2019 promete ser um ano de mudanças no turismo brasileiro e quem o diz é Gilson Machado Neto, atual presidente da Embratur, que esteve recentemente em Lisboa e com quem o Publituris aproveitou para conversar. “Não tenho dúvidas de que 2019 será um grande ano, um ano de mudança no Brasil”, começou por afirmar o responsável, dando como exemplo o discurso do Presidente Bolsonaro na ONU que, pela primeira vez, colocou o turismo em destaque. “Nunca, na história do Brasil, um Presidente da República deu o protagonismo que o turismo merece”, lembrou o presidente da Embratur, considerando que este está a ser “um ano de radicais mudanças no turismo brasileiro e mudanças para melhor”.
Uma das primeiras mudanças foi na imagem da própria Embratur, que ganhou a nova marca “Brazil, love and visit us”, passou a usar as cores da bandeira do Brasil e cujo “feedback está a ser excelente”, revelou o responsável, que aponta também melhorias ao nível dos índices de segurança no país e no ambiente de negócios para o turismo. “Os nossos índices de segurança já diminuíram em 25% a criminalidade e o ambiente de negócios para o turismo – tanto para investimento como para o turista – está cada vez melhor e mais otimista”, acrescentou Gilson Machado Neto, que faz um balanço positivo dos primeiros meses de mandato e traça a meta de 18 milhões de turistas, até 2022, o triplo do total de turistas internacionais que o Brasil recebe anualmente. “Se conseguirmos implementar as mudanças ambiciosas que temos e que já começamos a adotar, garanto que conseguimos triplicar a quantidade de turistas”, reiterou o presidente da Embratur, sublinhando que Portugal e Espanha são exemplos a seguir nesta matéria. “Comparo a história que vamos ter no Brasil, daqui a dois ou três anos, ao que era Portugal antes do turismo virar uma política de Estado e aquilo que é, hoje, a realidade do turismo em Portugal. Espelhamo-nos muito em Portugal e também em Espanha”, admitiu o responsável, considerando que “o Brasil tem tudo para explodir nos próximos quatro anos e triplicar o número de turistas, que, hoje, é muito baixo, de apenas seis milhões”.
Importante para esse objetivo será também a transformação da Embratur em agência de promoção, mudança de estatuto que se vem arrastando há cerca de dois anos, mas que, de acordo com Gilson Machado Neto, está prestes a entrar em vigor. “Dia 6 de novembro, a Embratur será transformada pelo Presidente Bolsonaro, que sabe o protagonismo que o turismo merece. Passa a ser agência de promoção”, revelou.
Vistos e casinos
Uma das primeiras medidas que o Brasil adotou já no mandato de Gilson Machado Neto foi a liberalização de vistos para turistas americanos, canadianos, japoneses e australianos, o que permitiu já aumentar em 230% o número de visitantes destas nacionalidades no país. E a liberalização de vistos deverá continuar, com o responsável a explicar que o Brasil pretende também facilitar a entrada de turistas provenientes dos chamados Tigres Asiáticos, nomeadamente China, Índia, Singapura, Indonésia e Vietname, assim como eliminar “todas as barreiras no trânsito de pessoas e turistas entre o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai”, a região do Mercosul, num projeto que une os responsáveis dos quatro países e que, segundo o presidente da Embratur, pretende “que se abram os céus como acontece na Europa” e que abrange também a parte rodoviária, porque “o turismo rodoviário também é muito importante na América do Sul”.
Importante para estimular o turismo será também um outro projeto que a Embratur pretende implementar e que passa por fomentar a criação de “clusters de resorts, com casino, hotel e centro de convenções”. “A localização desses projetos será decidida pelo empresário que vai investir, aquilo que vamos fazer é liberalizar, é por isso que estamos a lutar junto ao Congresso. Sou apenas a pessoa que estimula, não posso fazer isso sozinho. Mas, penso que vamos ter um grande crescimento econômico, a exemplo de Macau”, explicou, revelando que esteve em Macau há pouco tempo e percebeu que “Macau recebe mais turistas que o Brasil, não são poucos mais turistas, são quase 10 vezes mais que o Brasil. E Macau tem o tamanho de um bairro de Brasília, a Asa Norte, por exemplo”, referiu.
Além destes projetos, o Brasil pretende lançar ainda um programa para “estimular o turismo da terceira idade”, revelou Gilson Machado Neto, explicando que o objetivo é “trazer esse estímulo, deixando essas pessoas viajarem com acompanhante, com preços com desconto”. “Vamos fazer um programa nesse sentido com a Argentina e o Paraguai, vamos formalizar esse programa agora no final do mês de novembro e poderá entrar em vigor logo imediatamente quando for assinado”, acrescentou.
Cruzeiros e ecoturismo
Além da flexibilização de vistos, o Brasil pretende também alterar as leis que regulam a atividade de cruzeiros, segmento que chegou a levar mais de 800 mil turistas ao Brasil, mas que, hoje, não vai além dos 300 mil. “Temos um projeto também para equiparar as leis internacionais que regulam os cruzeiros marítimos no Brasil, porque, hoje, infelizmente temos muito poucos navios de cruzeiro devido às nossas leis, que criam um ambiente desfavorável para os empresários e operadores de cruzeiros”, explicou Gilson Machado Neto, revelando que a Embratur está em conversações com o Congresso brasileiro nesta matéria, “para que o Brasil seja também regido por uma lei internacional nos cruzeiros”.
Mas os cruzeiros não são a única aposta no que diz respeito ao turismo náutico, já que, acrescentou o responsável, a Embratur tem também um projeto para “afundar mais de 1.200 recifes artificiais”, o que vai ajudar a tornar o país no “destino número um do mundo para mergulho, pesca desportiva e turismo náutico”. “Temos águas límpidas e quentes 365 dias por ano, não temos furacões, não temos terramotos, nem maremotos e temos a maior vocação do mundo para turismo náutico, porque temos oito mil quilômetros de costa”, acrescentou.
E inegável é também o potencial do Brasil para o ecoturismo, ou não fosse um dos países do mundo com maior percentagem de florestas intocadas e com maior potencial de recursos naturais do mundo. “Somos o único país que tem seis biomas – a Amazónia, a Mata Atlântica, a Catinga, o Cerrado, o Pantanal e os Pampas. Temos tudo para a prática do ecoturismo, desde o mergulho de contemplação, a atividades náuticas, ecoturismo em rios – temos mais de 40 mil quilómetros de margens de rio navegáveis e com águas limpas – pesca desportiva, trilhos, rafting. Ou seja, o que o turista quiser, nós temos”, afirmou Gilson Machado Neto (foto).
A propósito da Amazónia, o presidente da Embratur aproveitou para desmentir muita da informação que circulou nas redes sociais quando os incêndios na Amazónia ganharam projeção mundial e acusar o presidente da França, Emmanuel Macron, de querer prejudicar o Brasil ao partilhar informação falsa. “Claro que isto pode afetar a imagem do Brasil, mas estamos a fazer deste limão uma limonada”, acrescentou o responsável, revelando que, devido à troca de acusações entre Brasil e França, a Amazónia está a despertar a atenção, de tal forma que, hoje, “todo o mundo está interessado na Amazónia”, o que deverá contribuir para aumentar o número de turistas internacionais que visitam o país.
Portugal
Apesar dos diversos projetos em curso, Gilson Machado Neto garante que a Embratur não vai descurar o mercado português, que é o 10.º mercado internacional mais importante no Brasil, apesar de ter vindo a descer ao longo dos últimos anos. “Os portugueses estão em 10.º lugar no ranking de mercados internacionais e, infelizmente, o número tem diminuído. Recebíamos 300 mil portugueses e, hoje, recebemos 150 mil, mas isso não é nada que não possamos reverter, porque vimos de um período negro no nosso país, onde a corrupção imperou”, explicou o responsável, considerando que as mudanças na Embratur vão ajudar a recuperar também o mercado português. “Vamos mudar o foco da Embratur. Antes, o Brasil era caipirinha, tanga e favela, se tivesse dado certo não tínhamos continuado com seis milhões de turistas durante mais de 10 anos. Apesar de termos tido um Mundial de Futebol e Jogos Olímpicos, não tivemos incremento nenhum”, acrescentou, defendendo que as mudanças na Embratur vão permitir aumentar também o número de turistas portugueses. “Estamos a focar-nos nas belezas naturais e no ecoturismo e não tenho dúvidas que vamos começar a aumentar o número de portugueses no próximo ano. A nossa meta é, até 2020, pelo menos, dobrar o número de portugueses para que o Brasil volte a ter a quantidade anterior de portugueses”, garantiu.
De acordo com Gilson Machado Neto, os grupos portugueses também estão a voltar a investir no Brasil, a exemplo da Vila Galé, que conta com três novos projetos no Brasil, concretamente na Bahia, em Alagoas e no Rio Grande do Norte, projetos que, acredita o responsável, vão “ajudar a aumentar muito a ida de portugueses ao Brasil”, enquanto a TAP continua a ser “a maior protagonista nas ligações entre o Nordeste do Brasil e a Europa”. Já a euroAtlantic airways é, segundo Gilson Machado Neto, “uma das novas companhias que estão querendo entrar no mercado”.
Além de Portugal, Gilson Machado Neto diz que as expetativas da Embratur para o turismo brasileiro em 2020 são “as melhores possíveis”, até porque, se a política para o Mercosul for aprovada, o Brasil deverá “mais do que dobrar a quantidade de turistas internacionais”, aproximando-se do objetivo traçado para 2022, de chegar aos 18 milhões de turistas.
Fonte: Publituris/PT