um espaço para identificar as necessidades dos visitantes, suas deficiências e limitações de mobilidade. Nessa edição, colocamos 20 carrinhos elétricos para que as pessoas com mobilidade reduzida pudessem transitar pela feira sem encontrar barreiras. Os nossos recepcionistas são pessoas com Síndrome de Down, da APAE. Para termos inclusão, precisamos olhar para o melhor e, sobretudo, ser melhores”, finalizou Magda.
Fonte: Diário do Turismo/Media partner do Portal Turismo Total